segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Juventude perdida, encontrada!


Olha lá distante o futuro da nação!
Eletrônicos ecoam no meio da multidão!
Mentes cheias de tanta repressão!
Acostumados a sujeira e corrupção!

Meninas enlouquecem sob luzes estroboscópicas.
Trocam saliva com inúmeros desconhecidos.
Meninas que pensam que são mulheres,
Mas são crianças com desejos reprimidos.

Meninos usam óculos escuros durante a noite.
Usam casacos de lã em dias de sol.
Saem ao fim do dia e pagam a pernoite,
E não param de descer a escada caracol.

Jovens enchem suas mentes com bagulho.
Continuam comendo a mesma fruta.
Passam de Cazuza a barulho.
Ainda votam nos mesmos filhos da puta.

Surgem as manifestações!
Que venham os encapuzados!
Que venham os mascarados!
Que comece as contestações!

Lutem pelo país!
Sangrem pelo país!
Quebrem as leis pelo país!
Derrubem reis pelo país!

domingo, 27 de outubro de 2013

Seguindo passos



Existe um tenebroso lugar,
Onde poucos conheceram.
Outros decidiram nunca voltar,
E na escuridão pereceram.

Este lugar é uma ameaça,
Com mortos-vivos passeando.
Só se vê uma densa fumaça,
Com o Diabo controlando.

No meio de toda a dor,
Pessoas dão risada.
Reprimindo seu amor,
Através de gargalhada.

Agia como se tivesse escolha.
Como se fosse uma opção.
Como em uma época de desfolha,
Caía e secava na escuridão.

Digo que conheci o inferno.
Para demônios fiz companhia.
Ponho tudo em meu caderno.
Já não faço sacristania.

Eu fiz parte desse bando.
Me aliei ao inimigo.
Hoje escolho com quem ando.
Já não corro mais perigo.

Uma guerreira de forte opinião,
Me tirou da escuridão,
Me levou a exatidão,
Me apresentando ao cirurgião.

Cirurgião que mostra o caminho.
Que orienta e tira o espinho.
Que não se comove com meu beicinho.
Que nunca me deixa sozinho.

Caminho bem assessorado.
Com a minha guerreira padroeira.
Meu mestre com tudo antecipado.
Já bem longe da velha maneira.

sábado, 26 de outubro de 2013

Uma forte dose de integração



Assustado, desço uma escada infinita.
Apavorado, fugindo da minha própria sombra.
Amedrontado, vendo o reflexo de meu parasita.
Intimidado, fugindo da minha câimbra.

Sou perseguido pelo meu semelhante,
Com um rosto demoníaco,
Um olhar distante,
E um sorriso maníaco.

Ao se deparar com a mediadora,
Ele se mostra com exatidão.
Como uma musa pacificadora,
Devolve o meu irmão.

Ao sair de sua presença,
A imperfeição volta a aparecer.
De acordo com minha crença,
É preciso sim temer!

Preciso enfrentar mais esse demônio.
Preciso encarar meu medo.
Isso é meu patrimônio.
Já é hora de parar de chupar dedo.

Olho fundo no olho de meu companheiro.
Quase sinto seu receio.
Me identifico com seu desespero.
Identifico seu devaneio.

Te vejo no chão estatelado.
Convulsionando sua malevolência.
Seis anjos pousam ao seu lado,
E conversam sobre displicência.

Conversam em uma língua espiritual.
Falam sobre o velho ego animal.
Luz e sombra em perfeita armonia.
Sem qualquer hegemonia.

Você para de convulsionar,
Após uma forte dose de integração.
Você retorna ao seu bem-estar.
E termina a divina intervenção.

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Morte da velha forma de gostar de dor


Acendo um cigarro.
Sua fumaça suja me lava o rosto.
A morte volta com um escarro.
Cuspo na cara do meu encosto.

A noite fica iluminada.
A lua mostra sua magnitude.
Foco o pensamento em minha amada,
Passo a ver com longitude.

Não estou mais cego de paixão.
Estou lúcido vendo o amor.
Anubis manteve no caixão,
A velha forma de gostar de dor.

Eu me mutilava.
Eu me maltratava.
Eu sempre sucumbia,
E minha doença sempre ria.

Agora limpe meu catarro,
Sua puta mal-amada.
Limpe agora meu escarro,
Que sou eu que dou risada!

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Morte da vida, nascer da morte

Morreu o modo como via a vida.
Nasceu o modo como vejo a morte.
No jogo da vida está lançada minha sorte,
De ter uma morte bem vivida.

Recrucificado está o Cristo que eu era.
Nascendo está uma nova era.
Pois já não sou mais quem eu era.
Não me acompanha mais a Deusa Hera.

Vivo agora o reinado de Hades.
Submerso na escuridão.
Tecendo seu manto como gratidão,
Junto de seus servos alfaiates.

Está gelado aqui em baixo...
Porque não posso ir pelo mais fácil?
Porque o certo é tão difícil?
Porque estou tão cabisbaixo?

Cacete Deus, porque me abandonaste?
De me fazeres sofrer ainda não cansaste?

