domingo, 26 de junho de 2022

Gozo Seco

Orgasmo seco.
Como o baque de alguma droga.
Sem amor, sem calor, sem sentido.
Nem pequenos prazeres carnais,
Nem um roçar de uma mão na genitália,
Nem um ato que, teoricamente, me faria sentir vivo,
Nem isso tem mais sentido.

A dor, vem junto, de qualquer forma;
Ao buscar experiências mentalmente, novamente, momentos de prazer com alguém,
Lembro da perda.
Do final, e não do momento.
Deslizo pela garganta do ressentimento.
Quente.
Quase queimando.

Poderia só ter dormido.
Poderia só estar dormindo agora.
Mas a necessidade de sofrer é gritante,
E grita, pela mesma garganta de ressentimento,
Mantendo um círculo vicioso,
Que muitos chamam de refluxo.

O "dia" só começou,
E a dor também.

-M. Cintra
07/01/2020
00h07

sábado, 25 de junho de 2022

Olhos Famintos

Meus olhos estão famintos.
Comeriam uma montanha inteira, se fosse bela.
Se para mim, fizesse sentido.
Eles sempre estiveram famintos desde a primeira vez que se abriram fora do utero da minha mãe.
Mas antes, sua fome era saciada facilmente, com carinho, novas experiências e perspectivas de futuro; ou fé, se assim preferir chamar.

Hoje, estes mesmos olhos estão acordados.
Ainda acordados.
E todas as pequenas coisas que saciavam sua fome,
Já não saciam mais.
Ja não fazem mais sentido.

Busquei os extremos mais altos e baixos.
De automutilação a cocaína.
De abuso de remédios a excesso de trabalho.
De sangue pingando na pia a lágrimas escorrendo pelo rosto.
Da total paralisia a intensa movimentação.

Preciso encontra alimento para os meus olhos.
Saciar essa fome e enxergar novamente.
É difícil matar essa fome dos olhos, quando não se consegue enxergar o alimento.
Hoje eles estão famintos e cegos.

-M. Cintra
06/01/2020

sexta-feira, 24 de junho de 2022

Terapia I

Mais uma ida a terapia.
Tudo exposto alí, em uma sessão.
Saio de lá e, no mesmo quarteirão,
Volto para minha utopia.

Cuspo na pia, olho meu reflexo,
Abomino o que eu vejo e planejo a morte.
Mas os planos fracassam, não tenho sorte.
Continuo aqui, mas desconexo.

Minha veia lateja,
Mas o que me para não é o medo.
O que me para é ir tão cedo,
Sem tomar nem uma cerveja...

Por hora, me sobram cartelas vazias.
Depakote, Gardenal, Pinazam, Rivotril...
Todas mostrando um futuro senil,
E agora, um presente sem vidas.

Inerte.
Espírito, mente e corpo adormecidos.
Submerso.
Buscando rumo em todos os sentidos.

Em todas as direções,
Amores,
Dores,
E todas as decepções.

quinta-feira, 23 de junho de 2022

Um cavalo chamado Solidão

Correndo a trotes tempetuosos,
Vaga sem rumo este cavalo.
Procurando, desesperadamente,
Fugir de sua existência, seu fardo.

Completamente indomável.
É coberto por espinhos, tornando-o intocável.
A olhos nus e despidos, é abominável.
Correndo sempre em direção ao inalcançável.

Boca e língua secas,
Tão secas que é impossível engolir.
Músculos que já sustentaram demais,
E estão prestes a sucumbir.

Está sempre a procura de alguém para doma-lo.
Mesmo com a certeza absoluta que é em vão.
Isto pois nunca vão ensina-lo,
Que seu nome é Solidão.

Para quem corre sempre livre,
É uma existência agonizante.
Uma busca sem fim,
Que se perde no horizonte.

Sempre será sozinho.
Sempre buscará companhia.
Sempre uma tentativa falha.
Sempre uma ironia.

-M. Cintra
05/01/2020

quarta-feira, 22 de junho de 2022

Palpitação

Chocam-se placas tectônicas emocionais,
Em um frenesi de intensidade.
Desesperos em fora de crateras,
Tomam conta de toda a cidade.

Construções vem a baixo.
Desesperança iminente.
Tudo se torna um grande calvário,
De um grande ser impotente.

E pensar que o desastre é vital...
Que sem ele, nem estaria escrevendo.
Pois para o coração, afinal,
Só é importante continuar batendo.

