quinta-feira, 23 de agosto de 2018

6h10


Agora é cedo.
Já é cedo.
A noite passou como um trem.
Amanhece e sinto medo.

O céu é azul.
Azul claro.
A claridade incomoda.
Me sai caro.

Claridade demais arde.
Queima a pele e a retina.
É realmente parecida,
Com a tão famosa rotina.

Sonhar se torna um vício.
Dormir, uma droga.
Em todos os sentidos.
Uma droga.

Pesadelos representam o real.
Da forma que mais tememos.
Os medos de forma literal,
Mascarados com o que vivemos.

Amanheceu.
Preciso parar de escrever.
Um dia nasceu,
E um poema morreu?

Ás


Achei que na manga tinha um ás.
Mas era um rei que só mal faz.
Posso dizer: aqui jaz,
Um ser que não teve paz.

Tu és meu viés
Meu nove que nunca é dez.
Move-se pelas paredes,
Toca a sola dos meus pés.

Fiz quase tudo que quis.
Desenhei a desgraça com giz.
Eu era só um aprendiz.
Tudo para tentar ser feliz.

Meu pensamento é veloz,
Me torna meu próprio algoz.
Já estou sem voz,
Chamando o grande Mágico de Oz.

O reluz que vejo é o da cruz.
A mesma que morreu o tal Jesus.
Mesmo contraluz e de capuz,
É uma luz que seduz.

terça-feira, 14 de agosto de 2018

Medusa

Eu olhei para trás.
Vi e entendi todo o mal.
Eu olhei para a paz,
E me tornei uma estátua de sal.

Clarão na visão,
Me vi em uma cova de padrões.
O carcereiro abriu o portão,
E o povo brindava sob as mutilações.

Me foi imposta a culpa,
E continuo na luta,
A mesma disputa, a mesma labuta,
Contra aquele mesmo filho da puta,

Que pula e atropela,
Que não erra e não acerta.
Que mente.
Que permanece um corpo doente.

Rosto inchado de tensão,
Ralado imposto sem visão,
A alma convulsiona malevolência.
A mente se aproxima da demência.

Sem clemência.
O berro da sentença foi dado.
O titã da indecência,
Foi novamente acordado.

Que venha o sono.
Que venha a dor.
Que venha a compreensão,
Dessa dimensão superior.

domingo, 12 de agosto de 2018

É cedo

A terra se move adiante.
Terremoto. O caos se espalha.
Dentre o fogo e a cratera pulsante,
Surge a luz, coberta de palha.

Muito poder.
Dá medo.
Tento me esconder,
Mas cedo.

Sempre cedo.
Cedo ou tarde,
Sempre acabo cedendo.
Estava enlouquecendo.

Precisava entender.
Precisava sair do casulo.
Deixar minha ideia do que é ser criança morrer,
Para encontrar a criança dentro do meu Ser puro.

A essência que havia perdido.
Que me havia sido roubada,
Estava o tempo todo comigo,
Em uma olheira enrugada.

Não podia ver.
Não conseguia.
Não dormia.
Não abstraía.

Eu ia morrer.
Estava decidido.
Não seria uma escolha, um querer.
Só achei que o destino seria ser fudido.

Desistência.
Desistência.
Covarde.
Covarde.

Bata continência.
Bata continência.
Se afaste.
Se afaste.

Então a noite me abraçou.
A solidão, já não era a única companheira.
Ela usava um chapéu e me encarou.
Me mostrou que existe uma outra maneira.

Integração.
Luz e sombra, opostos.
Recordação.
E aqui estamos, dispostos.

Aceito.
Independente de ideologia.
Com toda a força em meu peito,
Grito: Que comece a cirurgia!

Mas olha ela.
Olha ela lá.
Molho minha goela,
E continuo sem ar.

Vem pra mostrar,
Que não importa eu querer,
Que não adianta jurar,
Não vou conseguir parar.

Meu íntimo sabe,
Não querer aceitar é pior.
Minha alma é calejada.
Sei a tabuada da dor de cor.

Olho no espelho, e meu,
O que me aconteceu?
Vejo reflexos distorcidos,
De um passado que permaneceu.

Olhei fundo no olho da cobra,
Guardei bem sua fisionomia.
Mas ainda vejo essa filha da puta,
Depois de lavar o rosto na pia.

A insônia me abraça,
A memória atormenta,
E quem me ataca,
É minha própria cabeça.

Fez-se minha vida, uma poesia.
Dedicada a comover.
Chego a me perguntar, se um dia,
Vou poder viver.