quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Xamã



Donairosamente ataviado,
Inapropriadamente bem-vestido.
Na floresta do aprendizado,
Buscando para mim um novo sentido.

Oh, belo pajé!
És tu minha salvação?
Mudarás minha maré?
A ti rogo por perdão!

Arranque de mim as tormentas!
Torne-me outro ser!
Deixo contigo minhas vestimentas!
Faça o ritual do amanhecer!

Cuspa em meu cálice.
Ponha sua alma dentro de mim.
Para que eu chegue ao ápice,
Da pureza clara como marfim.

Me dê um pouco de sua pureza.
Dessa arte de abrir mão.
Me mostre a beleza da natureza.
Nessa nova fase de adaptação.

Nosso ritual está completo.
De espíritos o céu está repleto.
Agora estou protegido.
Em mim há um Xamã recolhido.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Ninguém em casa



Onde está você anjo guardião?
Minha fé está diminuindo!
Estou perdido na escuridão!
Meus demônios estão grunhindo!

Não tem ninguém em casa.
Não tenho lugar para repousar.
Fui deixado para trás.
Preciso recuar!

Sinto minhas vísceras queimarem.
Sinto um terremoto em meu corpo.
Ouço vozes a me falarem,
"De nada vale esse esforço".

Já não existem lágrimas em meu olhar.
Não quero ouvir nenhum "calma".
Já chorei tudo que tinha pra chorar.
Hoje quem chora é minha alma.

Minha mente é mentirosa,
Diz que tudo é só uma prosa.
Mas meu corpo é resistente,
Não vou ser um desistente.

Grite!
Urre!
Esperneie!
Não vou te dar o que quer.

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Gostaria de uma resposta



Atordoado olhando para o oceano
Com cicatrizes em minha mente
De olhos vendados para o insano
Vendo o mal como atraente

Tudo que busco são respostas
Pois perguntas não param de surgir
Estou cansado de minhas derrotas
Me diga porque não fugir?

A ingratidão toma conta de meu ser
Somatizada com o medo de adoecer
Pois toda vez que vejo o anoitecer
Oro por um novo amanhecer

Tome conta da minha vida.
Tome conta das minhas vontades
Cuide de minha alma enfraquecida
Traga ate mim novos ares

Estou aparentemente ciente
De que estou clinicamente carente
Impotente e consciente
Mecanicamente obediente

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Exaustos em plenitude



Te vejo tão cheia de defeitos.
Te olho, te amo, te sinto.
A tudo estamos sujeitos.
De ti estou faminto.
Estou extindo, por instindo, do labirinto.

Dentro de ti sinto quenturas.
O mundo para, e fazemos loucuras.
O relógio está a nosso dispor.
O tempo corre a nosso favor.

Sinto seu mel em minha boca.
Sinto sua viscosidade em meus dedos.
Usamos de nossos próprios brinquedos.
Contamos segredos, sem medos.

Suor escorrendo de meu rosto.
Sorrisos brotando do seu.
O prazer nos é imposto.
E eu sinto o que é meu.

Exautos em plenitude.
Após a batalha veio o aprendizado.
Vivendo intensamente nossa juventude,
Para o hoje ser eternizado.



sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Quero, quero e não devo



Quero fugir de casa.
Quero caminhar na aurora,
Sem me preocupar com o amanhã,
Sem me preocupar com a hora.

Quero fazer o que eu quiser.
Quero minha comida na mesa.
Não me preocupar com o que vier,
E viver de mecanismos de defesa.

Não quero viver o presente.
Não quero virar adulto.
Quero pra sempre ser um adolescente.
Dos esforçados, ser apenas um vulto.

Quero me deitar, esperar a vida passar.
Quero um prato de comida mastigada.
A ponte do crescimento, não quero atravessar.
Quero uma vida desgraçada.

Quero, quero e não posso.
Quero, quero e não devo.
Quero, quero e não faço.
Quero, quero e não deixo.

Devo correr atrás.
Devo pestanejar.
Devo o medo integrar.
Devo minha vontade trucidar.

Estudar, e virar um cidadão.
Trabalhar, e me tornar responsável.
Priorizar a necessidade da vontade.
Por favor, alguém segura minha mão?

Quero fugir!
Quero sucumbir!
Quero desistir...
Mas não vou.

Quero colo.

