quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Deixe-me mas não deixe-me



Deixe-me explicar,
O que não tem explicação.
Deixe-me demonstrar,
O que não há demonstração.

Deixe-me tentar!
Estou ficando sem ar!
Deixe-me exagerar!
Preciso dizer o que é te amar!

Ver em seu olho, mais brilho que o luar.
Mais profundidade que o azul do mar.
Mais pureza que a voz de um anjo, a cantar.
Mais leveza que uma pluma, a voar.

Ver em seu sorriso, extrema sinceridade.
Força comparada ao sol, e sua claridade.
Ver também a ingenuidade,
De uma criança sem maldade.

Assim como o sol beija o mar no fim de tarde,
Em você, me apago e me acendo.
Sem nenhum alarde,
Vou aprendendo, a não ficar dependendo.

Com as pernas tremendo,
Estou vendo.
E não repreendo.
Apenas finjo que entendo.

Entre nossas almas, há conexão.
Algo muito mais profundo do que emoção.
Entre nossos corpos, interligação.
Algo muito mais profundo do que paixão.

Entre nosso olhar, há entendimento.
Entre nosso riso, há entretenimento.
Entre nosso amor, há consentimento.
Entre nós... Existe nós.

Por isso,
Deixe-me te beijar!
Deixe-me te fazer feliz!
Deixe-me te abraçar!
Deixe-me segurar seus quadris!
Deixe-me te amar!
Mas nunca,
Nunca deixe-me.

sábado, 18 de outubro de 2014

Meu coringa interior


Para o jogo do viver,
É preciso ginga.
Entre crescer e morrer,
Você tem um coringa?


Existe um coringa no meu interior.
Palhaço astuto e sorrateiro.
Por muito tempo, culpado de minha dor,
Mantendo minha luz em cativeiro.

Ele não busca poder.
Ele não busca dinheiro.
Ele busca caos pelo caos,
E assiste detrás do nevoeiro

Seu sorriso é permanente.
Pois sua felicidade vem com a dor.
Ele é somente um inocente,
Pois ele mata com amor.

Mata crenças e valores.
Mata o que é belo e puro.
Faz parte do grupo de caçadores,
De tudo que tem futuro.

Houve um tempo que ele conseguiu.
Eu não tirava o sorriso do rosto.
Diante da situação ele apenas riu,
E não se moveu do seu posto.

Mas o tempo passou, e muita água rolou.
Percebí que cicatrizes, são só cicatrizes.
Então, o sorriso do coringa se camuflou,
Por trás de todas as minhas raízes.

Este palhaço cruel,
Já não pode me prejudicar.
Pois hoje me mantenho fiel,
Aos princípios que insisto em carregar.

Não existe marca que não possa ser apagada.
Não existe dor que não pode ser aliviada.
Não existe sofrimento que não pode ser evitado.
Existe apenas uma forma de superar o passado:

Assuma que tem um coringa.

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Amor ao olhar do poeta


Nem um coração bem sucedido,
Pode explicar esse sentimento.
Pois o que é para ser sentido,
É dito apenas no momento.

Existem tentativas de explicação,
Mas todas são incompletas.
E toda essa confusão,
Fode com qualquer poeta!

Pois cabe a ele a tentativa de explicar.
Materializar o que se sente e não se pode falar.
Sonhar em dobro e fazer a metáfora cantar,
Tentar compor em versos a beleza que é amar.

Mas como explanar tal sentimento,
Se é mutável e blindado?
Tal dúvida é um tormento,
Pois não dá para exagerar o exagerado.

Ao amor presente restam as metáforas.
Ao amor passado restam as anáforas.
Ao amor futuro restam as catáforas.
À mistura de tudo restam as diáforas.

Pois amar, é enxergar o que não se pode ver,
Sem poder observar e apenas contemplar.
É sentir, sem nada entender.
É de corpo e alma se entregar.

É de si mesmo cuidar,
É acima de tudo se amar.
É não prender, e deixar o outro voar,
Para que as asas do amor, não passem a atrofiar.

Falar de amor é redundante,
Pois sempre chegaremos ao mesmo lugar.
Já que amar é ser um eterno estudante,
De simplesmente amar.

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Você simplesmente apareceu.


Você se tornou minha confidente,
Minha companheira sorridente.
Simplesmente apareceu,
E com seu olhar me envolveu.

E hoje o sol nasceu,
Como há muito não nascia.
Ouvir que o seu sorriso é meu,
Transformou o meu dia.

Há muito não acontecia,
Essa troca de energia.
Há muito não me importava,
E esse sentimento não brotava.

Essa alegria, harmonia,
De esperar passar o dia,
Somente pra te ver,
E em sua boca me perder.

Um sorriso reluzente,
E um discurso eloquente,
Que diz calmamente:
"Estou me apaixonando lentamente".

Olhar profundo como a água do mar,
Cabelo solto, pelo ar a voar.
Entre quatro paredes não há o que pensar...
Pois não da tempo. É só viver e se entregar.

Ser um exagerado,
Nunca foi minha meta.
Mas se isso é pecado,
Qual a graça de ser poeta?

Se minha poesia é feita de momento,
Porque não materializar esse sentimento?
É uma forma de entender e aprender,
Que minha alma nunca vai envelhecer.

