Olho meu reflexo no espelho,
Mas vejo algo de diferente.
Meu olho refletido está vermelho,
E não estou tão consciente.
Converso com o reflexo de meu ser.
Tentando entender o que estou vendo,
O que estou deixando de ver,
Ou talvez o que em mim está morrendo.
Vejo minha vontade refletida.
Materializada, bem na minha frente.
Rindo de minha própria ferida.
Vendo como "ele" se sente.
Vejo a máscara que cobria minha face.
Sinto raiva de meu próprio sorriso.
Por, em reflexo, pertencer a essa classe,
Que vive no puro improviso.
De uma velha e úmida gaveta,
Tiro um 38 empoeirado.
Atiro no reflexo de minha jaqueta,
E vejo o espelho despedaçado.
Atirei em meu reflexo com jeito,
E mesmo assim doeu.
Vi o furo da bala em meu peito,
E de verdade, o sangue escorreu.
Está morta a antiga personalidade.
Junto com todos os seus pudores.
Pois as vezes é necessária a atrocidade,
Para que nasça novos valores.