quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Picadeiro

Feiticeiro da alegria,
Empatia de guerreiro.
Ferreiro da armaria,
Empatia de curandeiro.

Eu vivo sob a lona,
Em um universo teatral.
Em meio a cuspidores de fogo,
E muitos palhaços do mal.

Eu vivo entre malandros.
Eu conheço a malandragem.
E sei que ela é tão frágil,
Quanto a minha maquiagem.

Eu vivo sob a sombra.
Vivo um roteiro.
Eu preparo a iluminação,
E decoro o cenário inteiro.

Já engoli muita espada,
De rasgar estômago e coração.
Não me restou quase nada.
A atuação é a exceção.

Os melhores lugares,
São de quem chegar primeiro.
Por favor, se acomodem!
Nada aqui é verdadeiro!

Eu tenho medo dos domadores.
Do chicote, do seu show de horrores.
Alimentam a alma de predadores,
Com entretenimento sem pudores.

Show de cores e de luzes.
Faltam amores, sobram cruzes.
Show de maquiagem e atuação.
Falta improviso, falta ação.

E o berro que meu peito dá,
Se equaliza na música circense.
E a tristeza que em mim está,
É show que não há quem dispense.

Eu sempre me dirijo a luz central.
Não importa o meu paradeiro.
É meu papel no universo teatral.
Eu me encaixo no picadeiro.

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Morte no motel

Na cama de um motel,
Derramo lágrimas de lobo.
A solidão da noite é cruel,
É melhor não brincar com fogo.

Em posição de feto,
Me vejo no espelho de teto.
Eu estou bêbado e drogado,
E não sobrou nem um trocado.

Deixei as de 10, 20 e 50.
Fiz um empréstimo no banco.
Deixei a minha dignidade,
Nas mãos do traficante de branco.

Vou até o banheiro,
Até as águas sagradas da pia.
Não vejo meu reflexo no espelho,
Não tem dia, após o outro dia.

Lembro dos meus parceiros,
E escrevo uma poesia.
Acendo um cigarro, o terceiro,
E ofereço a Dimas, o primeiro.

Penso no nascer do dia.
E em como seria, se não nascesse.
Esqueço quem já fui um dia,
Já não há nada do meu interesse.

A indiferença reina.
E isso é proposital.
Muita fumaça, muita fumaça!
Anula o emocional.

Coloco o fone de ouvido,
Ligo um rap, e coloco a lupa.
Mas é só porque estou ferido.
Por isso o beck, por isso a culpa.

Está passando pornô na TV,
E eu estico a última do mal.
Tento a última ligação para você,
E caiu de novo na caixa postal.

Deve estar com o fulano.
Ou quem sabe com o cicrano.
Mas não importa, mano.
Só importa a droga e o cano.

Respiro bem profundo,
E tomo mais alguns comprimidos.
Me despeço desse mundo,
Com um último pedido,
.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Surto

Me sinto trêmulo
Me sinto mal.
Pensamentos castigando,
De uma forma anormal.

O peito está pequeno.
Não cabe tanto sentimento.
Me sinto comprimido.
Tragam-me um compromido!

Quero gritar!
Quero correr!
Quero me expressar!
Quero me esconder!

Abaixo a tela brilhante,
Da frente do meu rosto.
Vejo a realidade ofuscante,
E me sinto exposto.

Hoje, me sinto distante.
Como o som de uma cachoeira.
Ecoando em vidas alheias.
Deixando sem sono, a rezadeira.

Vários acontecimentos,
Feridas e tormentos,
Me indispuseram com o mundo.
Pois vivi e vi o quanto é imundo.

Eu, mudo,
Mudo de lugar.
Quero gritar que não quero!
Mas estou impossibilitado de falar.

As pessoas me assustam.
O egoísmo não é opional.
É o instinto de sobrevivência,
Que é ensinado no jornal.

Insano e sociopata,
Me escondo de mim mesmo.
E interpreto, de alma manchada,
Felicidade em cada acontecimento.

A dor trouxe resistência,
E o amor foi abafado.
Essa é a penitência,
De um poeta louco e machucado.

Por isso desce mais uma quente,
Para eu ficar no meu estado normal.
Essa insanidade inconsequente,
Ainda vai me levar para o umbral.

Mas eu nasci assim.
Sou regido por Dionísio.
A loucura habita em mim.
É assim desde o início.

Ando anestesiado.
Sem sentir, sem falar.
Ando intoxicado.
Sem sorrir, sem respirar.

Termino o último trago do cigarro,
E o surto vem.
Mente sequestrada, eu me amarro,
E sou refém.

Olho para frente, e nada vejo.
Pois já caminho sem pressa.
Olhando para o chão,
Seguindo o roteiro da peça.

Mas sou protagonista.
E o protagonista, é louco
Todo louco, é um artista.
Pois sua visão muda um pouco.

Minha vida é intensa.
Muita coisa já aconteceu.
E com isso me afirmam:
"Pelo menos você cresceu".

E se não cresci?
E se simplesmente não transmiti?
E se eu me fechei?
E se eu não me acostumei?

E se na verdade,
Eu não for tão forte assim?
Você ainda vai olhar,
E se orgulhar de mim?

Dizem que sou maduro.
Que não pareço ter minha idade.
Que tenho uma cabeça boa.
Que sou exemplo de vontade.

Que perdi, que sucumbi, virei zumbi.
E que lutei, que apanhei, mas ganhei.
Quando na verdade, eu só sobrevivi,
Cheio de cortes que ainda não cuidei.

Mas sigo em frente,
Com um norte pra chegar.
Pintando meu caminho com aquarela,
E deixando o resto acinzentar.

Um vulcão de sentimentos.
Uma mente em erupção.
Escrevendo, desesperada,
Tentando encontrar uma solução.

Há ódio em minhas palavras.
Um vômito por extenso.
Para me livras de minhas mágoas,
Mantenho em mente o clima tenso.

Repito os pensamentos,
Para que eu não me esqueça.
Então revivo os sentimentos,
Para que a dor permaneça.

E que eu possa abraça-la.
Que a dor possa me confortar.
Que ela me traga alívio,
Por não precisar mais te encontrar.

Me sinto aliviado.
Meu coração desacelerou.
Posso parar de escrever.
O surto passou.