sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Pesadelo

Pelado, sentado na cozinha.
Tento me situar.
Não me lembro de nada.
Será que tentei me matar?

Comprimidos por todos os lados.
Grunhidos nos meus ouvidos.
Com os olhos e a alma,
Totalmente corrompidos.

A lâmina cortou minha carne,
Para evitar a foice em meu pescoço.
A morte vem disfarçada,
Em químico composto.

Piso em uma poça de sangue,
Ao tentar levantar e andar.
Flashbacks instantâneos.
Impossível não se desesperar.

Mais remédios pela sala de estar.
A luz da consciência tenta me cegar.
Mal consigo caminhar.
Sinto medo de continuar.

Entro no corredor,
Que parece não ter fim.
De mãos dadas com a dor,
Sei que tem que ser assim.

Continuei a caminhar,
Ao lado de vários vultos a passar.
Precisei me cuidar, para não tropeçar,
No que pareciam vários corpos sem ar.
Ou eram só tralhas de casa espalhadas.
Tanto faz.

Entro no quarto.
No lugar da cama, há um jazigo.
Ele está ocupado.
O fardo já não está comigo.

Faço sua barba.
Raspo a sua cabeça.
Enterro o seu corpo.
Entrego a besta.

Abro os olhos.
Estou pelado, sentado na cozinha.
Não me lembro de nada.
Será que tentei me matar?

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Terra dos mortos enfileirados

Eis-me aqui mais uma vez.
A terra dos mortos enfileirados.
Onde a lágrima fertiliza a terra,
E nascem os frutos dos pecados.

A lua é o astro vigente.
Como pude descer tão fundo?
O gosto da moral indecente,
Já havia inundado meu mundo...
Uma vez.

Imundo, de corpo e alma,
Tento escrever e manter a calma.
Nesta escrivaninha em meio as trevas,
Tento não surtar,
Uma vez.

Tento tirar proveito dessa situação nebulosa.
Quanto mais gás e neblina conseguir aspirar,
Melhor.
Acendo um cigarro, tentando não me matar.
Uma vez.

Escorre sangue de meus olhos e não posso ver.
A cruz de madeira, atravessou seu peito.
Posso apenas ouvir ele morrer.
Preciso cortar as minhas orelhas.
Surdez.

segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Oração Cética

Se eu estiver errado,
Rogo o teu perdão.
Mas sei que se não for tudo um acaso,
Eu já perdi minha salvação.

Pois vivi a lei do mundo,
E aprendi com a solidão,
A erguer minha mão,
E dar o dedo a ilusão.

Não vou te chamar de pai,
Muito menos de senhor.
Nunca nem fiz por merecer,
Todo esse seu grande amor.

A vida é como um livro,
E a caneta causa dor.
Nas páginas mais escuras,
Onde esteve, salvador?

A tinta está acabando,
Junto com minha esperança.
Por favor, me diga,
Onde está tal aliança?

A morte é apresentada.
Por aqui é cultuada.
Recuso a oferta.
E morro em vida.

Vejo morte.
Vejo dor.
Vejo um corte.
Vejo "amor".

Se você for o criador,
Deu-me inteligência.
Inclusive, salvador,
Pra duvidar da sua existência.

O que eu devo te pedir,
Nem sei se é perdão,
Pois durante toda minha vida,
Senti-me na solidão.

Onde você esteve?
Eu precisei de você.
Minha alma berrou.
Não é assim, que deveria ser?

Madrugada com ódio na pupila,
E todas as intenções ruins.
Vazio de alma e estômago,
Vi-me próximo de todos os fins.

Minha camisa foi suja de sangue.
Sangue inocente.
No gelo fui trancado,
E por um ano e meio, fiquei isolado.

Tomei muitos comprimidos,
Dormi por 3 dias sem parar.
Nem tentando de verdade,
Consegui alcançar a morte.

Pois acordei.
Infelizmente acordei.
Não senti ninguém comigo.
Ninguém, além de todo o além,

Chamando-me.
Gritando o meu nome.
Dizendo para mudar de lado.
Para obedecer minha fome.

Fome de morte.
Fome que foge do controle.
Que não pode ser saciada.
Mas também não pode ser ignorada.

Foi como se tivessem me esquecido,
Como se não existisse a minha vez.
Tudo isso já tinha acontecido,
E eu não tinha nem 16.


Onde você estava enquanto me tornava o que sou?

sábado, 19 de agosto de 2017

Monstro no guarda-roupa

Seus olhos se abriram.
Posso ouvir sua respiração.
Geralmente é neste momento,
Que começa a perseguição.