Batendo. Batendo. Batendo.
Como se tivesse vontade própria ou consciência.
E eu cá, escrevendo. Escrevendo.
Para de alguma forma preencher minha existência.

Paliativo. Como a tinta no papel e o tempo.
Invariavelmente,
Vai chegar ao fim.
Consciente, ou inconscientemente.

-M. Cintra
05/01/2020

terça-feira, 21 de junho de 2022

A espera do futuro

Apatia.
De novo e ainda, apatia.
Lapsos de luz e micromomentos de felicidade,
Se tornam cada vez mais sem propósito,
Pois crio consciência de seu fim.

Passam-se segundos, horas, anos, décadas, séculos,
Até que este lapso venha a tona novamente.
Conforme o tempo passa,
Menos brilhante fica a luz,
E as microfelicidades passam a ser cada vez mais micro.

Micro no futuro, com meu estilingue armado com pipoca doce,
Mas tudo que vejo é a morte de cada momento do presente.
Momentos guerreiros, mortos brutalmente em uma guerra em que eles não escolheram participar.

Isto, pois, cada passo que dou em direção ao futuro,
Chego em um novo presente.
O futuro não existe.
Só existe na minha mente.

04/01/2020

segunda-feira, 20 de junho de 2022

Chuva Coletiva

Agora, enquanto escrevo, cai uma chuva torrencial.
Não demora, e percebo que não é especial.
Percebo que não é exclusiva.
Apesar de se igualar ao meu pesar,
Ela também afugenta todos os seres vivos.
Também os irrita.
Também se torna única para cada um.

Estou cá escrevendo, colocando - ou pelo menos tentando - criar linhas retas e concisas no papel.
Momentos atrás estava lá sofrendo, colocando - sem qualquer margem de erro - linhas ensandecidas, profundas ou abstratas em meu braço.
No chuveiro, com a pele ardendo e toda aquela água escorrendo, eu chorei.
Chorei como há muito tempo não chorava.
As lágrimas se misturaram com a água do encanamento, com o suor, com saliva, com sangue e, finalmente, com o ralo.
E tudo desceu, como se nada tivesse acontecido.

Quanta tolice da minha parte. Pensar que essa chuva fortíssima - que já parou - era para combinar com o estado que estou. Quanto egocentrismo. Patético.
O mundo vai agir, vai pensar, vai chorar, matar e vomitar, com ou sem meu consentimento.
Já parou de chover. Chuva de verão...
Já sinto falta da chuva.

-M. Cintra
02/01/2020

domingo, 19 de junho de 2022

Ano Novo - 2019-2020

O ano terminou! Uma nova década se inicia. Uma década, já velha, chega ao final. Zeram-se a contagem dos dias, meses e dores, pois o ano terminou!
Como é falha a nossa existência.
Nos contentamos com uma conformista tentativa de controlar o incontrolável e contar o incontável.
Pensamos que tudo vai mudar, pois o relógio dos homens de terno zeraram.
Cremos nisso.
Criamos muita fé nisso.
E talvez seja nestas tentativas desesperadas de aliviar o fardo de existir, nessas fés falsas criadas por nós mesmos, que mais nos decepcionamos e machucamos.
Então, perdemos a fé por completo.
Não a fé no tempo, que estava falando;
O sentimento de fé em si.

Até que deixamos de enxergar as pequenas e únicas belezas do existir.
Até que a esperança morre.
Até que deixamos e gostar de nós mesmos.
Até que deixamos gostar de viver.
Até que, passamos a ter que nos esforçar para sobreviver.
Até que a vontade de deitar num caixão seja maior que tudo.
Até que tudo perca o sentido.

A fé é uma Fênix.
Cada um deve assumir o controle da sua.

-M. Cintra
01/01/2020

sábado, 18 de junho de 2022

Alheio

Explodem os fogos de artifício.
Junto com eles, explodo em mil pedacinhos brilhantes, que somem em uma ilusão de ótica.
Risadas, cumprimentos, felicitações...
Cantos, goles e encantos...
Tudo isso alheio de mim.

Estive em coma durante todo o ano.
Talvez mais tempo.
Estive submerso no inconsciente,
Estive presente e me mantive ótimo observador.
Assim, vi as máscaras.
Vi toda essa sujeira que chamam de amor incondicional.
Viví entre a poeira sentindo a dor da impotência emocional.

