terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Viagem



As vezes acho que a forma que vejo o mundo, não é normal.

Tudo que é claro, pra mim é reluzente. Tudo que é escuro, pra mim são trevas. Tudo que é grande, pra mim é gigante. Tudo que é pequeno, pra mim é minúsculo. Tudo que é normal, pra mim é simbólico.

Vejo além. Como se tivesse um terceiro olho.

Fecho os olhos.
E na escuridão de meus pensamentos, enxergo a realização do Big Bang. A partir disso... Começa o meu universo.

Navego no céu em uma nuvem, usando raios como remos. Pego um pedaço da Lua, e assim como se faz com o marshmallow, esquento o mesmo no sol. E me delicio em orgasmos astronômicos. Faço lá o meu caminho... Passo pelo reino de Jesus, de Zeus, de Alá, de Heka, Ptah e Rá, de Odin e Alfadur, de Obatalá e Oxalá, de Brahma, Vixnu e Xiva e de Gamab. Faço meu passeio pelos céus, remando com meu raio, emitindo luz para a Terra. Pulo de minha nuvem, e ela escurece. E apenas dela, num local específico, começa a chover.

Neste local, há uma árvore. Que com a chuva constante da nuvem que outrora eu utilizava, começa a crescer numa velocidade impressionante. E frutos começam a surgir! Frutos de todos os tipos. Maçãs, bananas, peras, uvas, jabuticabas, mangas... Espadas, punhais, shurikens, adagas, martelos... E música! Emanando um som suave, que começa a atrais seres de todas as espécies. Medusas, Ninfas, cachorros, gatos, corujas, tigres, leões, águias, Minotauros, serpentes, palhaços, dinossauros, e... Humanos. Deixo todos contemplarem a árvore, seus frutos, sua melodia, e me afasto, rumo ao mar.

Mergulho, e por instinto, crio guelras. Nadando, converso com Poseidon, e recebo orientações... Passo reto pela Yara, pois logo a frente vejo Atlântida! Com cavalos marinhos relinchando no portão inteiro de ouro maciço. Sereias coloridas rodeando as torres, fazendo um lindo espetáculo, emanando luzes para todos os lados. O portão se abre. Vejo tochas de fogo, interagindo com a água do mar, mostrando uma trilha. Que sem pestanejar, segui. No caminho, várias esculturas de gelo prontas, e outras, sendo esculpidas por polvos com tentáculos muito habilidosos. No final da trilha, um baú velho, bastante antigo.

Ao abri-lo, abri também meus olhos.
Vi o teto da minha sala de estar.

Rumo ao nascer do sol



Estou voando rumo ao nascer do sol.
Rumo ao amarelo radiante.
Minhas asas estão cansadas,
Mas me sinto confiante.

Já vejo vestígios do clarão!
Meu esforço está valendo a pena.
Depois de tanta oração,
Minha fé já não é pequena.

A cada minuto, a luz sol mostra sua perfeição.
Luz que aumenta o brilho em meus olhos.
Luz que me aproxima da minha reparação!
Luz que emana a sombra de meus poros!

Há muito o que voar.
Mas é hora de pousar.
É hora de repousar.
É hora de caminhar.


segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Transição



Vi voar meu anjo iluminado,
Procurando um ponto de observação.
Vi voltar um demônio alado,
Ofuscando a minha visão.

Olho meu reflexo no espelho.
Vejo um olho em meu pescoço.
Olho dilatado e vermelho,
Do passado, apenas um esboço.

Um olho grande de pavor.
Um olho cego.
Um olho desesperador.
O olho do ego.

Ao me deparar com o sábio leão,
Preciso tomar minha decisão.
Matar o ego e seguir sua orientação,
Ou manter em mim, vestígios de ilusão.

O corte é impiedoso.
É doloroso.
E o anjo que outrora foi manchado,
Agora está integrado.

Meio luz, meio sombra.
Perfeita harmonia.
Uma asa negra como a noite,
E outra clara como o dia.

Nisso me transformei.
Em um anjo no purgatório.
Integrando tudo o que sei,
E o que acho notório.

Escureço o dia,
E clareio a noite.
Aqueço o gelo,
E esfrio o fogo.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Uma caixa chamada amor



Em mim há uma caixa chamada amor.
Caixa linda, bela e reluzente.
Você a abriu com seu calor,
E seu jeito inocente.

Com seu sorriso apaixonante.
Com seus olhos cor de mel.
Com essa forma exuberante,
De me fazer tocar o céu.

Com a forma que me olha.
Com a forma que me beija.
Com a forma que me toca.
Com a vontade que me deixa.

Com nossa troca de olhares.
Com o deslizar de nossos lábios.
Com nossas trocas de ares.
Com seus conselhos sábios.

Permanecerá aberta.



sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Pedro e sua sina

Pedro Fervor era bom moço.
Vivia no escasso Sertão.
Tinha marcas da vida em seu rosto,
De sua frequente humilhação.

Pai alcóolatra descontrolado,
Mãe prostituta por opção.
Vida normal no humilde Serrado,
Acostumado com caos e destruição.

Pedro Fervor, pedreiro com treze anos,
Via sua mãe apanhar diariamente.
Mas não desistia de seus planos,
Fugir, e tentar viver dignamente.

Decidido, Pedro juntou um bom dinheiro,
Pegou um ônibus e foi para São Paulo capital.
Com o sonho de se tornar um engenheiro,
Deixando o passado no umbral.

Logo descobriu que outros tantos,
Tinham o mesmo pensamento.
Outros que estavam lá a anos,
E viviam apenas de sofrimento.

Um dia seu passado retornou.
Foi a um prostíbulo espairecer.
Pela prostituta se apaixonou,
E no trabalho, não a deixou permanecer.

Seu nome era Joana Juliana,
Linda moça de cabelos castanhos.
Com ele se tornou uma pobretona,
E reduziu quase todo seu ganho.

Cansado de passar dificuldade,
Pedro Fervor se afundou na bebida.
E descontava com crueldade,
Sua raiva em quem já chamou de "querida".

Com todo o dinheiro gasto com seu vício,
Deixou a mesa sem comida.
Joana precisou fazer um sacrifício:
Atender ex clientes e ver sua vida destruída.

Quando Pedro Fervor ia trabalhar,
Joana Juliana ia se arrumar.
Após o trabalho, Pedro ia se embebedar,
E Joana, se limpar.

Um dia Pedro resolveu não beber.
Voltou mais cedo para casa.
Encontrou Joana nua, a se oferecer,
Para um Italiano conhecido por Pazza.

Pedro pegou sua peixeira trazida do nordeste,
E não titubeou.
Esfaqueou loucamente o cafajeste,
E sua cabeça arrancou.

Joana Juliana estava desesperada.
Tentando explicar ao seu marido sua condição.
Ele não quis ouvir, e em sua barriga deu uma facada.
Joana gritou por dor no coração.

Chorando, disse: "querido, estava grávida.
Em sua bebedeira, deixou faltar alimento.
Queria nosso filho saudável,
Para te tirar de seu sofrimento."

"Agora serei enterrada com nosso filho.
Será um peso para você carregar.
Você se tornará um andarilho,
E de nós, sempre vai lembrar."

Joana Juliana fechou os olhos.
Uma última lágrima escorreu.
Diante daquela horrível cena,
Por dentro, Pedro também morreu.

Não podia viver com essa dor.
Saiu rumo ao edifício que trabalhou.
Chamou Deus de traidor,
E lá do alto se atirou.