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Gratidão

Me sinto grato pela vida. Me sinto grato por ter a capacidade de sentir. Por receber aplausos numa roda vibrante, por não ter feito mais do que a minha obrigação. Sou eternamente grato por ter sido escolhido a dedo para participar da imensidão do pássaro de olhos enormes. Por possuir afiadas ferramentas, para esculpir a moral, e entender o simbolismo por trás das coisas. Sou grato pelo mestre de cabelos grisalhos que me aponta o horizonte escuro que tenho que seguir. Por ter ao meu lado uma bela dama de cabelos cacheados, que a todo momento me dirige sábias palavras diretas e amorosas. Sou grato por olhar para o mar, e ter a bela e única sensação de que tudo aquilo foi feito para mim. Sou grato por fazer parte de um enorme jogo de xadrez, onde as jogadas são antecipadas por um poder maior. Sou grato por amar e ser amado. Sou grato por aprender a manusear uma espada. Por aprender a linda arte de matar. Sou grato por não ser um verme, um simples parasita, que necessita de um paradeiro, para sugar aceitação e "amor". Sou grato pela minha menina de olhos castanhos, que já não faz com que eu me destrua, e me ajuda a crescer. Sou grato pela minha eterna rezadeira, que já me deu a luz uma porção de vezes, de parto natural. Sou grato por sentir dor. Sou grato por sofrer. Sou grato por suar frio, sentir meu corpo tremulo, e sentir meu organismo pedindo algo que não quero dar. Sou grato por poder descobrir meu verdadeiro eu, e agir de acordo com o mesmo. Sou grato por viver. Sou grato. Sou grato, simplesmente por ser grato.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Juventude perdida, encontrada!


Olha lá distante o futuro da nação!
Eletrônicos ecoam no meio da multidão!
Mentes cheias de tanta repressão!
Acostumados a sujeira e corrupção!

Meninas enlouquecem sob luzes estroboscópicas.
Trocam saliva com inúmeros desconhecidos.
Meninas que pensam que são mulheres,
Mas são crianças com desejos reprimidos.

Meninos usam óculos escuros durante a noite.
Usam casacos de lã em dias de sol.
Saem ao fim do dia e pagam a pernoite,
E não param de descer a escada caracol.

Jovens enchem suas mentes com bagulho.
Continuam comendo a mesma fruta.
Passam de Cazuza a barulho.
Ainda votam nos mesmos filhos da puta.

Surgem as manifestações!
Que venham os encapuzados!
Que venham os mascarados!
Que comece as contestações!

Lutem pelo país!
Sangrem pelo país!
Quebrem as leis pelo país!
Derrubem reis pelo país!

domingo, 27 de outubro de 2013

Seguindo passos



Existe um tenebroso lugar,
Onde poucos conheceram.
Outros decidiram nunca voltar,
E na escuridão pereceram.

Este lugar é uma ameaça,
Com mortos-vivos passeando.
Só se vê uma densa fumaça,
Com o Diabo controlando.

No meio de toda a dor,
Pessoas dão risada.
Reprimindo seu amor,
Através de gargalhada.

Agia como se tivesse escolha.
Como se fosse uma opção.
Como em uma época de desfolha,
Caía e secava na escuridão.

Digo que conheci o inferno.
Para demônios fiz companhia.
Ponho tudo em meu caderno.
Já não faço sacristania.

Eu fiz parte desse bando.
Me aliei ao inimigo.
Hoje escolho com quem ando.
Já não corro mais perigo.

Uma guerreira de forte opinião,
Me tirou da escuridão,
Me levou a exatidão,
Me apresentando ao cirurgião.

Cirurgião que mostra o caminho.
Que orienta e tira o espinho.
Que não se comove com meu beicinho.
Que nunca me deixa sozinho.

Caminho bem assessorado.
Com a minha guerreira padroeira.
Meu mestre com tudo antecipado.
Já bem longe da velha maneira.

sábado, 26 de outubro de 2013

Uma forte dose de integração



Assustado, desço uma escada infinita.
Apavorado, fugindo da minha própria sombra.
Amedrontado, vendo o reflexo de meu parasita.
Intimidado, fugindo da minha câimbra.

Sou perseguido pelo meu semelhante,
Com um rosto demoníaco,
Um olhar distante,
E um sorriso maníaco.

Ao se deparar com a mediadora,
Ele se mostra com exatidão.
Como uma musa pacificadora,
Devolve o meu irmão.