Agora, tudo que vejo quando olho pra mim,
É um mossaico surrealista,
Que sempre dá margem para interpretação.
Venho tentando interpretar um papel de herói,
Mas talvez minha alma seja de vilão.

Sentir essa dor,
E ter consciência de que estava em coma,
Só pode significar duas coisas:
Que acordei,
Ou morri.

-M. Cintra 
01/01/2020
2h00 am

sexta-feira, 17 de junho de 2022

Estou Melhor

Me disseram que estou "melhorando".
Ah, como feições e expressões fazem a diferença.
Mesmo credo que tudo é uma questão de perspectiva,
E que cada pessoa é um universo que vê e presencia coisas diferentes,
E que mais que isso, sente coisas em intensidade e modo, diferentes,
Mesmo realmente crendo em tudo isso,
Consigo moldar o eu que aparece para cada um.

Estou melhorando?
Talvez, em todo este pouco tempo de existência, dor e solidão,
A única coisa que tenho melhorado,
É meu arsenal de máscaras expressivas e impenetráveis,
Que me salvam, momento a momento, de parecer patético.
E de mostrar como não sei viver.

Ainda não estou melhorando.
Não estou nem perto de melhorar.
Maa talvez haja sentido em estar embaixo da terra:
Estou germinando, criando raízes e crescendo.
Mas ainsa estou embaixo da terra e das solas dos sapatos dos cidadãos bem vestidos.

Quando um milímetro de caule aparecer por sob a terra,
Estarei melhorando.
Hoje o que me cabe, é me esconder e aceitar minha condição.
Então que assim seja.
Não estou melhorando.

-M. Cintra
30/12/2019

quinta-feira, 16 de junho de 2022

Todos Acordam

Abro meus olhos, volto para o campo da consciência, me levanto.
Junto comigo, meus demônios acordam.
As costas, aos poucos, começa a se curvar. Os músculos começam a ficar cansados;
E o coração se desespera com o acontecido e sinto uma dor no peito, impossível de narrar liricamente.

Me castigo, fumo um maço de cigarro, bebo um litro de conhaque e tomo remédios para dormir.
Tudo para tentar prorrogar o estado de inconsciência.
Para tentar calar os demônios.
Para tentar fazer o peso nas costas ficar menor e para descontrair os músculos;
Para, aos poucos, em uma tentativa falha e covarde, afogar meu próprio coração.

Venho bebendo muito da fonte da melancolia.
O que será que é ter vontade de estar acordado?
O que será que é ter vontade de viver?
Qual gosto o cheiro tem?
Como é?
Hoje não sei.
Espero ficar acordado por tempo suficiente para descobrir.

-M. Cintra
28/12/2019

quarta-feira, 15 de junho de 2022

Profissão Poeta

Me perguntaram se trabalho com poesia.
Minha alma escrita a mão, ficou aberta na escrivaninha.
Respondi que gostaria, mas não trabalho.
Atalho curto, voltei em um Palio, anseando mais um talho.
Olha, o poeta falando... rimando...
Nem parece que não trabalho com poesia.

Expor minhas questões sobre toda essa mediocridade que chamam de viver, também é uma forma de me manter vivo. Também é um paradoxo. Também é poesia.
Tentar, incansavelmente, encontrar motivos para continuar.
Mesmo que através da dor, do sangue e da forma vil de pensar e sentir. Através da intensidade; da inescrupulosa auto covardia. Através do ódio por sempre ser esquisito e ridículo. Através da máscara que contém um sorriso, há muito tempo pendurada na parede.
Através da arte.
Através de cortinas de plástico, de um banheiro de hotel, com sangue escorrendo pelos braços. - Santo Estilete.
É um sangue denso, pois está misturado com as lágrimas que eu, neste momento, não consigo fazer sair pelos olhos.

Não, não trabalho com poesia.
Talvez nestes tempos, se trabalhasse, deixaria de ser poesia.
Hoje, minha escrita é minha própria salvação.
Hoje não escrevo nem escrevi poesia.
Hoje me senti poeta,
E isso bastou.

-M. Cintra
28/12/2019

terça-feira, 14 de junho de 2022

Momento

Existem sentimentos no ser humano, fora de explicação.
A lógica desiste de se fazer entender.
Vômitos espessos, carne exposta após um corte, um sorriso inocente ao olhar para um pássaro.
Tudo passa.
Naquele instante, a determinação em ver beleza e ser feliz, ganha prioridade sob qualquer coisa.