Ele grita, berra, urra.
Mas sai um som abafado.
Pois precisa de mim,
Para manifestar o seu lado.

Sua insônia acabou,
Trazendo puro pesadelo.
Meu medo acordou,
E continuo sem poder vê-lo.

Uma parte de mim,
Tenta sempre me engolir.
E enquanto não consegue,
Tento não sumir.

Uma parte de mim,
Não aceita a outra parte.
Não faço a integração.
Então uso a arte.

Uma fenda.
Muita neblina.
Olhos com venda.
Muita chacina.

Uivar.
Berro.
Acendam as luzes!
Ninguém é de ferro.

Algo acordou.
Algo imenso.
Algo mau.
Algo denso.

Quer destruição.
Quer o desespero.
Quer o controle do meu coração,
E do meu corpo inteiro.

Quer persuadir minha ação.
Quer que eu pule no buraco.
Quer que eu anule a emoção.
Quer me deixar fraco.

Ele está perto.
Posso sentir.
Sua presença é marcante.
Ele sempre vai ferir.

Ele está nas igrejas.
Ele está nos hospitais.
Ele está nos presídios,
E em todos que tem mais.

Ele está nos viúvos.
Ele está no solitário.
Ele está na biqueira,
E em todo usuário.

Ele está no poeta.
Ele está no artista.
Ele está em toda meta,
E em todo autista.

Ele está no guarda-roupa.
Ele está na minha frente.
Ele está na minha sombra.
Ele está na minha mente.


sexta-feira, 18 de agosto de 2017

O mudo que cai

A noite cai.
As pálpebras também.
Frequências cardíacas diminuem.
Sonhos.

Vozes internas e sons externos.
Pavor.
Cobre as pernas e foge dos infernos.
Dor.

Ouço o abafado ruído.
Um desastre aconteceu.
Outro coitado reprimido.
Mais um mudo morreu.

Ouço sua queda.
Seu último suspirar.
Ouço o sangue escorrer,
E a impunidade triunfar.

Mais um mudo morreu.
De manhã, limpam a calçada.
A passeata de Morfeu,
Continua com hora marcada.

Sem poder gritar.
Sem chamar atenção.
A morte foi como a vida:
Sem nenhuma opção.

A noite cai.
O mudo e suas pálpebras também.
Suas frequências cardíacas param.
A morte lhe convém.

terça-feira, 15 de agosto de 2017

Pena Branca

Estou só.
Olho para o relógio e sinto um arrepio.
Caminho na rua, entre rostos nublados, jornais amassados, cabelos arrumados...
E estou só.

Não me encaixo.
Embora lute para me encaixar.
Seria o viver, apenas toda essa encenação?
Deveria eu apenas continuar?

Sinto nojo da perfeição.
Meu refluxo, faz com que apenas siga o fluxo.
Lavo a rua, com um grande vomitar.
Água, cerveja, pinga, arroz, feijão e solidão.

A lua brilha solitária.
Intocável, distante, cruel.
Brilha para dar esperança ao doente,
Que falecerá ao primeiro amanhecer.

As nuvens cinzas e roxas,
Se sobrepõe a um céu marrom, quase preto.
O vento congela a orelha, e junto com ele,
O cheiro de fezes toma conta do tempo e do local.
E estou só.

Esbarro em um ombro.
Troco um olhar no olho.
Tropeço em uma calçada.
Volto para casa um pouco mais morto.

Tento me exlicar.
Mas são somente palavras em vão.
As paredes do meu quarto são surdas,
E meu berro é inaudível aos ouvidos dos que mais amo.
Inclusive eu mesmo.

Afogar tudo e todos!
Inclusive eu mesmo!
Afogar, em um grande mar de chorume, inundando as vias respiratórias com toda a podridão criada por nós.
Não haveria fim mais belo e justo.

A enorme linha tênue do tédio,
Se harmoniza com a linha fosca, quase apagada do horizonte.
O limite de tempo, em que a linha pode ficar tênue...
Já foi há muito ultrapassado.

Ainda estou só.
Quero dizer, eu e meus demônios.
Mas não conta.
Estou só.

E é nesse momento que sinto vontade de ir até a janela da minha alma,
E gritar.
Gritar ao ponto de sentir que meus pulmões vão explodir.
Gritar até sumir.

Sumir na minha própria voz.
Deixar de existir, em um ato de pura existência.
Expressão. Verdade. Verdade!
Sinceridade!