Ao sair de sua presença,
A imperfeição volta a aparecer.
De acordo com minha crença,
É preciso sim temer!

Preciso enfrentar mais esse demônio.
Preciso encarar meu medo.
Isso é meu patrimônio.
Já é hora de parar de chupar dedo.

Olho fundo no olho de meu companheiro.
Quase sinto seu receio.
Me identifico com seu desespero.
Identifico seu devaneio.

Te vejo no chão estatelado.
Convulsionando sua malevolência.
Seis anjos pousam ao seu lado,
E conversam sobre displicência.

Conversam em uma língua espiritual.
Falam sobre o velho ego animal.
Luz e sombra em perfeita armonia.
Sem qualquer hegemonia.

Você para de convulsionar,
Após uma forte dose de integração.
Você retorna ao seu bem-estar.
E termina a divina intervenção.

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Morte da velha forma de gostar de dor


Acendo um cigarro.
Sua fumaça suja me lava o rosto.
A morte volta com um escarro.
Cuspo na cara do meu encosto.

A noite fica iluminada.
A lua mostra sua magnitude.
Foco o pensamento em minha amada,
Passo a ver com longitude.

Não estou mais cego de paixão.
Estou lúcido vendo o amor.
Anubis manteve no caixão,
A velha forma de gostar de dor.

Eu me mutilava.
Eu me maltratava.
Eu sempre sucumbia,
E minha doença sempre ria.

Agora limpe meu catarro,
Sua puta mal-amada.
Limpe agora meu escarro,
Que sou eu que dou risada!

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Morte da vida, nascer da morte

Morreu o modo como via a vida.
Nasceu o modo como vejo a morte.
No jogo da vida está lançada minha sorte,
De ter uma morte bem vivida.

Recrucificado está o Cristo que eu era.
Nascendo está uma nova era.
Pois já não sou mais quem eu era.
Não me acompanha mais a Deusa Hera.

Vivo agora o reinado de Hades.
Submerso na escuridão.
Tecendo seu manto como gratidão,
Junto de seus servos alfaiates.

Está gelado aqui em baixo...
Porque não posso ir pelo mais fácil?
Porque o certo é tão difícil?
Porque estou tão cabisbaixo?

Cacete Deus, porque me abandonaste?
De me fazeres sofrer ainda não cansaste?

Lua cheia cor de mel

Meu barco está pronto para alçar um vôo.
Suas velas estenderam-se na horizontal.
Me resta celebrar o amargo choro,
Do velho ego animal.

A quilha já não está mais submersa.
Popa e proa, alinhados a genoa.
Ponto de apoio, vem da vela mestra.
E o mastro, assento de outra pessoa.

Navego entre as nuvens,
Buscando um porto para atracar.
És em ti, formidavel lua,
Que minha âncora vou jogar.

Oh lua cheia cor de mel,
Nunca te ví assim tão perto!
Já me vejo com bacharel,
Em não saber se é certo o incerto.

Pois como não tenho certeza se é certa a incerteza,
Seguirei com a minha certeza,
De que seguir a seta da incerteza,
É a única proesa existente na beleza,
De viver a incerteza.

sábado, 19 de outubro de 2013

Cirurgia Espiritual

No parapeito da solidão,
Tento me equilibrar.
Para que no mar da frustração,
Aprenda a não me afogar.

Aos céus, grito por misericórdia.
Aos céus, imploro por um milagre.
Pois tudo que vejo é uma paródia,
De uma vida curta de Isaac.

Questionamentos não param de surgir.
A coragem não para de fugir.
O medo eu não paro de esculpir.
Os monstros não param de emergir.

Nos meus versos não existe o impossível.
Um anjo veio me buscar.
Me levou em um vôo incrível,
Para minha sombra integrar.

Talvez a caminho da totalidade.
Talvez em busca da verdade.
Pois as vezes a dificuldade,
Vale mais que a facilidade.

Vejo anjos alados.
Vejo nuvens esplendorosas.
Vejo seres fadados,
A serem criaturas maravilhosas.

Porque eu?
O que tenho de especial,
Para participar de tal ritual,
Tão diferente da minha vontade carnal e banal?

Meu coração para de bater.
Ouço um som angelical.
Meu corpo começa a arder.
Começa a cirurgia espiritual.