Mas então olhamos no relógio.
Voltamos para a máquina, para a rotina.
Tentamos controlar o incontrolável, calcular o incalculável, gostamos de nos dizermos donos do tempo.

O pássaro voou.
Tento procula-lo, em meio ao caos cinza e a atmosfera de morte que construímos. Tento achar aquela vida.
Em vão.
Ela se foi, junto com o momento que tão pouco durou.
Junto com o pássaro.

Prometo aproveitar mais esses momentos.
Pois é como Caieiro disse:
"Viver é estar distraído".
E estar distraído é viver o momento.

-M. Cintra
24/12/2019

domingo, 12 de junho de 2022

Amor

Essa coisa que chamam de amor,
Pode ser congelante.
Inevitavelmente pela dor,
E quando passa é aterrorizante.

Sempre vestindo preto,
Se camuflando na escuridão,
Se transforma,
E aparece no formato de solidão.

Isso, pois se sente só.
Se agarra a quem o sente,
Até virar pó.
Só morre quando o corpo está consciente.

É preciso abraça-lo.
Dedicar aos outros seu potencial.
Todo esse grande balaio,
Vira um começo sem final.

Que o amor vire um ciclo.
Que volte a usar vermelho.
Que não seja mais de vidro.
Que eu o veja no espelho.

-M. Cintra
21/12/2019

sábado, 11 de junho de 2022

Bong

Sozinho em uma casa de vidro,
Com fumaça por todo lado.
Não vejo mais o amanhecer,
Pois está tudo ofuscado.

A visão, coordenação, coração,
Estão confusos com este furacão.
Tudo de vidro e são muitas paredes,
Impedindo qualquer locomoção.

Eu fodi com tudo e perdi o controle.
Fumando cigarros para abrir um buraco,
No peito, na alma, no pulmão, na mente,
Mesmo esconderijo raro, onde guardo os cortes no braço.

A chuva hoje me é suficiente.
Se equivale a minha medíocre existência.
Mas se amanhã, o sol vier radiantemente,
Há esperança de uma nova experiência.

Perspectivas.

-M. Cintra
18/12/2019

quinta-feira, 9 de junho de 2022

Tigre

Cortes são mais belos do que ralados.
Pingando na pia.
Pingando nas mãos.
Pingando na alma.
Com um sorriso feito de ilusões.

A cada micro desastre,
Vem a necessidade de se aliviar.
E a tinta vermelha que passo em meu corpo,
Me faz respirar.

Sou como um tigre,
Que tentou aprender a voar.
Caí de muito alto.
Quebrei os dentes e nada posso devorar.

Sinto fome.
Uma enorme fome de existir.
Mas meu instinto some,
Todas as vezes que eu me machuco ao sorrir.

Estou aguentando firme, na medida do possível.

-M. Cintra
17/12/2019

quarta-feira, 8 de junho de 2022

Espelho

"Sente-se e olhe seu reflexo.
Patético, acabado.
É como um de seus berros;
Poéticos e desolados.

O que houve com você?
Era tão determinado...
Hoje está a mercê,
Totalmente derrubado."

"É difícil saber quem sou,
Pois são inúmeras personalidades.
Mas o "eu" que se indignou,
Para mim é o dono das verdades.

Não me resumo a anestesia.
Não me resumo a sobreviver.
Vago no escuro para que um dia,
Este "eu" brilhe, e eu volte a ver."

M. Cintra 
06/12/2019

terça-feira, 7 de junho de 2022

Giz

Abri meus braços para a sobriedade,
Recebi um abraço doído e gelado.
Congelaram-se meu presente e passado,
Revelaram-se meus demônios, como são de verdade.

Caíram as cortinas dos meus olhos.
A névoa se dissipou.
Vi atrás de mim todas as estátuas de sal,
Criarem vida e dizerem: "porque nos deixou?"

A dor pelas coisas que deixei de fazer,
São tão grandes como as de que fiz.
Morrer aos poucos, para me entreter,
Formaram um enorme rastro de chão de giz.

Giz cinza.
Apenas essa cor predominou.
Agora é preciso ter cuidado onde se pisa,
Pois meu arsenal de cores quase acabou.

Me restaram as cores primárias.
Por isso, há esperança.
Posso criar uma nova paleta,
Como a que eu tinha quando criança.

O cinza não será abandonado.
Apenas temporariamente deixado de lado.