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Ouço vozes


Vozes tomam forma de pensamento,
Tentando me desviar e confundir.
Forçando-me a ficar sempre atento
Com quem falar ou persuadir.

Vozes de inúmeros tons,
De inúmeros formatos.
Vozes com vários sons,
Me dando intensos ultimatos.

Um palavra ou um gesto,
É incrivelmente suficiente,
Para em forma de protesto,
Tentar seduzir minha mente.

Me fazer renunciar o futuro a minha frente,
Vomitar a chave da algema e ser condenado.
Passar a viver um presente,
Muito parecido com o passado.

Digo não a todo momento.
Recuso sempre a mesma proposta.
Para que um dia esse tormento,
Já não precise de resposta.



domingo, 31 de agosto de 2014

Amor Platônico




Um conceito inatingível,
Uma ação invisível,
Um desejo inconcebível,
Um grito inaudível.

De muito longe, consigo te avistar.
Vejo seus passos, seus cabelos a queimar.
Solto um suspiro, sinto falta de ar,
E uma puta vontade de te beijar!

De olhar em seu olhar penetrante,
De beijar o seu beijo sufocante,
Experimentar a experiência intrigante,
De me silenciar no seu silêncio excitante.

Imensurável é o desejo pelo intocável,
Inimaginável, é concretizar o imaginável.
Improvável, é pensar que é provável.
Incurável, é a dor de manter no amigável.

Cômico e anacrônico,
É esse Amor Platônico.
E se estás nesse círculo sincrônico desarmônico,
Digo para você, em tôm irônico:

Você tá fudido.


sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Ladra de sonhos



Mulher odiada e claramente vil.
Deixou seu último amante senil.
Psicopata, armada de mentira,
Sempre disposta a disseminar sua ira.

Ladra de sonhos e de corações.
Musa da dor e das mutilações.
Transforma a loucura em cultura,
Fura, tortura e fratura qualquer criatura.

Coloca algemas na liberdade,
Mas se mostra livre à sociedade.
Não há como matá-la,
Nem como derrubá-la.

Sedenta pelo sangue do inocente,
Para acabar com o amor remanescente.
Para dissipar o Deus do ambiente,  
Sob o pretexto de um momento reluzente.

Para você que foi infectado,
Aqui vai um importante recado.
Não há como matá-la,
Nem como derrubá-la,

Mas há como neutralizá-la.

Faça dela sua companheira.
Mas cuidado com a cegueira.
Confesse seus pecados diariamente,
E se torne mais um sobrevivente.  

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Minha companheira solidão



Minha fria companheira,
Que acompanha meus pensamentos.
Autora da minha olheira,
E de meus mais sórdidos sentimentos.

Que me acorda de madrugada,
Com o travesseiro encharcado.
Que pesa uma tonelada,
E me deixa machucado.

Que me acompanha diariamente,
Que não sai da minha mente.
Quem assiste não mente,
Se diz que ajo como demente.

Seu nome se define.
É impiedosa, e sem coração.
Por isso, se vacine,
É chamada solidão.

Tortuosamente amada,
Inegavelmente odiada,
Culturalmente adorada,
Irresistivelmente detestada.

Morre uma crença, um valor.
Vem um vazio, uma busca por paixão.
Junto vem a tal conhecida dor,
E minha companheira solidão.

Um paradoxo sem explicação.
O "ser só", ser minha companhia.
Minha escudeira, companheira solidão,
Me acompanhe dia após dia.

Não é uma opção fazer de ti um pesar,
Então quero que se sinta acolhida!
Vou apenar lhe saudar:
Seja bem vinda a minha vida.

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

O soldado desistente



O soldado se preparou para a batalha.
Pôs na trouxa um reservatório.
Para conservar as lágrimas de um canalha,
Que adorava dificultar o simplório.

Foi disposto a sangrar.
Foi disposto a sofrer.
Mas não queria se enganar,
Nem pro passado retroceder.

A desistência nunca foi uma opção,
Pois a guerra é travessa.
Mas ele aprendeu uma lição:
Um soldado não luta sem cabeça.

Ele foi decapitado,
Sem direito à defesa.
Aprendeu que através do pecado,
Se chega até a pureza.

Sem condições de continuar,
Ele levanta bandeira branca.
E com seriedade singular,
O próprio coração tranca.

Fecharam-se os portões.
A gelada escuridão tomou conta.
Hoje sua própria assombração,
É sua maior afronta.

Por ter andado desprotegido.
Por manter a espada embainhada.
Por manter seu amor escondido,
E sua fé enjaulada,
Ele manda dizer que desiste.

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Ei garota

Ei garota da mochila roxa.
Eu acho que estou apaixonado.
Também acho que fiquei com cara de trouxa,
Escrevendo seu nome no box embaçado.

Logo eu, que não queria amar.
Logo eu, que não queria sofrer.
Logo eu, que jurei não me entregar,
Logo eu, que precisava amadurecer...

Ei garota,
Aliança no dedo, quem diria,
Que um dia ia amar.
Você sorria, ria de alegria e dizia:
Eu não pedi para você se aproximar.

Ei garota,
O tempo passou, e a história complicou.
Nossos valores inverteram.
O Conto de Fadas, um Terror se tornou.
Mas os sentimentos não morreram.

Floresceram.
Cresceram.
Se expuseram.
E nos dominaram.