Eis que aparece uma esperança.
Uma linda, leve e reluzente pena branca, se destaca em meio a fumaça de cigarros e pensamentos.
Em meio ao caos, a destruição, as fezes, ao vômito, a indiferença...
Flutua a paz.

Faz seu belo percurso, em ondas,
Deixando uma linda imagem, de um pontinho de luz, vagando em meio à desordem.
As pessoas param, reparam, olham e se viram.
"Não é normal", eles dizem.

Mas não importa.
Eis que nasceu a luz!
Ela dança no ar. Ela é livre.
É intocável... mas não é cruel.

É atingível! É real!
É real... eu vi!
Eu senti!
Eu vivi.

E vi, o que talvez poucos viram.
Vi verdade.
Assisti, do melhor ângulo possível, no melhor assento do teatro,
Seu espetáculo sem máscaras.

Sua atuação, no existir.
Sua performance no lindo caminho ondular, que me tirou da linha tênue.
Seu improviso.
Sua verdade.

Eu a vi repousar entre montes.
Vi a poeira levantar em volta, quando ela parou, flutuando sobre um chão de terra.
Ali, vi o quanto é frágil, apesar de atingível.
Ali, vi o quanto é poderosa, apesar se ser real.

Toda a área começa a florescer.
Um verde harmonia, toma conta do chão, antes árido e arenoso.
As flores, vistas de longe, formam diversos pontos coloridos, que me lembram as luzes de natal e as festas de família da infância.
Paz.

Tenho uma vontade iminente de me mudar para lá.
De ser invadido por completo, por todas essas cores.
Mas lembro que tenho um longo caminho para trilhar.
Lembro que sou poeta, não pena.
Que pena.

Ainda tenho mais algumas penitências a cumprir.
Ainda tenho algumas palavras para mentir.
Eu ainda preciso morrer, só mais um pouquinho...
Para chegar ao destino, escrito por mim.

Então acordei.
Bem suado, confuso e agitado, para variar.
Mas agora tenho um norte.
Sei para onde caminhar.

Eu a encontrei ali, em meio a multidão.
Com toda a sua insanamente louca exatidão.
O sol raiou.
Não estou mais só.
E ela também não.

Dama do Marlboro

Te vejo queimar.
Te vejo em meus pulmões.
Te vejo em meio ao ar.
Se destacando dos padrões.

Te vejo com elegância.
Mesmo com o ar sombrio.
Só importa a instância.
O passado, nem existiu.

Furos em seu filtro,
Para amenizar a intensidade.
Para não fazer tão mal.
E conviver com a insanidade.

Dama do Marlboro,
Responda ao tolo!
Onde está o seu tesouro,
Já que tudo que toca vira ouro?

Dama do Marlboro,
Ouça todo este coro.
É de apenas mais um louco,
Que se encantou.

E pelo fim, se apaixonou.
Foi sentenciado.
A vicer sob a neblima,
De teu belo esfumaçado.

Então deixe-me explicar,
O que não tem explicação.
Deixe-me demonstrar,
O que não há demonstração.

Deixe-me tentar!
Estou ficando sem ar!
Deixe-me exagerar!
Preciso dizer o que é te amar!

Ver em seu olho, mais brilho que o luar.
Mais profundidade que o azul do mar.
Mais pureza que a voz de um anjo, a cantar.
Mais leveza que uma pluma, a voar.

Ver em seu sorriso, extrema sinceridade.
Força comparada ao sol, e sua claridade.
Ver também a ingenuidade,
De uma criança sem maldade.

Assim como o sol beija o mar no fim de tarde,
Em você, me apago e me acendo.
Sem nenhum alarde,
Vou aprendendo, a não ficar dependendo.

Com as pernas tremendo,
Estou vendo.
E não repreendo.
Apenas finjo que entendo.

Entre nossas almas, há conexão.
Algo muito mais profundo do que emoção.
Entre nossos corpos, interligação.
Algo muito mais profundo do que paixão.

Entre nosso olhar, há entendimento.
Entre nosso riso, há entretenimento.
Entre nosso amor, há consentimento.
Entre nós... Existe nós.

Por isso,
Deixe-me te beijar!
Deixe-me te fazer feliz!
Deixe-me te abraçar!

Deixe-me segurar seus quadris!
Deixe-me te amar!
Mas nunca,
Nunca deixe-me.

domingo, 28 de maio de 2017

Existo

Eu me perdi.
Entre as placas que diziam siga,
Em alguma direita ou esquerda da vida,
Eu me perdi.