M. Cintra
Agosto/2019

domingo, 5 de junho de 2022

Relógio e Lente

Inepiro...
Expiro...
Ainda me inspiro...
Meu tempo expira...
E o vento espirra,
Fazendo mais gente que espirra,
Nesta terra de mirra;
De lendas e crenças,
Tão potentes e latentes,
Que anuvia o que pensas,
Matando videntes, e criando lentes cadentes,
Para os cegos descrentes,
Indecentes a ponto,
De serem obedientes, e ponto.

Mesmo que isso mate a magia;
Que faça o relógio decidir,
Quando é noite e quando é dia;
Quando acordar e quando dormir;
Quando trabalhar e quando sumir;
Quando cantar e quando fingir;
Quando amar e quando trair;
Quando atuar e quando assistir;
Quando dar e quando pedir;
Quando levantar e quando cair;
Quando voar e quando submergir;
Quando se aproveitar e quando falir;
Quando se drogar e quando sorrir;
Quando tentar e quando desistir;
Quando atacar e quando fugir;
Quando guerrear e quando existir;
Quando fumar e quando tossir;
Quando cheirar e quando persistir;
Quando odiar e quando se unir;
Quando vaiar e quando aplaudir;
Quando roubar e quando dividir;
Como funcionar, e como ir e vir;
Como, sem ar, continuar,
Até morrer e deixar de existir;

Explodam o relógio!
Quebrem a lente!
Assim verão o pódio!
Tomem o controle de sua mente!
Explodam o relógio!
Juro, vocês verão o pódio!
Quebrem a lente em mil pedaços!
Voltem a ser gente e andem pelos cacos descalços! 

Explodam o relógio!
Quebrem a lente!
Assim verão o pódio!
Tomem o controle de sua mente!
Explodam o relógio!
Juro, vocês verão o pódio!
Quebrem a lente em mil pedaços!
Voltem a ser gente e andem pelos cacos descalços! 

Sem ouvir o "tique-taqueado",
Sinto-me menos 'Deus';
Sem jogar este carteado,
Sinto-me mais 'Matheus';

Ainda assim,
Sou divino;
Mas o tempo é, no fim,
Um Deus gigante e eu, apenas um menino;

Um menino, divino, mas humano;
Sendo este meu pecado;
Querer controlar dias, mês, ano...
Algo inventado e pesado...

Algo que deveria simplesmente coexistir,
E ser nosso aliado,
Nos prendeu, pois inventamos de pedir,
Que fosse 'humanizado';

O tempo, é o infinito;
E se Ele é um dos 'Deuss mais bonitos',
Porque tentar o escravizar?
O prender em calendários e apitos?

Mas existo e insisto;
Inspiro...
Expiro...
Miro no escuro, e atiro.

Tenho fé;
Assim ressuscito a magia.
Vou a pé,
Esquecendo minuto, hora, mês, ano ou dia...
Pois quando acordar para depois dormir;
Quando parar de contar e depois sumir;
Quando me culpar sem me eximir;
Quando cantar sem me envergonhar - mesmo se desafinar;
Quando sorrir sem mentir - mesmo se outro rir;
Quando dançar sem me importar - mesmo se tropeçar;
Quando insistir em fazer outro existir - mesmo ao me partir;
Quando, e só quando,
Reaver meu ir e vir,
Poderei dizer que ando,
E que não corro de tudo que está para surgir...
Simplesmente por ser algo desconhecido.
Então, hoje deixo de temer o 'nada';
Decido ser, pra mim, alguém reconhecido,
Decido escrever meu conto de fada.

Então, divindades,
Façam como eu!
Esqueçam o controle, isso é com Hades!
Se inspirem em Dionísio, ou Morfeu!

Explodam o relógio!
Quebrem a lente!
Assim verão o pódio!
Tomem o controle de sua mente!
Explodam o relógio!
Juro, vocês verão o pódio!
Quebrem a lente em mil pedaços!
Voltem a ser gente e andem pelos cacos descalços! 

Explodam o relógio!
Quebrem a lente!
Assim verão o pódio!
Tomem o controle de sua mente!
Explodam o relógio!
Juro, vocês verão o pódio!
Quebrem a lente em mil pedaços!
Voltem a ser gente e andem pelos cacos descalços!

Se adorem!
Se não, quem vai adora?
Se venerem!
Não se deixem controlar...