Ei garota,
Eu voltei!
Foi realmente muito foda.
Diz pra sua mãe que eu cheguei,
E pede para ela comprar uma soda.

Ei garota,
Você lembra?

O cheiro ruim do meu cigarro,
A sujeira no seu crocs,
Do meu pra sempre, o seu sarro,
No meu quarto, um filme na fox.

Conversar com a lua,
Pichação na rua,
Você toda nua,
Nosso corpo flutua.

Plaza sul,
Céu azul,
Outback,
Garçon Jack.

Ou era Poul?
Brian?
Foda-se.

Ei garota,
Nossa trilha se dividiu.
Cada um foi para um lado.
O meu canto está sombrio,
Mas não posso ficar parado.

Porque se nessa trilha eu parar,
Realmente nunca vou saber,
Se no final nosso caminho vai se cruzar,
Ou se assim vai permanecer.

Ei garota!
Aqui estão os versos simples que você pediu.
Sem aquela linguagem figurada e rebuscada.
Eis aqui o relato de um poeta que sucumbiu,
Mais uma vez a vontade de sua amada.

Ei garota!
Vem me acompanhar.
Vamos ouvir os antigos discos.
Vem me apoiar,
Pois sem você meus versos são só rabiscos.

Ei garota!
Não quer saber por onde ando?
Porque não me responde?
Ficarei perdido até quando?
Não tenho mais você para dizer para onde.

Ei garota.
Desculpe garota.
Você já não é mais garota.
Eu te amo mulher.

Qual foi o ponto que te perdi?

quinta-feira, 31 de julho de 2014

O assassinato compreensível


Era bom menino e estudava.
Passava gel no cabelo para o lado.
Todas as matérias, ele dominava.
Mas era um completo inadequado.

Correu para casa com o boletim na mão,
Para mostrar para a mãe, bem animado.
Chegou e viu sua mãe no chão,
Sendo chutada pelo seu pai alcoolizado.

Um grito de "para" foi suficiente,
Para desfocar do seu pai a atenção.
E o bêbado, como um demente,
Correu em sua direção.

O socou,
O derrubou.
O chutou,
O ridicularizou.

O tempo passou,
E aquela cena se repetiu.
De novo.
E de novo.

Então começou a transformação.

A calça, ele abaixou,
E a roupa ficou folgada.
Um fone de ouvido ele colocou,
Para fugir de sua mente endiabrada.

Na escola, ele já não era mais inadequado.
Na rua, passou a ser respeitado.
Era agora, um cara "descolado".
Pois no beco, conseguiu um revólver quadrado.

Chegou em casa de madrugada,
Depois de fumar muita maconha.
E viu seu pai sufocando a coitada,
Com um travesseiro sem fronha.

Foi gritado o mesmo "pare" do passado.
Mas agora com imponência.
Pois antes ele era só um "retardado",
E hoje, perdeu a inocência.

Como de costume, o bêbado atacou.
E dessa vez, ele revidou.
O nariz do pai ele quebrou,
E de sangue, sua camisa encharcou.

Ele gostou da sensação.
E nem ligou para a mãe horrorizada.
Ao ver seu filho com uma arma na mão,
Atirando no homem e dando risada.

O menino foi preso,
A mãe se matou.
E ninguém ficou surpreso,
Pois foi o cara que provocou.

Ele não sabia pelo que lutar.
Ele não sabia para que crescer.
Mas sabia pelo que matar:
Para sair do inferno que era viver.

quinta-feira, 24 de julho de 2014

O crescer



O crescer.
O crescer é o sofrer.
É adoecer ao adormecer.
É o anoitecer após o amanhecer.

É querer e não poder.
É viver e não crer.
Se abster de adoecer,
E ter sede de ceder...

É o escrever, o ler.
O fazer acontecer.
É aprender a bater,
E depois se arrepender.

É do meu eu não esquecer,
O deixar de falar por me ater.
Deixar defeito apodrecer,
E dar para o cão comer.

É o bendizer e o maldizer,
O me locomover a comover.
É plantar e colher,
Para então compreender.

Que crescer também é correr,
Contra o tempo e o chover.
É aprender a me defender,
Sem me contradizer.

É de dor me contorcer,
Com minha sombra me corresponder.
É meu sentimento descrever,
E meus versos desenvolver.

É dos valores desprender,
Por certo tempo emudecer.
Me enfurecer e enfraquecer,
Sem depois me entorpecer.

Pois quando mais digo conhecer,
Mais passo a desconhecer.
Disse o sábio sem se exceder:
Você tem muito caminho a percorrer.

Chego a conclusão que crescer,
É em partes morrer.

quinta-feira, 17 de julho de 2014

Do céu, ao inferno



Andando em uma nuvem macia e bela,
Sinto o vento com cheiro de canela.
Tudo claro, puro como o marfim,
Sem encontrar para o horizonte um fim.

Crianças brincam e se divertem.
Vestidos brancos são tudo que vestem.
A paz é generalizada.
A inocencia é imortalizada.

Então escuto um trovão.
Se abre um abismo no chão.
Pessoas somem na escuridão.
E me encontro novamente na solidão.

O calor sumiu.
A felicidade fugiu.
Agora é eterno inverno.
Ouço: Seja bem-vindo ao inferno.