E mesmo assim, continuei.
Não parei de andar.
Sinto que vai ser assim,
Até eu parar de respirar.

Uma neblina densa,
Dificultando a visão.
Pessoas usando máscaras,
Dançando com a solidão,

O doce som do suspiro.
Do mais puro respirar.
Serve para acalmar.
Serve para não surtar.

Puxar o ar,
E soltar.
Puxar o ar,
E soltar.

Puxar o ar,
E soltar.
Puxar o ar,
E soltar.

Atuo diariamente na peça do viver.
Só existo.
Não quero mais interpretar.
Estou exausto.

Continuar a caminhar.
Continuar a respirar.
É o resumo do existir,
Até o dia que eu sumir.

quarta-feira, 24 de maio de 2017

Sanidade

Me sento à meia luz,
Acendo um cigarro.
Tomo um longo e amargo gole de morte,
E renasço, como um pássaro de sorte.

O vento sopra lá fora.
Como o canto dos lobos ao uivar.
É frio, é mortífero.
É a forma de interpretar.

Sinto o peso da madrugada sobre mim.
O enorme peso do nada, sobre mim.
Minha essência aguenta calada, para enfim,
Gritar descontrolada: "foca em mim!".

Então escrevo.
Escavo o que há de mais profundo em mim.
Me torno escravo,
Da escritura, da loucura que não tem fim.

Minha sanidade é questionável.
Minha sanidade é instável.
Minha sanidade é moldável.
Minha sanidade é improvável.

Ainda bem.

sexta-feira, 19 de maio de 2017

A culpa é de quem?

Respirar não é uma opção.
Pensar, também não.
Quando não há um caminho,
Tudo se transforma em um redemoinho.

Não importa o respirar,
Não importa o pensar.
Só importa o anestesiar,
E um lugar para posar.

Pois a janela quebrou.
Despedaçou-se sua alma.
O tempo parou.
Nada mais o acalma.

Seus olhos são tampados,
Por uma camada de ódio,
Que afasta os maus olhados,
E coloca o ego no pódio.

Mas esconde um demônio,
Um demônio chamado tristeza.
O medo, vem por consequência,
E aflora toda a impureza.

Se morrer é descansar,
Respirar é um pesar,
Caminhar é tropeçar,
Pensar é sonhar,

Celebrar é vomitar,
Existir é só vagar,
Dormir é desmaiar,
E acordar é ir para o inferno,

A culpa é de quem?

domingo, 14 de maio de 2017

Sépia

O vazio me preencheu,
E me deixou sem opção.
Um pássaro morreu,
Dentro do meu coração.

Sociopatia extrema,
Cuidado!
Só simpatia externa,
Coitado.

Anos perdidos.
Vivências roubadas.
Maldito destino,
Devolva minha alma!

Vomito.
Trêmulo, a compor,
Um par de verso bonito,
Para tentar parar a dor.

Tento ter métrica.
Tento ter precisão.
Pois é mais fácil tornar poética,
Toda essa confusão.

Minha mente me tornou réu,
Que sente e destila fel.
Hoje, quando olho para o céu, 
Vejo tudo em tom pastel.

Emoções desreguladas.
Cuidado!
Leões desenjaulados.
Coitado.

O tempo está derretendo.
O universo me sufocando.
O relógio está correndo!
A areia está acabando.

Nem tão correto, nem tão bonito,
O infinito não é um Deus.
É tão incerto e tão perdido,
Como o grito de quem perdeu.

Ver em sépia é belo.
Mas é de entristecer.
Não se sabe quando é alvorada,
Nem quando é anoitecer.

Então eu sobrevivo.
Continuo a suar.
Me esforçando ao máximo,
Para ver motivos de respirar.

Consciência alterada.
Cuidado!
Personalidade alternada.
Cuidado.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Estou cansado

Estou cansado.
Minhas emoções estão abafadas.
A alma nada em pecado,
E os sentimentos são afogados.

Deixo a alma onde passo.
Faço questão de marcar presença.
Mas sei que a cada passo,
Me perco na existência.

Estou cansado.
Não sinto identificação.
Olho para o mundo a minha volta,
E vejo só uma multidão,

Indo para a mesma direção,
Sob a dura condição,
De anular a emoção,
E não agir com o coração,

Sem se importar com seu irmão,
Que dorme ao lado, no chão,
Na condição de cão,
Na mais obscura podridão.

