quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Prostituição

Na esquina escura,
Com a névoa me anonimando,
Me desfaço de meus sonhos.
Ouço ela me chamando.

Não recuso o chamado.
Sempre digo que fui tentado.
Tudo por mais um trocado.
Mais um amor implorado.

Valores vendidos.
Crenças atropeladas.
Um teatro divino.
Uma vida bem traçada.

Não é amor.
É prostituição.
Se há vício em sentir dor,
Que comece a recuperação.

Se não há reciprocidade,
Nem sequer, uma vontade,
Se é eterno estado de calamidade,
É, comigo mesmo, muita maldade.

Mas insisto no pecado.
"Otário", seguro a placa.
Já estou quase sem dedos,
Por esmurrar ponta de faca.

Há um glamour no sofrer.
É poético.
Mas quando é como morrer,
Faz orar o mais cético.

Se há ódio no pensar,
É falso o brilho no olhar.
Se há medo no falar,
Não tem porque continuar.

Como fazer para não te amar?
Como esquecer e perdoar?
Se eu sei, que no tardar,
Não vou mais conseguir te encontrar?

Eu era só um corpo a venda.
Mas você me desvendou.
Você comprou minha alma,
E nunca mais me pagou.