terça-feira, 31 de maio de 2022

Mutilação Divina

Pés batem na calçada;
Nenhuma rota traçada;
'Fés' morrem na madrugada,
Com uma estaca, no peito atravessada;

Uma estaca de madeira;
Uma cruz, com um ser de luz,
Expondo a maldade em uma bandeira;
Bandeira cor de pus, que dizemos ser "viver na luz",
Por sentir: "eu que o pus";

Pregos nas mãos,
Pregos nos pés;
Uma coroa de espinhos pagãos,
E várias personas patológicas de Moisés;

O sangue escorre,
Enquanto vou no corre;
Preparo-me para mais um porre,
Enquanto um inocente morre;

Pregos nas mãos,
Pregos nos pés;
Uma coroa de espinhos pagãos,
E várias personas patológicas de Moisés;

O sangue escorre,
Enquanto vou no corre;
Preparo-me para mais um porre,
Enquanto um inocente morre.

Somos o "divino";
Mas atuamos a 'divina comédia'.
Toca o sino, pequenino, do menino franzino,
Mas buscamos a fina tragédia de fazer mídia.

Queria um rivotril;
Vejam, que mundo vil;
Olhar a cruz e dizer: "o menino sumiu!";
E sem culpa carregá-la com o peito vazio;

Carregamos nosso amuleto;
Uma cruz, sem Jesus nela;
A beijamos ao entrar no gueto;
A beijamos ao entrar na favela;

Ao sair, deixamos lá a miséria,
E saímos, prontos pra fingir o sorrir;
A bactéria que deixamos com a matéria;
Então fugimos, prontos para usar e cair.

Héstia me encontrou;
Ela, mãe; pai, Hefesto;
Dionísio, me criou;
Logo, pra Deus do Fogo, eu presto.

Me contento com o resto;
Herdei a feiura de meu pai;
De minha mãe, a beleza, que empresto...
A soma, é o 'Louco que cai'.

Cai e se machuca;
Cai e bate a nuca;
Tentando voar, em constante dor,
Tenta amar, mesmo com ferro em sabor...
Pois,

Pregos nas mãos,
Pregos nos pés;
Uma coroa de espinhos pagãos,
E várias personas patológicas de Moisés;

O sangue escorre,
Enquanto vou no corre;
Preparo-me para mais um porre,
Enquanto um inocente morre;

Pregos nas mãos,
Pregos nos pés;
Uma coroa de espinhos pagãos,
E várias personas patológicas de Moisés;

O sangue escorre,
Enquanto vou no corre;
Preparo-me para mais um porre,
Enquanto um inocente morre.

Pois, mesmo sendo só história,
Toda dor, virou glória;
A tão falada ressurreição,
Virou apenas absolvição;

Perdão,
Mas não sei viver sem pecar;
Vivo em podridão,
Pois desaprendi a amar;

Pregos nas mãos,
Pregos nos pés;
Uma coroa de espinhos pagãos,
E várias personas patológicas de Moisés;

O sangue escorre,
Enquanto vou no corre;
Preparo-me para mais um porre,
Enquanto um inocente morre;

Pregos nas mãos,
Pregos nos pés;
Uma coroa de espinhos pagãos,
E várias personas patológicas de Moisés;

O sangue escorre,
Enquanto vou no corre;
Preparo-me para mais um porre,
Enquanto um inocente morre.

Sinto, por só sentir;
Minto, para o que está por vir;
Já que o tempo não existe,
Sou ainda mais culpado pela dor que persiste.

Ande com seu crucifixo;
Só entenda, que o "amor fixo",
Está fixado com dor e prego;
Tornando-te mais um cego;

Houve ressureição;
Multiplicação, de peixe e pão;
Do vinho e da ilusão...
Pois Cristo tinha fome e era louco, irmão...

Não estou a blasfemar;
Escrevendo, posso me salvar...
Posso lembrar dos que estão a vagar,
E assim, não me matar.
Pois,

Pregos nas mãos,
Pregos nos pés;
Uma coroa de espinhos pagãos,
E várias personas patológicas de Moisés;

O sangue escorre,
Enquanto vou no corre;
Preparo-me para mais um porre,
Enquanto um inocente morre;

Pregos nas mãos,
Pregos nos pés;
Uma coroa de espinhos pagãos,
E várias personas patológicas de Moisés;

O sangue escorre,
Enquanto vou no corre;
Preparo-me para mais um porre,
Enquanto um inocente morre.

A calada da noite,
É calada e inundada;
Este nosso açoite,
É a cicatriz mais focada;

Quero morrer;
Mas não vou;
Busco o sofrer,
Mesmo sendo quem não sou.

Então, Senhor,
Alimente minha dor ou amor;
Ambos são os mesmo, no frio ou calor...
Então ponha cor... não aguento mais a cinza dor.