A morte me é apresentada.
Por aqui, ela é cultuada.
Recuso a oferta camarada,
E como castigo, recebo chicotada.

Vejo morte.
Vejo dor.
Vejo um corte,
Vejo "amor".

Todos usam uma máscara chamada felicidade.
Mesmo em completo estado de calamidade.
Sabendo eu, que tudo isso é ilusão,
Como isso pode atrair meu coração?

Me atrair pelo diabólico?
Hoje tenho a solução:
Partir para o simbólico,
E cumprir o sacrifício dessa encarnação.

“VAI-SE POR MIM À CIDADE DOLENTE, VAI-SE POR MIM À SEMPITERNAN DOR, VAI-SE POR MIM ENTRE A PERDIDA GENTE.
MOVEU JUSTIÇA O MEU ALTO FEITOR, FEZ-ME A DIVINA POTESTADE, MAIS O SUPREMO SABER E O PRIMO AMOR.
ANTES DE MIM NÃO FOI CRIADO MAIS NADA SENÃO ETERNO, E ETERNA EU DURO. DEIXAI TODA ESPERANÇA, Ó VÓS QUE ENTRAIS”.
(Fragmento do Canto III do Inferno da “Divina Comédia” de Dante Alighieri. Editora 34. 1998. Tradução e nota de Italo Eugenio Mauro)

Fonte para o trecho da Divina Comédia: http://lounge.obviousmag.org/o_limiar_da_lucidez/2012/05/o-inicio-da-jornada-dantesca-ao-inferno.html#ixzz37lwHGGMk 

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Suicídio


Você já se suicidou?
Eu já, e recomendo.
Foi logo depois que o futuro me chamou.
Eu não sabia o que estava perdendo.

Se és suicida de primeira viagem,
Aconselho calma.
Precisará também de coragem,
Para a purificação de sua alma.

Se está preocupado com o pós,
Afirmo que não está preparado.
Ou acabará como os faraós,
Simplesmente embalsamado.

Um verdadeiro suicida não se sobrecarrega,
De pensamentos  de controle sobre o futuro.
Ele simplesmente pratica a entrega,
Ao seu Deus, seu porto seguro.

E nesta última transcendência,
Me atirei com facilidade.
Afinal, já possuia certa experiência.
Tudo em favor da minha liberdade.

Não me deixei tomar pela agonia.
Aproveitei cada segundo.
Sentí em meu rosto a gélida ventania.
Foi quando escureceu o meu mundo.

Depois de tanto homicídio,
A solução foi o suicídio.
Para a mudança de personalidade,
Precisei matar a minha vontade.

A cada automutilação,
Valores e crenças eram decepados.
Aqui jaz um alguém sem coração,
Para o nascimento de um novo soldado.

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Diálogo com a imperfeição


- Olá! Por onde você andou?
- Quem está falando?
- Aquela que nunca te abandonou.
- Você de novo me atormentando?

- Sentiu saudade?
- Você está morta.
- Não tem como matar a imortalidade.
- Pra você, não vou abrir a porta.

- Mas nós fizemos um pacto!
- Isso faz parte do minha vida passada.
- Mas você não sofreu todo o impacto!
- Se você não está morta, está enjaulada.

- Você não me manterá presa pela eternidade.
- A eternidade é muito tempo, penso no hoje e no agora.
- Mas e a nossa amizade?
- Morreu com a luz da aurora.

- Você não pode matar um espírito nem tentando.
- Essa nunca foi a minha intenção.
- Então porque não está me libertando?
- Porque você é a minha imperfeição.

- Você permanecerá presa, para que haja paz.
- Sendo usada e integrada.
- Mas...
- Sem mas. Sua sentença está cravada.

quarta-feira, 18 de junho de 2014

Uma criança com o coração partido


Uma criança com o coração partido,
Caminha solitária com o rosto ferido.
Marcas da noite, da podridão,
Marcas do suborno da ilusão.

Linda morena, de idade dez.
Cheia de bolhas em seus pés.
Caminha descalça no chão quente,
Sem nenhuma dor aparente.

Na escaldante orla carioca,
Ela avista um carrinho de pipoca.
Estava com muita fome,
Mas nessa hora, quem tem grana some.

Não tinha outra alternativa,
E tomou a iniciativa.
Pediu.
Sorriu.

O vendedor estava segurando sua cachaça,
E achou muita graça.
Uma menina daquela idade,
Já bebendo com autoridade.

Ele bebeu.
Ela bebeu.
Ele se embebedou.
Ela se embebedou.

Vida mais que cruel.
Num quarto de motel,
O céu escureceu.
E uma estrela morreu.

Estrela chamada Ingenuidade.
O astro mais belo da humanidade.
Trucidado.
Explorado.

Seu nome era marina.
Era apenas uma menina.
Hoje não tem mais nome.
É conhecida apenas por um pronome:

Puta.

domingo, 15 de junho de 2014

Premonição



É o chamado para o apocalipse!
Ouço soar uma corneta.
No céu é formado um eclipse.
Vejo asas pisoteadas de uma borboleta.

A multidão está gritando!
O caos está instalado.
Por suas vidas, estão implorando!
Para ouvir seus nomes, estão rezando.

Mas não há nenhum chamado.
Todos ficaram.
Pois o pecado permanece vinculado.
Todos choraram.

E se arrependeram.