Deitam-me em uma maca.
Me sinto tranquilizado.
Puxam do bolso uma faca.
Tenho o cérebro concertado.

Volto para o plano terrestre.
Abro os olhos em meu leito.
Lembro do meu Mestre:
"Continue fazendo direito".

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Boca Calada



Na escuridão da madrugada,
Recebi um visitante.
Tento matar tal charada:
Porque é tão agonizante?

Não pedi para você entrar,
Não pedi para você ficar.
Pare de me atormentar,
Fique quieta no seu lugar!

Você veio como contra-peso,
E não para se manifestar.
Porque grande Deus,
Tu deixa ela me açoitar?

Abro os olhos com sangue na boca,
Vestígios de ti no meu travesseiro.
Tontura, amargura, loucura,
E por fim, vem o desespero.

Oh Pai celestial,
Pare de me castigar,
De minha língua mutilar,
E meu cérebro danificar!

A vontade é de fugir.
De jogar tudo para o alto.
A vontade é sucumbir,
E esperar a morte no asfalto.

Faço jus ao meu passado.
Apenas colho o que planto.
Mas pareço um retardado,
Apenas corro e não alcanço.

Porque correr então?
Para continuar um embrião?

Só reforço o meu propósito.
Que se complete a gestação!
Que viva o novo homem,
E mate a imperfeição.

Minha luta é pela vida.
Minha luta é pela cura.
Mas uma coisa é requerida,
Que minha alma esteja pura.

Me sinto de boca calada.
Completamente impotente.
Ferido na estrada,
Da loucura benevolente.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Um café com o Diabo



Fujam para a colina.
Fujam pois a besta está presente.
Fujam pois a besta é feminina.
Fujam pois a chuva está ardente.

Levem consigo tudo que é sagrado,
Levem consigo bagagem para um ano.
Deixe no fogo tudo que é passado,
Deixe no fogo tudo que é profano.

Contemple do alto a destruição.
Veja de cima o caos da multidão.
Ofereça um brinde ao Diabo,
Comemore a morte do passado.

Quando for a besta sepultada,
Deixará de ser um peregrino.
Continuará sua jornada,
E tocará no divino.

sábado, 5 de outubro de 2013

Coração de plástico



Seu coração é complexo,
Seu coração é armado,
Seu coração é submerso,
De ódio acumulado.

Seu coração é venenoso,
Seu coração é alucinante,
Com um líquido viscoso,
Inteiramente viciante.

Seu coração é rochoso,
Seu coração é dependente,
De um homem ardiloso,
E de caráter demente.

Seu coração é carente,
Ardentemente atraente,
Completamente ausente,
Instintivamente eficiente.

Seu coração é rígido,
Seu coração é atormentado.
O que deixa seu corpo frígido,
E seu amor dilacerado.

Seu coração foi destruído,
Seu coração está em pedaços.
Talvez será reconstruído,
Ou apodrecerá em cacos.

Seu coração está na areia,
E o mar se aproximando.
Enquanto toma sua seia,
A morte está chegando.

Seu coração não é real.
Meu coração é dramático...
Meu coração é marginal...
Mas o seu é de plástico.




segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Acorde Anubis!


Os demônios acordaram.
Se ergueram dentro de mim.
Minha alma tomaram,
Usando balas de festim.

Tomaram posse do meu corpo.
Comandaram minhas ações.
Tomaram meus pensamentos,
A eles, dou saudações.

Me sinto possuído,
Totalmente indefeso,
Completamente perdido,
Conhecendo o contra-peso.

Hoje vocês tem a minha permissão,
Para escurecer essa paixão,
Tomar meu coração,
E me afogar em solidão.

Não quero uma cruz olhar,
Não quero água benta tomar,
Não quero meus demônios exorcizar,
Quero minha sombra integrar.

O momento é de dor,
O sofrimento, a meu critério.
Já não é mais amor,
Anubis a manterá no cemitério.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Gestação



Não preciso ver salto alto,
Não preciso me manchar de batom,
Não tenho que te por num planalto,
Nem achar tudo isso bom.

Você não é minha salvadora,
Não tenho mais que ficar calado.
Houve muita coisa boa,
Mas agora você é passado.

Apenas sinto o sereno,
Não sinto mais o mel.
Daquele gostoso veneno,
Restou apenas fel.