Lua cheia cor de mel

Meu barco está pronto para alçar um vôo.
Suas velas estenderam-se na horizontal.
Me resta celebrar o amargo choro,
Do velho ego animal.

A quilha já não está mais submersa.
Popa e proa, alinhados a genoa.
Ponto de apoio, vem da vela mestra.
E o mastro, assento de outra pessoa.

Navego entre as nuvens,
Buscando um porto para atracar.
És em ti, formidavel lua,
Que minha âncora vou jogar.

Oh lua cheia cor de mel,
Nunca te ví assim tão perto!
Já me vejo com bacharel,
Em não saber se é certo o incerto.

Pois como não tenho certeza se é certa a incerteza,
Seguirei com a minha certeza,
De que seguir a seta da incerteza,
É a única proesa existente na beleza,
De viver a incerteza.

sábado, 19 de outubro de 2013

Cirurgia Espiritual

No parapeito da solidão,
Tento me equilibrar.
Para que no mar da frustração,
Aprenda a não me afogar.

Aos céus, grito por misericórdia.
Aos céus, imploro por um milagre.
Pois tudo que vejo é uma paródia,
De uma vida curta de Isaac.

Questionamentos não param de surgir.
A coragem não para de fugir.
O medo eu não paro de esculpir.
Os monstros não param de emergir.

Nos meus versos não existe o impossível.
Um anjo veio me buscar.
Me levou em um vôo incrível,
Para minha sombra integrar.

Talvez a caminho da totalidade.
Talvez em busca da verdade.
Pois as vezes a dificuldade,
Vale mais que a facilidade.

Vejo anjos alados.
Vejo nuvens esplendorosas.
Vejo seres fadados,
A serem criaturas maravilhosas.

Porque eu?
O que tenho de especial,
Para participar de tal ritual,
Tão diferente da minha vontade carnal e banal?

Meu coração para de bater.
Ouço um som angelical.
Meu corpo começa a arder.
Começa a cirurgia espiritual.

Deitam-me em uma maca.
Me sinto tranquilizado.
Puxam do bolso uma faca.
Tenho o cérebro concertado.

Volto para o plano terrestre.
Abro os olhos em meu leito.
Lembro do meu Mestre:
"Continue fazendo direito".

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Boca Calada



Na escuridão da madrugada,
Recebi um visitante.
Tento matar tal charada:
Porque é tão agonizante?

Não pedi para você entrar,
Não pedi para você ficar.
Pare de me atormentar,
Fique quieta no seu lugar!

Você veio como contra-peso,
E não para se manifestar.
Porque grande Deus,
Tu deixa ela me açoitar?

Abro os olhos com sangue na boca,
Vestígios de ti no meu travesseiro.
Tontura, amargura, loucura,
E por fim, vem o desespero.

Oh Pai celestial,
Pare de me castigar,
De minha língua mutilar,
E meu cérebro danificar!

A vontade é de fugir.
De jogar tudo para o alto.
A vontade é sucumbir,
E esperar a morte no asfalto.

Faço jus ao meu passado.
Apenas colho o que planto.
Mas pareço um retardado,
Apenas corro e não alcanço.

Porque correr então?
Para continuar um embrião?

Só reforço o meu propósito.
Que se complete a gestação!
Que viva o novo homem,
E mate a imperfeição.

Minha luta é pela vida.
Minha luta é pela cura.
Mas uma coisa é requerida,
Que minha alma esteja pura.

Me sinto de boca calada.
Completamente impotente.
Ferido na estrada,
Da loucura benevolente.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Um café com o Diabo



Fujam para a colina.
Fujam pois a besta está presente.
Fujam pois a besta é feminina.
Fujam pois a chuva está ardente.

Levem consigo tudo que é sagrado,
Levem consigo bagagem para um ano.
Deixe no fogo tudo que é passado,
Deixe no fogo tudo que é profano.

Contemple do alto a destruição.
Veja de cima o caos da multidão.
Ofereça um brinde ao Diabo,
Comemore a morte do passado.

Quando for a besta sepultada,
Deixará de ser um peregrino.
Continuará sua jornada,
E tocará no divino.

sábado, 5 de outubro de 2013

Coração de plástico



Seu coração é complexo,
Seu coração é armado,
Seu coração é submerso,
De ódio acumulado.

Seu coração é venenoso,
Seu coração é alucinante,
Com um líquido viscoso,
Inteiramente viciante.

Seu coração é rochoso,
Seu coração é dependente,
De um homem ardiloso,
E de caráter demente.

Seu coração é carente,
Ardentemente atraente,
Completamente ausente,
Instintivamente eficiente.

Seu coração é rígido,
Seu coração é atormentado.
O que deixa seu corpo frígido,
E seu amor dilacerado.

Seu coração foi destruído,
Seu coração está em pedaços.
Talvez será reconstruído,
Ou apodrecerá em cacos.

Seu coração está na areia,
E o mar se aproximando.
Enquanto toma sua seia,
A morte está chegando.

Seu coração não é real.
Meu coração é dramático...
Meu coração é marginal...
Mas o seu é de plástico.