Arrependimento do que foi feito.
E do que não foi feito.
De ter medo do defeito.
Alí no meio digo "Bem feito!"

Anjos dão gargalhadas da multidão.
Crianças chorando, no colo de seus pais.
Desesperados, eles rogam por perdão.
E os anjos respondem: "Tarde demais".

Acordo suado.
Apavorado.
Aterrorizado.
Petrificado.

E agradeço por ter sido só um sonho.
Ou será que não?
Será que esse devaneio medonho,
Não é também uma premonição?

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Cheiro de mudança


Já não da mais pra ser criança.
Pondo tudo na balança,
Sem aquela confiança,
Sinto cheiro de mudança.

Cheiro estranho e instável.
Repentino e inimaginável.
Não se apresenta amigável,
Nem tampouco suportável.

Vida dura,
Vida pura.
Sem mistura,
Nem ruptura.

Pelas cicatrizes,
Causadas pelas meretrizes,
Ficarei de pé,
Me acompanhe quem puder.

Farei a transição,
Pois possuo aptidão.
Hoje tenho opção,
Já não vivo na escuridão.

E por essa aptidão,
Não vou ficar calado.
E não é por opção,
É porque preciso entender meu estado.

Se conhecer por completo,
Quem não gostaria?
Almejo isso ao meu trajeto,
Mas para isso preciso virar homem um dia.

terça-feira, 3 de junho de 2014

Me enviem um anjo!



O homem sábio estendeu sua mão,
e mostrou-me o caminho.
Ele dizia com convicção:
Você não está sozinho.

Tudo que via era escuridão.
Não conseguia ver o outro lado.
Já ele em aguçada intuição,
Pedia para eu sair do meu quadrado.

Fui sem pestanejar.
No escuro caminho entrei.
E sem ao menos planejar,
O trajeto acertei.

Era plena madrugada.
Não se ouvia um chiado.
Hoje é plena alvorada.
Com pássaros ao meu lado.

Me enviem um anjo!
Quero ter alguém para compartilhar.
Me enviem um anjo!
Para comigo caminhar.

Me enviem um anjo!
Só ele vai conseguir enxergar.
Me enviem um anjo!
Para a ponte eu ultrapassar.
Por favor, eu preciso de um anjo,
Para que eu possa o abraçar.

segunda-feira, 2 de junho de 2014

Faísca de Deus


Nas noites de névoa, calei.
Nas de inverno, sofrí.
Nas de verão me queimei,
E como recompensa, renascí.

Invoquei demônios do passado,
Para vê-los cair.
Não fiquei estagnado,
Mas com vontade de fugir.

Chegou minha esperança!
A força de que precisava.
O brilho que forma uma aliança,
Com a coragem que eu almejava.

Caminhada árdua e tortuosa,
Não vejo o seu fim.
Vejo uma recompensa calorosa,
Pura como marfim.

Esse é o meu sacrifício.
Esse é o meu destino.
Negar minha vontade é meu ofício,
Para que eu toque no divino.

Para que eu sinta a explosão.
Ao passado diga adeus.
Pra que venha em minha mão,
A faísca de Deus.

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Luto



A você que tanto me machucou.
A você que nunca perdoou.
A você que sempre pisoteou.
A você que no passado ficou.

Porque o passado está brilhando?
Lá existe apenas escuridão!
O real brilho está se aproximando,
E não o vejo com exatidão.

Você morreu e deixou vestígios,
Vestigios que só estou sentindo agora.
Depois de torturosos desperdícios,
Chegou a minha hora.

Olho para trás e vejo flores.
Quando na verdade, são dores.
Olho para trás e vejo amor,
Quando na verdade, é dor.

Olho pra trás e vejo uma Rosa
Quando na verdade, é um cravo.
Olho para trás e vejo cenas amorosas,
Quando na verdade, eu era um escravo.

O sentimento é deturpado,
Mas em consciência estou absoluto.
No inconsciente estou mergulhado.
Que venha o processo de luto.




sábado, 10 de maio de 2014

O Castelo na Colina



Era uma noite fria, com a neblina cegando o horizonte. Eu guiava minha Chevrolet Cheyenne 10 preta do ano de 1971, por puro instinto, colina acima, sedenta por uma noite de sono em uma cama quente. Minhas pálpebras caíam sozinhas a cada cinco minutos, e já não conseguia raciocinar direito. Nessa altura, não me importava se algo acontecesse comigo... Minha preocupação era meu Cheyenne 10! Ah, como eu amava esse carro! Então, de longe, avistei um castelo. A primeira vista, bastante amedrontador. Mas não tinha outra alternativa, precisava descansar!

Estacionei meu carro em frente ao majestoso castelo, de firmes rochas já envelhecidas pelo tempo, e fui em direção a enorme porta vermelha que se sobrepunha aquele tenebroso castelo. Com receio, e com minha intuição dizendo enlouquecidamente para eu dar meia volta e procurar outro lugar para descansar, batí na porta. Esperei alguns minutos, e nada. A noite estava extremamente fria, e quando já estava dando meia volta para retornar ao meu carro, uma luz se deixou transparecer pelas janelas que ficavam ao lado da porta. Foi um misto de ansiedade, medo e alívio. A porta se abriu, e para minha surpresa, era um rapaz que aparentava ter no máximo 25 anos, de cabelos castanhos e lisos, até os ombros. Tinha um rosto pálido, e usava uma roupa antiga, que parecia ser dos anos 50!

