quarta-feira, 18 de junho de 2014

Uma criança com o coração partido


Uma criança com o coração partido,
Caminha solitária com o rosto ferido.
Marcas da noite, da podridão,
Marcas do suborno da ilusão.

Linda morena, de idade dez.
Cheia de bolhas em seus pés.
Caminha descalça no chão quente,
Sem nenhuma dor aparente.

Na escaldante orla carioca,
Ela avista um carrinho de pipoca.
Estava com muita fome,
Mas nessa hora, quem tem grana some.

Não tinha outra alternativa,
E tomou a iniciativa.
Pediu.
Sorriu.

O vendedor estava segurando sua cachaça,
E achou muita graça.
Uma menina daquela idade,
Já bebendo com autoridade.

Ele bebeu.
Ela bebeu.
Ele se embebedou.
Ela se embebedou.

Vida mais que cruel.
Num quarto de motel,
O céu escureceu.
E uma estrela morreu.

Estrela chamada Ingenuidade.
O astro mais belo da humanidade.
Trucidado.
Explorado.

Seu nome era marina.
Era apenas uma menina.
Hoje não tem mais nome.
É conhecida apenas por um pronome:

Puta.

domingo, 15 de junho de 2014

Premonição



É o chamado para o apocalipse!
Ouço soar uma corneta.
No céu é formado um eclipse.
Vejo asas pisoteadas de uma borboleta.

A multidão está gritando!
O caos está instalado.
Por suas vidas, estão implorando!
Para ouvir seus nomes, estão rezando.

Mas não há nenhum chamado.
Todos ficaram.
Pois o pecado permanece vinculado.
Todos choraram.

E se arrependeram.

Arrependimento do que foi feito.
E do que não foi feito.
De ter medo do defeito.
Alí no meio digo "Bem feito!"

Anjos dão gargalhadas da multidão.
Crianças chorando, no colo de seus pais.
Desesperados, eles rogam por perdão.
E os anjos respondem: "Tarde demais".

Acordo suado.
Apavorado.
Aterrorizado.
Petrificado.

E agradeço por ter sido só um sonho.
Ou será que não?
Será que esse devaneio medonho,
Não é também uma premonição?

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Cheiro de mudança


Já não da mais pra ser criança.
Pondo tudo na balança,
Sem aquela confiança,
Sinto cheiro de mudança.

Cheiro estranho e instável.
Repentino e inimaginável.
Não se apresenta amigável,
Nem tampouco suportável.

Vida dura,
Vida pura.
Sem mistura,
Nem ruptura.

Pelas cicatrizes,
Causadas pelas meretrizes,
Ficarei de pé,
Me acompanhe quem puder.

Farei a transição,
Pois possuo aptidão.
Hoje tenho opção,
Já não vivo na escuridão.

E por essa aptidão,
Não vou ficar calado.
E não é por opção,
É porque preciso entender meu estado.

Se conhecer por completo,
Quem não gostaria?
Almejo isso ao meu trajeto,
Mas para isso preciso virar homem um dia.

terça-feira, 3 de junho de 2014

Me enviem um anjo!



O homem sábio estendeu sua mão,
e mostrou-me o caminho.
Ele dizia com convicção:
Você não está sozinho.

Tudo que via era escuridão.
Não conseguia ver o outro lado.
Já ele em aguçada intuição,
Pedia para eu sair do meu quadrado.

Fui sem pestanejar.
No escuro caminho entrei.
E sem ao menos planejar,
O trajeto acertei.

Era plena madrugada.
Não se ouvia um chiado.
Hoje é plena alvorada.
Com pássaros ao meu lado.

Me enviem um anjo!
Quero ter alguém para compartilhar.
Me enviem um anjo!
Para comigo caminhar.

Me enviem um anjo!
Só ele vai conseguir enxergar.
Me enviem um anjo!
Para a ponte eu ultrapassar.
Por favor, eu preciso de um anjo,
Para que eu possa o abraçar.

segunda-feira, 2 de junho de 2014

Faísca de Deus


Nas noites de névoa, calei.
Nas de inverno, sofrí.
Nas de verão me queimei,
E como recompensa, renascí.

Invoquei demônios do passado,
Para vê-los cair.
Não fiquei estagnado,
Mas com vontade de fugir.

Chegou minha esperança!
A força de que precisava.
O brilho que forma uma aliança,
Com a coragem que eu almejava.

Caminhada árdua e tortuosa,
Não vejo o seu fim.
Vejo uma recompensa calorosa,
Pura como marfim.

Esse é o meu sacrifício.
Esse é o meu destino.
Negar minha vontade é meu ofício,
Para que eu toque no divino.

Para que eu sinta a explosão.
Ao passado diga adeus.
Pra que venha em minha mão,
A faísca de Deus.