A alegria é sintetizada,
Em pinos e papelotes.
E a tristeza é abafada,
Sob pequenos holofotes,

Que carregamos no bolso,
E dependemos para viver.
Compramos o nosso calabouço,
Em doze vezes, no carnê.

As pessoas se odeiam.
Se alimentam de carniça.
Fazem tudo por dinheiro,
São impulsionados pela cobiça.

Estou cansado.

O tic e tac do ponteiro,
Ecoa no precipício.
Torna o tempo incalculável.
Não sei quando é o início.

Não sei quando é o meio.
Não sei quando é o fim.
Sobrevivo em receio,
De acender o estopim.

Cada fase da vida,
É uma montanha escalada.
E foi tanta subida e descida,
Que perdi a rota da estrada.

Mas sigo a intuição.
Minha fiel escudeira.
Nunca me deixou na mão.
Minha única eterna companheira.

Estou cansado.

Não encontro razão,
Não entendo os porquês.
Mas motivo meu coração,
E anulo minha mente de vez.

Assim consigo caminhar.
Assim consigo sobreviver.
A vontade vem em segundo lugar,
A necessidade é de vencer.

E já que estou cansado,
Sem pernas para andar,
Vou me jogar do precipício,
Pois aprendi a voar.

sábado, 4 de fevereiro de 2017

Epilepsia II

Ouço um estalo.
Os ouvidos começam a apitar.
Então eu me calo.
E ouço demônios a cantar.

Eu sinto e não falo.
Não estou mais aqui.
Pra este mundo, morri.
De repente sumi.

Estou no escuro.
No inferno mais quente.
Estou no calabouço,
Da minha própria mente.

Estou trancado,
Mas estou vendo a chave.
E algemado, estou impossibilitado,
De conquistar minha liberdade.

Uma viagem astral.
Uma visita ao Umbral.
Vislumbrando um vendaval,
De tormento emocional,

Que não chega ao final.
Nunca chega ao final!
Esse mal espiritual,
Não me deixa ser igual!

Me impede de crescer,
De viver e de vencer.
Faz eu querer e não poder.
Só me faz enrijecer.

E assim, perder,
Toda a malícia do meu ser.
Deixar de crer,
É o mesmo que morrer.

Abro os meus olhos,
E vejo vários outros ao meu redor.
Arregalados e com medo,
Do meu sangue e meu suor.

Limpo a boca, cuspo sangue,
E volto pra luta.
Meu Santo é forte,
Mas é um filha da puta.

Minha meta é a cura.
É tudo que sempre quis.
Preciso tornar minha alma pura.
Depois penso em ser feliz.

Deito de novo com sangue na boca,
E vestígios de ti no travesseiro.
Mas desta vez estou determinado,
A sair desse cativeiro.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Picadeiro

Feiticeiro da alegria,
Empatia de guerreiro.
Ferreiro da armaria,
Empatia de curandeiro.

Eu vivo sob a lona,
Em um universo teatral.
Em meio a cuspidores de fogo,
E muitos palhaços do mal.

Eu vivo entre malandros.
Eu conheço a malandragem.
E sei que ela é tão frágil,
Quanto a minha maquiagem.

Eu vivo sob a sombra.
Vivo um roteiro.
Eu preparo a iluminação,
E decoro o cenário inteiro.

Já engoli muita espada,
De rasgar estômago e coração.
Não me restou quase nada.
A atuação é a exceção.

Os melhores lugares,
São de quem chegar primeiro.
Por favor, se acomodem!
Nada aqui é verdadeiro!

Eu tenho medo dos domadores.
Do chicote, do seu show de horrores.
Alimentam a alma de predadores,
Com entretenimento sem pudores.

Show de cores e de luzes.
Faltam amores, sobram cruzes.
Show de maquiagem e atuação.
Falta improviso, falta ação.

E o berro que meu peito dá,
Se equaliza na música circense.
E a tristeza que em mim está,
É show que não há quem dispense.

Eu sempre me dirijo a luz central.
Não importa o meu paradeiro.
É meu papel no universo teatral.
Eu me encaixo no picadeiro.

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Morte no motel

Na cama de um motel,
Derramo lágrimas de lobo.
A solidão da noite é cruel,
É melhor não brincar com fogo.

Em posição de feto,
Me vejo no espelho de teto.
Eu estou bêbado e drogado,
E não sobrou nem um trocado.

Deixei as de 10, 20 e 50.
Fiz um empréstimo no banco.
Deixei a minha dignidade,
Nas mãos do traficante de branco.