O tempo...
O vento...
Os deixe simplesmente ser...
Só assim, irás viver.

20/05/2022










sexta-feira, 3 de junho de 2022

Isabella

Não sei se será em escala de dia;
Se será em escala de mês;
Sei, que toda noite será fria,
E eu, serei seu freguês.

Te abraço ao anoitecer;
Olho e me afogo em seus olhos de mar...
Me afogo, respirando no seu ser,
Respirando, em sua bolha de ar.

Você é real;
Tão real quanto minha dor.
Você é surreal;
Como algumas pinturas, como amor.

Você me inundou,
E eu me desesperei.
Você, simplesmente calou,
O berro que soltei.

Gritei: "Desisto!!!".
Mas, nunca fora tão bem quisto.
Nunca fora tão visto...
Por isso, insisto.

Não há horizonte,
Além de você;
Não há fonte,
Que possa me rejuvenescer.

Como você consegue com maestria;
Como você, faz de noite ou de dia.
Pois você, torna-me eu,
Até no mundo de Morfeu.

Vou enfrentar o inferno;
Vou correr para o trauma;
Mesmo que de terno,
Não vou perder a calma.

Pois você, Isabella,
Mesmo sem perspectiva,
Pôs em minha casa uma janela,
E me assistiu de cadeira cativa.

Me cuidou.
Me salvou.
Me entendeu,
E como ninguém, me compreendeu.

Nunca sairei do seu lado;
Vou me cuidar e me salvar.
Assim, como uma anjo endiabrado,
Continuarei a jurar:
"Eu te amo".

23/05/22

quinta-feira, 2 de junho de 2022

É hora de se trancar

Ele olha o horizonte;
É hora de se trancar;
Ele encara o monte...
E sonha em o escalar.

Grades o prendem.
Hades e demônios o temem.
As mentiras o desprendem;
Mas suas miras o desmentem.

Ele tenta acertar;
Com calma, mirar e acertar.
Mas sua alma, já a aceitar,
Põe o trauma a seu avistar...
E em sua palma, destrói seu próprio lar;
Corrói seu bem estar...
Constrói seu alucinar...
E como herói, em seu caminhar,
Dói, volta ao triunfar;

Ele segue, sem saber,
A famosa, do herói, jornada;
Já premeditada, se você for ler...
Mas vivendo, é totalmente premeditada.

Ele se pergunta sobre o destino...
Se pergunta, desde menino...
Isso, pois já sabia de seu heroísmo;
Já sabia o que causaria seu imparável altruísmo;

Conheceu, através da TV;
Conheceu, através de CDs,
Gente que consegue manter a pureza de bebê,
Em letras, mesmo com o mundo fodendo vocês.

Então, ele ficou dividido;
Se perguntou se fora iludido;
Se o presente é só parte do infinito,
Que um dia, já fora prescrito...

Logo, ouve-se um grito;
É hora de se trancar... 
O tempo sopra seu apito,
E corremos, sem nos tocar,

De que como em um show de marionete,
Sentimos a expressão como confetes...
É real, bonito e tem que limpar;
É carnal, aflito e não há como tocar...
É hora de se trancar;
Seis meses, para variar... 
É bom, para ignorar,
O Deus tempo, que está a o matar.

Ele acorda.
Se pergunta: "como, se já pulei da borda?";
Então, percebe que para ele é pouco...
Vai voltar ao monte, pois é 'o Louco'...
Nosso herói, de novo, vai se jogar...
Quem sabe, não vence o tempo, e consegue voar?
Afinal, é hora de se trancar.

29/05/22

terça-feira, 31 de maio de 2022

Mutilação Divina

Pés batem na calçada;
Nenhuma rota traçada;
'Fés' morrem na madrugada,
Com uma estaca, no peito atravessada;

Uma estaca de madeira;
Uma cruz, com um ser de luz,
Expondo a maldade em uma bandeira;
Bandeira cor de pus, que dizemos ser "viver na luz",
Por sentir: "eu que o pus";

Pregos nas mãos,
Pregos nos pés;
Uma coroa de espinhos pagãos,
E várias personas patológicas de Moisés;

O sangue escorre,
Enquanto vou no corre;
Preparo-me para mais um porre,
Enquanto um inocente morre;

Pregos nas mãos,
Pregos nos pés;
Uma coroa de espinhos pagãos,
E várias personas patológicas de Moisés;

O sangue escorre,
Enquanto vou no corre;
Preparo-me para mais um porre,
Enquanto um inocente morre.