A lua escureceu.
As estrelas se apagaram.
Já não posso ser mais seu,
Os sentimentos voaram.

Vivo a gestação de um novo homem,
Que procura liberdade.
Não sou mais um lobisomem,
Agora tenho identidade.

Não preciso te tocar,
Não preciso te odiar,
Não preciso me prostrar,
Não preciso te amar.

Não tenho que injetar seu amor,
Nem me embebedar de adolescência.
Tenho que sentir essa dor,
E curar essa dependência.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Voa anjo, cai anjo.



Tiro meus pés do chão,
E voo sem pensar.
Sinto a conexão,
Da liberdade reconquistar.

Abaixo, vejo a cidade,
A frente, não vejo limites,
Atrás, continuidade,
E acima? Não aceito palpites.

Voando vou a um hospital,
Curar multidões,
Mas me tratam muito mal.
Vão pagar pelas ações.

Afinal, sou um anjo.
Um ser iluminado.
Por mim aquele marmanjo,
Vai ser dilacerado.

Minhas asas ficam negras,
Meu olhar, sanguinário.
Pois quebrei todas as regras.
Me tornei um ordinário.

Por ter tais poderes,
Por ter tamanha luz,
Pensei que todos os seres,
Me viriam como Jesus.

Mas foi o contrário.
Não pude viver em paz.
Me tornei um ordinário,
Comparado a Satanás.

domingo, 22 de setembro de 2013

Chove, pode chover.



Andei mais de míl léguas,
Para poder te encontrar.
Mas essa chuva não da tréguas,
E não faço ela parar.

Chove dia e noite.
A chuva me atormenta.
Me castiga com açoite,
E me tira a ferramenta.

Chove dia e noite.
Chove noite e dia.
Chove toda hora,
Meu Deus, como é fria!

Essa chuva me congela,
Essa chuva petrifica.
Aos olhos é até singela...
Mas pior do que está, não fica.

Me encharca de medo,
Afoga meu amor.
De Satanás, aí tem dedo.
Mas não é o maior temor.

Os relâmpagos me acertam,
Os raios me paralisam.
As vezes, até me matam,
Outras só me petrificam.

Olho para o céu pedido luz,
E imploro por socorro.
De um sábio de capuz,
Recebo um esporro.

A luz é interna,
Não há do que temer.
Pois até em uma caverna,
De frio posso tremer.

Então deixa chover!
Não vou me afogar.
Nesse mar de sentimentos,
Terei que navegar.


Uma bela camponesa



No topo de uma colina,
Vejo uma donzela.
E com toda a minha arrogância,
Sinto-me melhor que ela.

Mas não era qualquer moça.
Era uma camponesa.
Segurando um arco e flecha,
Transbordando sua beleza.

Protegido me senti,
Da alcateia me afastou.
Mas como uma inocente moça,
Comigo não se deitou?

Mas não era qualquer moça.
Seu papel era diferente.
A intenção, das melhores.
Acabar com o perigo iminente.

O sentimento atordoa.
Proteção e humilhação.
Aquela mulher tão boa,
Me tirou da escuridão.

Mas de que adianta ser protegido,
De que adianta ser amado,
Se a todas as ocasiões tenho fugido,

E a mim mesmo decepcionado?

domingo, 8 de setembro de 2013

Ceifeiro



Palavras saem de minha boca
e ecoam sem sentido nenhum.
Qual é a vantagem de matar,
se a mim não fez mal algum?

Em mim você está viva.
Mais viva do que nunca.
Mas algo aí dentro morreu.
Já, em mim, nasceu.

Me sinto preso em uma roda gigante.
Esculpida em gelo,
banhada em lágrimas,
Com sua maldade como selo.

Minha realidade externa,
não combina com a interna.

O que é amar?
O que é o amor?
O que é sentir?
O que é viver?

Nossos corpos se tocaram,
se sentiram,
se "amaram".

Mas nada daquilo era real.
Hoje vejo a diferença,
De uma enorme dependência,
para um amor incondicional.

O que você representa?
O que você significa?
O que você é?
O que sinto por você?
Porra, quem é você?

Hoje, convoco essa criatura majestosa,
Para dar algo, que você mereça.
Venha Ceifeiro, venha!
Corte junto comigo, aquela cabeça.

Minha decisão está tomada.
Não irei fraquejar.
Continuarei minha jornada,
Sem um "amor" para me acostumar.