Vou até o banheiro,
Até as águas sagradas da pia.
Não vejo meu reflexo no espelho,
Não tem dia, após o outro dia.

Lembro dos meus parceiros,
E escrevo uma poesia.
Acendo um cigarro, o terceiro,
E ofereço a Dimas, o primeiro.

Penso no nascer do dia.
E em como seria, se não nascesse.
Esqueço quem já fui um dia,
Já não há nada do meu interesse.

A indiferença reina.
E isso é proposital.
Muita fumaça, muita fumaça!
Anula o emocional.

Coloco o fone de ouvido,
Ligo um rap, e coloco a lupa.
Mas é só porque estou ferido.
Por isso o beck, por isso a culpa.

Está passando pornô na TV,
E eu estico a última do mal.
Tento a última ligação para você,
E caiu de novo na caixa postal.

Deve estar com o fulano.
Ou quem sabe com o cicrano.
Mas não importa, mano.
Só importa a droga e o cano.

Respiro bem profundo,
E tomo mais alguns comprimidos.
Me despeço desse mundo,
Com um último pedido,
.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Surto

Me sinto trêmulo
Me sinto mal.
Pensamentos castigando,
De uma forma anormal.

O peito está pequeno.
Não cabe tanto sentimento.
Me sinto comprimido.
Tragam-me um compromido!

Quero gritar!
Quero correr!
Quero me expressar!
Quero me esconder!

Abaixo a tela brilhante,
Da frente do meu rosto.
Vejo a realidade ofuscante,
E me sinto exposto.

Hoje, me sinto distante.
Como o som de uma cachoeira.
Ecoando em vidas alheias.
Deixando sem sono, a rezadeira.

Vários acontecimentos,
Feridas e tormentos,
Me indispuseram com o mundo.
Pois vivi e vi o quanto é imundo.

Eu, mudo,
Mudo de lugar.
Quero gritar que não quero!
Mas estou impossibilitado de falar.

As pessoas me assustam.
O egoísmo não é opional.
É o instinto de sobrevivência,
Que é ensinado no jornal.

Insano e sociopata,
Me escondo de mim mesmo.
E interpreto, de alma manchada,
Felicidade em cada acontecimento.

A dor trouxe resistência,
E o amor foi abafado.
Essa é a penitência,
De um poeta louco e machucado.

Por isso desce mais uma quente,
Para eu ficar no meu estado normal.
Essa insanidade inconsequente,
Ainda vai me levar para o umbral.

Mas eu nasci assim.
Sou regido por Dionísio.
A loucura habita em mim.
É assim desde o início.

Ando anestesiado.
Sem sentir, sem falar.
Ando intoxicado.
Sem sorrir, sem respirar.

Termino o último trago do cigarro,
E o surto vem.
Mente sequestrada, eu me amarro,
E sou refém.

Olho para frente, e nada vejo.
Pois já caminho sem pressa.
Olhando para o chão,
Seguindo o roteiro da peça.

Mas sou protagonista.
E o protagonista, é louco
Todo louco, é um artista.
Pois sua visão muda um pouco.

Minha vida é intensa.
Muita coisa já aconteceu.
E com isso me afirmam:
"Pelo menos você cresceu".

E se não cresci?
E se simplesmente não transmiti?
E se eu me fechei?
E se eu não me acostumei?

E se na verdade,
Eu não for tão forte assim?
Você ainda vai olhar,
E se orgulhar de mim?

Dizem que sou maduro.
Que não pareço ter minha idade.
Que tenho uma cabeça boa.
Que sou exemplo de vontade.

Que perdi, que sucumbi, virei zumbi.
E que lutei, que apanhei, mas ganhei.
Quando na verdade, eu só sobrevivi,
Cheio de cortes que ainda não cuidei.

Mas sigo em frente,
Com um norte pra chegar.
Pintando meu caminho com aquarela,
E deixando o resto acinzentar.

Um vulcão de sentimentos.
Uma mente em erupção.
Escrevendo, desesperada,
Tentando encontrar uma solução.

Há ódio em minhas palavras.
Um vômito por extenso.
Para me livras de minhas mágoas,
Mantenho em mente o clima tenso.

Repito os pensamentos,
Para que eu não me esqueça.
Então revivo os sentimentos,
Para que a dor permaneça.

E que eu possa abraça-la.
Que a dor possa me confortar.
Que ela me traga alívio,
Por não precisar mais te encontrar.

Me sinto aliviado.
Meu coração desacelerou.
Posso parar de escrever.
O surto passou.