Somos o "divino";
Mas atuamos a 'divina comédia'.
Toca o sino, pequenino, do menino franzino,
Mas buscamos a fina tragédia de fazer mídia.

Queria um rivotril;
Vejam, que mundo vil;
Olhar a cruz e dizer: "o menino sumiu!";
E sem culpa carregá-la com o peito vazio;

Carregamos nosso amuleto;
Uma cruz, sem Jesus nela;
A beijamos ao entrar no gueto;
A beijamos ao entrar na favela;

Ao sair, deixamos lá a miséria,
E saímos, prontos pra fingir o sorrir;
A bactéria que deixamos com a matéria;
Então fugimos, prontos para usar e cair.

Héstia me encontrou;
Ela, mãe; pai, Hefesto;
Dionísio, me criou;
Logo, pra Deus do Fogo, eu presto.

Me contento com o resto;
Herdei a feiura de meu pai;
De minha mãe, a beleza, que empresto...
A soma, é o 'Louco que cai'.

Cai e se machuca;
Cai e bate a nuca;
Tentando voar, em constante dor,
Tenta amar, mesmo com ferro em sabor...
Pois,

Pregos nas mãos,
Pregos nos pés;
Uma coroa de espinhos pagãos,
E várias personas patológicas de Moisés;

O sangue escorre,
Enquanto vou no corre;
Preparo-me para mais um porre,
Enquanto um inocente morre;

Pregos nas mãos,
Pregos nos pés;
Uma coroa de espinhos pagãos,
E várias personas patológicas de Moisés;

O sangue escorre,
Enquanto vou no corre;
Preparo-me para mais um porre,
Enquanto um inocente morre.

Pois, mesmo sendo só história,
Toda dor, virou glória;
A tão falada ressurreição,
Virou apenas absolvição;

Perdão,
Mas não sei viver sem pecar;
Vivo em podridão,
Pois desaprendi a amar;

Pregos nas mãos,
Pregos nos pés;
Uma coroa de espinhos pagãos,
E várias personas patológicas de Moisés;

O sangue escorre,
Enquanto vou no corre;
Preparo-me para mais um porre,
Enquanto um inocente morre;

Pregos nas mãos,
Pregos nos pés;
Uma coroa de espinhos pagãos,
E várias personas patológicas de Moisés;

O sangue escorre,
Enquanto vou no corre;
Preparo-me para mais um porre,
Enquanto um inocente morre.

Sinto, por só sentir;
Minto, para o que está por vir;
Já que o tempo não existe,
Sou ainda mais culpado pela dor que persiste.

Ande com seu crucifixo;
Só entenda, que o "amor fixo",
Está fixado com dor e prego;
Tornando-te mais um cego;

Houve ressureição;
Multiplicação, de peixe e pão;
Do vinho e da ilusão...
Pois Cristo tinha fome e era louco, irmão...

Não estou a blasfemar;
Escrevendo, posso me salvar...
Posso lembrar dos que estão a vagar,
E assim, não me matar.
Pois,

Pregos nas mãos,
Pregos nos pés;
Uma coroa de espinhos pagãos,
E várias personas patológicas de Moisés;

O sangue escorre,
Enquanto vou no corre;
Preparo-me para mais um porre,
Enquanto um inocente morre;

Pregos nas mãos,
Pregos nos pés;
Uma coroa de espinhos pagãos,
E várias personas patológicas de Moisés;

O sangue escorre,
Enquanto vou no corre;
Preparo-me para mais um porre,
Enquanto um inocente morre.

A calada da noite,
É calada e inundada;
Este nosso açoite,
É a cicatriz mais focada;

Quero morrer;
Mas não vou;
Busco o sofrer,
Mesmo sendo quem não sou.

Então, Senhor,
Alimente minha dor ou amor;
Ambos são os mesmo, no frio ou calor...
Então ponha cor... não aguento mais a cinza dor.

-M. Cintra
28/05/22

domingo, 29 de maio de 2022

Clínica

Quarto compartilhado;
Na parede, Jesus crucificado;
Na cama, mais um de 'olhos embaçados',
Buscando apagar os próprios pecados.

Pássaros voam,
Mas não ouço som algum;
Gritos ecoam,
Mas aqui, isso é comum.

Meio ano...
Mas que belo plano!
Declaro-me insano,
Deixando a sobriedade por baixo do pano.