- Boa noite! Me chamo Lucca, em que posso ser útil a essa hora da madrugada? - Disse o rapaz educadamente.

- Boa noite, me chamo Sara - Disse eu envergonhada. - Estou dirigindo a horas, e como pode ver em meu rosto cansado, preciso urgentemente de uma noite de sono... Não consigo dirigir mais nem um quilómetro! Avistei este castelo de longe, e pensei em perguntar se poderia passar a noite aqui! Prometo não incomodar! 

- Ora minha querida! - disse Lucca em um tom de enorme compaixão - Mas é claro que pode! Entre! Fique a vontade!

Nesse momento, qualquer sensação de temor ou receio tinham sumido. Estava realmente aliviada. Entrei junto com Lucca em seu enorme castelo, e fiquei impressionada. Móveis bastante antigos, quadros de um homem igualmente pálido, em molduras nitidamente velhas, e uma escada em caracol, que levava a todos os andares do castelo.

- Quantos anos você tem Lucca? - Disse eu em um tom gracioso, procurando puxar assunto.

- Ora! - Disse Lucca descontraindo - Que pergunta ruim para se puxar uma conversa!

- Tudo bem, então me diga, onde estão seus pais? - Disse eu dando risadas.

- Eu moro sozinho - Respondeu Lucca em um tom melancólico, como se eu tivesse tocado em um assunto em que ele não gosta de falar. - Minha única companhia, é meu mordomo, o Fred.

- E você não se sente sozinho, morando nesse castelo enorme, apenas na companhia de seu mordomo? E por sinal, onde ele está? - Disse eu, deixando transparecer minha curiosidade. Aquele rapaz tinha realmente me aguçado o interesse!

- Sim, me sinto bastante sozinho na verdade... - Disse Lucca cabisbaixo. - O Fred já deve estar dormindo a essa hora. Mas as vezes a solidão é necessária sabe? As vezes até gosto! - Exclamou, já mudando de feição.

- E você não sai para se distrair? Este castelo é tão isolado...

- Na verdade não. Apenas quando me convidam. Não entro se não for chamado. - Disse Lucca misteriosamente.

Nos calamos. Já nem me lembrava mais do meu cansaço e nem da minha tão esperada noite de sono. Minha intuição gritava para eu sair de lá, mas continuei em direção ao quarto, me sentindo intrigada.
Chegando ao meu quarto, sentamos na cama, e ele gentilmente me ofereceu uma taça de vinho. Aquela altura, eu não pude negar. Ele deixou o quarto, e eu fiquei alí, sentada na cama, com mil perguntas em minha cabeça. Como ele conseguia manter aquele lugar? O que afinal, havia acontecido com seus pais? Porque ele era tão solitário? Quem era Fred, e porque ele possuía um mordomo? Porque tantas antiguidades em sua casa, e porque usava uma roupa da década de 50? 

Podia jurar, que não tinha passado nem dois minutos, e ele já estava de volta, com uma garrafa de vinho dos anos 70! Ele entrou apenas com uma taça, e eu perguntei:

- Não vai me acompanhar?

- Eu não bebo vinho... Na verdade, não bebo nada! Ou melhor, quase nada. - Disse Lucca galanteadoramente. - Aquela Chevrolet Cheyenne 10 lá fora é sua?

- É sim! - Respondí empolgada. - Achei que ninguém nunca ia reconhecer um carro tão antigo! Sou apaixonada por ele!

- Amo antiguidades. - Respondeu Lucca, em um tom óbvio.

- Percebí... - Disse esperando algo mais.

Então Lucca se levantou repentinamente.

- Bom Sara, vou me recolher. Vou fechar a porta quando sair, mas se precisar, é só me chamar que estarei aqui em um piscar de olhos! Meus aposentos ficam logo ao lado. Afinal, como disse antes, não entro se não for convidado. - Disse Lucca deixando algo no ar.

E saiu. Me deixou alí, com a taça de vinho pela metade, e a garrafa aberta no criado mudo. Fiquei paralizada por alguns istantes, sem saber o que fazer ou pensar. Aquele rapaz tinha realmente me deixado intrigada! Tentei esquecer e dormir, mas não consegui. Rolei na cama, andei de um lado para o outro do quarto, e decidi por chamar Lucca. Afinal, ele saiu como se já soubesse que isso ia acontecer! Mais uma vez, minha intuição berrava para que eu não o fizesse, mas eu não dei ouvidos. Acendí a luz, e chamei seu nome em um tom suave, já imaginando que ele não ouviria. Como prometido, ouví três batidas em minha porta. Fiquei alí, parada, na frente da porta, em estado de choque. Então, do lado de fora, ouví:

- Não posso entrar, se você não me convidar.

Então abri a porta. Como um leão enfurecido, ele pulou em cima de mim, e me atirou no chão. Eu estava com um misto de pavor e prazer. Lucca começou a passar seus lábios frios em meu pescoço, até chegar ao meu ouvido e sussurou:

- Respondendo sua pergunta, tenho 238 anos.

De canto de olho, ví saltar duas presas de seus caninos, e sentí uma pontada forte em meu pescoço. É a última coisa que me lembro daquela noite.

