segunda-feira, 20 de junho de 2022

Chuva Coletiva

Agora, enquanto escrevo, cai uma chuva torrencial.
Não demora, e percebo que não é especial.
Percebo que não é exclusiva.
Apesar de se igualar ao meu pesar,
Ela também afugenta todos os seres vivos.
Também os irrita.
Também se torna única para cada um.

Estou cá escrevendo, colocando - ou pelo menos tentando - criar linhas retas e concisas no papel.
Momentos atrás estava lá sofrendo, colocando - sem qualquer margem de erro - linhas ensandecidas, profundas ou abstratas em meu braço.
No chuveiro, com a pele ardendo e toda aquela água escorrendo, eu chorei.
Chorei como há muito tempo não chorava.
As lágrimas se misturaram com a água do encanamento, com o suor, com saliva, com sangue e, finalmente, com o ralo.
E tudo desceu, como se nada tivesse acontecido.

Quanta tolice da minha parte. Pensar que essa chuva fortíssima - que já parou - era para combinar com o estado que estou. Quanto egocentrismo. Patético.
O mundo vai agir, vai pensar, vai chorar, matar e vomitar, com ou sem meu consentimento.
Já parou de chover. Chuva de verão...
Já sinto falta da chuva.

-M. Cintra
02/01/2020

Nenhum comentário:

Postar um comentário