Ouço a palestra;
Ouço pela fresta;
Expondo o consciente,
E escondendo o inconsciente.

Penso no que falo;
Não falo tudo que penso;
Vou no embalo,
Do meu coração, sempre tenso.

"Frio e calculista";
Disse meu padrasto.
Diagnóstico de um merda machista,
Que na época, pra mim, deu pro gasto.

Hoje, sem padrasto,
E também sem gasto,
Não me basto,
E me basta pasto.

Em mente, dou risada;
A lembrança da descendência...
A saudade da saideira...
A saudade da dependência...

Em volta, a mesma saudade...
O mesmo medo...
Mas vindo de quem viveu de verdade,
E que sabe que é sempre cedo...

Vamos acordar,
Para morrer;
Vamos nos recuperar,
Para depois ceder.

Ceder, cedo ou tarde;
Aceitar se perder,
E sem alarde,
Voltar a escrever:

Droga, faz-me sentir bem;
Álcool, leva-me além;
Comprimidos, de 0 a 100;
E já não consigo ficar sem.

Me chamam de "culpado";
Me chamam de "chapado";
Dizem que "não tenho jeito";
Que sou o "caos perfeito"...

Mas o vidro não é quebrado,
Se não houver impacto.
Batido ou jogado,
Só quebra, como um pacto:

Um alguém aqui,
Um alguém alí,
Um alguém no além,
E intenções longe do bem.

Hoje, cá estou, indo para uma clínica;
Uma cara triste e cínica...
Pois não posso fugir de mim...
Apenas aceitar que ainda não é o fim.

Aceitar;
Me tratar;
Mudar;
E não me matar.

Pois hoje, tenho quem amar...
E sou amado.
O batalhão "eu" que tenho que desafiar,
Será com alguém ao meu lado.

Limpeza; oração; esporte;
E com clareza, fuga do caixão e morte...

Morte em vida;
Morte em morte;
Encontrar uma saída,
Pra ver o morrer como sorte.

Não sei se nasci assim;
Se existe um prescrito fim;
Sei que, não importando onde piso,
Tentarei levar o tal sorriso.

Se minha vida vale a dela,
Fugirei de toda e qualquer viela.
Se seremos nós, do fim ao princípio,
Matarei o suicídio. 

Por isso, aceito a grade;
Aceito o que vier;
Até o sentimento que me invade, 
Até que, em mim, não mais couber.

Por isso, aceito o pássaro mudo;
Por isso, aceito tudo;
Por isso, aceito me trancar;
Por isso, aceito não me matar.

Por isso, vou me internar;
Por isso, vou prender o ar;
Por isso, vou olhar, sem admirar, 
Tudo que posso transformar. 

Abdicar do viver de forma bulímica;
Por isso e porque te amo.
Por isso, estou indo pra clínica,
Por mais meio ano.

sábado, 28 de maio de 2022

Estou indo... mas para voltar!

 Muita coisa aconteceu.
Última postagem, dia 20/10/2018.
Dois cadernos escritos a mão, mais de mil poesias, internações em clínicas, internações em UTI'S, SIDS, patologias, misticismos, medos, traumas, honestidade lírica nua e crua, e muita coragem.

Fiquei um tempo sem postar nada, pois literalmente quase morri. Fiquei submerso no meu inconsciente, a ponto de quase morrer afogado.
Dopado, chapado e incompreendido;
Chega a soar como auto-piedade;
Calado, velado e desiludido,
Enlouqueci para encontrar sobriedade. 

Não deu certo.

Vou me afastar da sociedade;
Vou ficar um tempo isolado;
Neste tempo, na verdade, 
Vou tentar queimar meu "eu" fardado. 

Tenho MUITO material;
Tenho alguém para postar;
Todo dia, algo novo, instintivamente animal;
Espero me animar ao voltar;

Sim, é ego.
Sim, isso deixa cego;
Mas é minha forma de sobreviver...
Minha única forma de pertencer.

Todo dia, uma ou duas poesias;
Todo dia, uma parte do que viví.
Tudo, datado, descrevendo os dias,
Em que quase morri. 

As postagens, são a prova maior,
De que doença mental não é um fim;
São a esperança, de que o melhor,
Ainda está por vir.

Vocês lerão muito sangue;
Mergulharão em meu mangue;
Espero que a materialização de toda essa dor,
Traga a vocês mais amor.

Até daqui a seis meses!