Hoje, 90 anos depois, continuo com a mesma aparência daquele drástico dia, em que um pedido de abrigo, ia me condenar a uma eternidade de frieza. Tenho os mesmos olhos vagos, a mesma palidez e pior, a mesma imortalidade de Lucca.

sábado, 26 de abril de 2014

Um chamado da Terra do Nunca


Passei anos na mesma sarjeta,
Colhendo esmolas da ilusão.
Tomando o mesmo tarja preta,
Chamado solidão.

Pego um ônibus lotado
Rumo a Terra do Nunca
Pois recebi um chamado
Da mesma velha espelunca

Submerso em agonia,
Meu caminho está traçado.
Por uma exuberante ironia,
Desenterrarei o passado.

Uma cama metade arrumada,
E metade desarrumada.
A imagem estava camuflada,
Mas voltou pesando uma tonelada.

Fazendo o necessário,
Não estarei mais algemado.
Sem o medo autoritário,
O caixão será deslacrado.

Morrer dormindo é um privilégio,
Pra quem causou tanta dor.
Pois nunca é um sacrilégio,
Quando não existe amor.


segunda-feira, 17 de março de 2014

Meu reflexo distorcido


Olho meu reflexo no espelho,
Mas vejo algo de diferente.
Meu olho refletido está vermelho,
E não estou tão consciente.

Converso com o reflexo de meu ser.
Tentando entender o que estou vendo,
O que estou deixando de ver,
Ou talvez o que em mim está morrendo.

Vejo minha vontade refletida.
Materializada, bem na minha frente.
Rindo de minha própria ferida.
Vendo como "ele" se sente.

Vejo a máscara que cobria minha face.
Sinto raiva de meu próprio sorriso.
Por, em reflexo, pertencer a essa classe,
Que vive no puro improviso.

De uma velha e úmida gaveta,
Tiro um 38 empoeirado.
Atiro no reflexo de minha jaqueta,
E vejo o espelho despedaçado.

Atirei em meu reflexo com jeito,
E mesmo assim doeu.
Vi o furo da bala em meu peito,
E de verdade, o sangue escorreu.

Está morta a antiga personalidade.
Junto com todos os seus pudores.
Pois as vezes é necessária a atrocidade,
Para que nasça novos valores.

quarta-feira, 5 de março de 2014

Sobrevivente



Um simples pedido de perdão,
Nunca seria suficiente.
Para reparar tão obscura traição,
Dos escombros de minha mente.

Precisava do nascer do sol mais radiante.
Da luz amarela que clareia o amanhecer.
Precisava me manter acordado e vigilante,
Para que iluminasse todo o meu ser.

Apenas o simplório, nada mais que obrigação,
Sentimento que corre em minhas entranhas.
Como em uma enorme inundação,
Toma conta e engole as artimanhas.

Agora o pacto está selado.
Deixo de ser apenas aprendiz.
Faço a limpeza do passado.
Em minha vida não há espaço para "anis".

Me torno mais responsável.
Me torno mais consciente.
Me torno mais questionável,
Sou mais um sobrevivente.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Viagem



As vezes acho que a forma que vejo o mundo, não é normal.

Tudo que é claro, pra mim é reluzente. Tudo que é escuro, pra mim são trevas. Tudo que é grande, pra mim é gigante. Tudo que é pequeno, pra mim é minúsculo. Tudo que é normal, pra mim é simbólico.

Vejo além. Como se tivesse um terceiro olho.

Fecho os olhos.
E na escuridão de meus pensamentos, enxergo a realização do Big Bang. A partir disso... Começa o meu universo.

Navego no céu em uma nuvem, usando raios como remos. Pego um pedaço da Lua, e assim como se faz com o marshmallow, esquento o mesmo no sol. E me delicio em orgasmos astronômicos. Faço lá o meu caminho... Passo pelo reino de Jesus, de Zeus, de Alá, de Heka, Ptah e Rá, de Odin e Alfadur, de Obatalá e Oxalá, de Brahma, Vixnu e Xiva e de Gamab. Faço meu passeio pelos céus, remando com meu raio, emitindo luz para a Terra. Pulo de minha nuvem, e ela escurece. E apenas dela, num local específico, começa a chover.

Neste local, há uma árvore. Que com a chuva constante da nuvem que outrora eu utilizava, começa a crescer numa velocidade impressionante. E frutos começam a surgir! Frutos de todos os tipos. Maçãs, bananas, peras, uvas, jabuticabas, mangas... Espadas, punhais, shurikens, adagas, martelos... E música! Emanando um som suave, que começa a atrais seres de todas as espécies. Medusas, Ninfas, cachorros, gatos, corujas, tigres, leões, águias, Minotauros, serpentes, palhaços, dinossauros, e... Humanos. Deixo todos contemplarem a árvore, seus frutos, sua melodia, e me afasto, rumo ao mar.

Mergulho, e por instinto, crio guelras. Nadando, converso com Poseidon, e recebo orientações... Passo reto pela Yara, pois logo a frente vejo Atlântida! Com cavalos marinhos relinchando no portão inteiro de ouro maciço. Sereias coloridas rodeando as torres, fazendo um lindo espetáculo, emanando luzes para todos os lados. O portão se abre. Vejo tochas de fogo, interagindo com a água do mar, mostrando uma trilha. Que sem pestanejar, segui. No caminho, várias esculturas de gelo prontas, e outras, sendo esculpidas por polvos com tentáculos muito habilidosos. No final da trilha, um baú velho, bastante antigo.