-M. Cintra
28/05/22

domingo, 29 de maio de 2022

Clínica

Quarto compartilhado;
Na parede, Jesus crucificado;
Na cama, mais um de 'olhos embaçados',
Buscando apagar os próprios pecados.

Pássaros voam,
Mas não ouço som algum;
Gritos ecoam,
Mas aqui, isso é comum.

Meio ano...
Mas que belo plano!
Declaro-me insano,
Deixando a sobriedade por baixo do pano.

Ouço a palestra;
Ouço pela fresta;
Expondo o consciente,
E escondendo o inconsciente.

Penso no que falo;
Não falo tudo que penso;
Vou no embalo,
Do meu coração, sempre tenso.

"Frio e calculista";
Disse meu padrasto.
Diagnóstico de um merda machista,
Que na época, pra mim, deu pro gasto.

Hoje, sem padrasto,
E também sem gasto,
Não me basto,
E me basta pasto.

Em mente, dou risada;
A lembrança da descendência...
A saudade da saideira...
A saudade da dependência...

Em volta, a mesma saudade...
O mesmo medo...
Mas vindo de quem viveu de verdade,
E que sabe que é sempre cedo...

Vamos acordar,
Para morrer;
Vamos nos recuperar,
Para depois ceder.

Ceder, cedo ou tarde;
Aceitar se perder,
E sem alarde,
Voltar a escrever:

Droga, faz-me sentir bem;
Álcool, leva-me além;
Comprimidos, de 0 a 100;
E já não consigo ficar sem.

Me chamam de "culpado";
Me chamam de "chapado";
Dizem que "não tenho jeito";
Que sou o "caos perfeito"...

Mas o vidro não é quebrado,
Se não houver impacto.
Batido ou jogado,
Só quebra, como um pacto:

Um alguém aqui,
Um alguém alí,
Um alguém no além,
E intenções longe do bem.

Hoje, cá estou, indo para uma clínica;
Uma cara triste e cínica...
Pois não posso fugir de mim...
Apenas aceitar que ainda não é o fim.

Aceitar;
Me tratar;
Mudar;
E não me matar.

Pois hoje, tenho quem amar...
E sou amado.
O batalhão "eu" que tenho que desafiar,
Será com alguém ao meu lado.

Limpeza; oração; esporte;
E com clareza, fuga do caixão e morte...

Morte em vida;
Morte em morte;
Encontrar uma saída,
Pra ver o morrer como sorte.

Não sei se nasci assim;
Se existe um prescrito fim;
Sei que, não importando onde piso,
Tentarei levar o tal sorriso.

Se minha vida vale a dela,
Fugirei de toda e qualquer viela.
Se seremos nós, do fim ao princípio,
Matarei o suicídio. 

Por isso, aceito a grade;
Aceito o que vier;
Até o sentimento que me invade, 
Até que, em mim, não mais couber.

Por isso, aceito o pássaro mudo;
Por isso, aceito tudo;
Por isso, aceito me trancar;
Por isso, aceito não me matar.

Por isso, vou me internar;
Por isso, vou prender o ar;
Por isso, vou olhar, sem admirar, 
Tudo que posso transformar. 

Abdicar do viver de forma bulímica;
Por isso e porque te amo.
Por isso, estou indo pra clínica,
Por mais meio ano.

sábado, 28 de maio de 2022

Estou indo... mas para voltar!

 Muita coisa aconteceu.
Última postagem, dia 20/10/2018.
Dois cadernos escritos a mão, mais de mil poesias, internações em clínicas, internações em UTI'S, SIDS, patologias, misticismos, medos, traumas, honestidade lírica nua e crua, e muita coragem.

Fiquei um tempo sem postar nada, pois literalmente quase morri. Fiquei submerso no meu inconsciente, a ponto de quase morrer afogado.
Dopado, chapado e incompreendido;
Chega a soar como auto-piedade;
Calado, velado e desiludido,
Enlouqueci para encontrar sobriedade. 

Não deu certo.

Vou me afastar da sociedade;
Vou ficar um tempo isolado;
Neste tempo, na verdade, 
Vou tentar queimar meu "eu" fardado. 

Tenho MUITO material;
Tenho alguém para postar;
Todo dia, algo novo, instintivamente animal;
Espero me animar ao voltar;

Sim, é ego.
Sim, isso deixa cego;
Mas é minha forma de sobreviver...
Minha única forma de pertencer.

Todo dia, uma ou duas poesias;
Todo dia, uma parte do que viví.
Tudo, datado, descrevendo os dias,
Em que quase morri. 

As postagens, são a prova maior,
De que doença mental não é um fim;
São a esperança, de que o melhor,
Ainda está por vir.

Vocês lerão muito sangue;
Mergulharão em meu mangue;
Espero que a materialização de toda essa dor,
Traga a vocês mais amor.

Até daqui a seis meses!