Ao abri-lo, abri também meus olhos.
Vi o teto da minha sala de estar.

Rumo ao nascer do sol



Estou voando rumo ao nascer do sol.
Rumo ao amarelo radiante.
Minhas asas estão cansadas,
Mas me sinto confiante.

Já vejo vestígios do clarão!
Meu esforço está valendo a pena.
Depois de tanta oração,
Minha fé já não é pequena.

A cada minuto, a luz sol mostra sua perfeição.
Luz que aumenta o brilho em meus olhos.
Luz que me aproxima da minha reparação!
Luz que emana a sombra de meus poros!

Há muito o que voar.
Mas é hora de pousar.
É hora de repousar.
É hora de caminhar.


segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Transição



Vi voar meu anjo iluminado,
Procurando um ponto de observação.
Vi voltar um demônio alado,
Ofuscando a minha visão.

Olho meu reflexo no espelho.
Vejo um olho em meu pescoço.
Olho dilatado e vermelho,
Do passado, apenas um esboço.

Um olho grande de pavor.
Um olho cego.
Um olho desesperador.
O olho do ego.

Ao me deparar com o sábio leão,
Preciso tomar minha decisão.
Matar o ego e seguir sua orientação,
Ou manter em mim, vestígios de ilusão.

O corte é impiedoso.
É doloroso.
E o anjo que outrora foi manchado,
Agora está integrado.

Meio luz, meio sombra.
Perfeita harmonia.
Uma asa negra como a noite,
E outra clara como o dia.

Nisso me transformei.
Em um anjo no purgatório.
Integrando tudo o que sei,
E o que acho notório.

Escureço o dia,
E clareio a noite.
Aqueço o gelo,
E esfrio o fogo.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Uma caixa chamada amor



Em mim há uma caixa chamada amor.
Caixa linda, bela e reluzente.
Você a abriu com seu calor,
E seu jeito inocente.

Com seu sorriso apaixonante.
Com seus olhos cor de mel.
Com essa forma exuberante,
De me fazer tocar o céu.

Com a forma que me olha.
Com a forma que me beija.
Com a forma que me toca.
Com a vontade que me deixa.

Com nossa troca de olhares.
Com o deslizar de nossos lábios.
Com nossas trocas de ares.
Com seus conselhos sábios.

Permanecerá aberta.



sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Pedro e sua sina

Pedro Fervor era bom moço.
Vivia no escasso Sertão.
Tinha marcas da vida em seu rosto,
De sua frequente humilhação.

Pai alcóolatra descontrolado,
Mãe prostituta por opção.
Vida normal no humilde Serrado,
Acostumado com caos e destruição.

Pedro Fervor, pedreiro com treze anos,
Via sua mãe apanhar diariamente.
Mas não desistia de seus planos,
Fugir, e tentar viver dignamente.

Decidido, Pedro juntou um bom dinheiro,
Pegou um ônibus e foi para São Paulo capital.
Com o sonho de se tornar um engenheiro,
Deixando o passado no umbral.

Logo descobriu que outros tantos,
Tinham o mesmo pensamento.
Outros que estavam lá a anos,
E viviam apenas de sofrimento.

Um dia seu passado retornou.
Foi a um prostíbulo espairecer.
Pela prostituta se apaixonou,
E no trabalho, não a deixou permanecer.

Seu nome era Joana Juliana,
Linda moça de cabelos castanhos.
Com ele se tornou uma pobretona,
E reduziu quase todo seu ganho.

Cansado de passar dificuldade,
Pedro Fervor se afundou na bebida.
E descontava com crueldade,
Sua raiva em quem já chamou de "querida".

Com todo o dinheiro gasto com seu vício,
Deixou a mesa sem comida.
Joana precisou fazer um sacrifício:
Atender ex clientes e ver sua vida destruída.

Quando Pedro Fervor ia trabalhar,
Joana Juliana ia se arrumar.
Após o trabalho, Pedro ia se embebedar,
E Joana, se limpar.

Um dia Pedro resolveu não beber.
Voltou mais cedo para casa.
Encontrou Joana nua, a se oferecer,
Para um Italiano conhecido por Pazza.

Pedro pegou sua peixeira trazida do nordeste,
E não titubeou.
Esfaqueou loucamente o cafajeste,
E sua cabeça arrancou.

Joana Juliana estava desesperada.
Tentando explicar ao seu marido sua condição.
Ele não quis ouvir, e em sua barriga deu uma facada.
Joana gritou por dor no coração.

Chorando, disse: "querido, estava grávida.
Em sua bebedeira, deixou faltar alimento.
Queria nosso filho saudável,
Para te tirar de seu sofrimento."

"Agora serei enterrada com nosso filho.
Será um peso para você carregar.
Você se tornará um andarilho,
E de nós, sempre vai lembrar."

Joana Juliana fechou os olhos.
Uma última lágrima escorreu.
Diante daquela horrível cena,
Por dentro, Pedro também morreu.

Não podia viver com essa dor.
Saiu rumo ao edifício que trabalhou.
Chamou Deus de traidor,
E lá do alto se atirou.