domingo, 31 de agosto de 2014

Amor Platônico




Um conceito inatingível,
Uma ação invisível,
Um desejo inconcebível,
Um grito inaudível.

De muito longe, consigo te avistar.
Vejo seus passos, seus cabelos a queimar.
Solto um suspiro, sinto falta de ar,
E uma puta vontade de te beijar!

De olhar em seu olhar penetrante,
De beijar o seu beijo sufocante,
Experimentar a experiência intrigante,
De me silenciar no seu silêncio excitante.

Imensurável é o desejo pelo intocável,
Inimaginável, é concretizar o imaginável.
Improvável, é pensar que é provável.
Incurável, é a dor de manter no amigável.

Cômico e anacrônico,
É esse Amor Platônico.
E se estás nesse círculo sincrônico desarmônico,
Digo para você, em tôm irônico:

Você tá fudido.


sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Ladra de sonhos



Mulher odiada e claramente vil.
Deixou seu último amante senil.
Psicopata, armada de mentira,
Sempre disposta a disseminar sua ira.

Ladra de sonhos e de corações.
Musa da dor e das mutilações.
Transforma a loucura em cultura,
Fura, tortura e fratura qualquer criatura.

Coloca algemas na liberdade,
Mas se mostra livre à sociedade.
Não há como matá-la,
Nem como derrubá-la.

Sedenta pelo sangue do inocente,
Para acabar com o amor remanescente.
Para dissipar o Deus do ambiente,  
Sob o pretexto de um momento reluzente.

Para você que foi infectado,
Aqui vai um importante recado.
Não há como matá-la,
Nem como derrubá-la,

Mas há como neutralizá-la.

Faça dela sua companheira.
Mas cuidado com a cegueira.
Confesse seus pecados diariamente,
E se torne mais um sobrevivente.  

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Minha companheira solidão



Minha fria companheira,
Que acompanha meus pensamentos.
Autora da minha olheira,
E de meus mais sórdidos sentimentos.

Que me acorda de madrugada,
Com o travesseiro encharcado.
Que pesa uma tonelada,
E me deixa machucado.

Que me acompanha diariamente,
Que não sai da minha mente.
Quem assiste não mente,
Se diz que ajo como demente.

Seu nome se define.
É impiedosa, e sem coração.
Por isso, se vacine,
É chamada solidão.

Tortuosamente amada,
Inegavelmente odiada,
Culturalmente adorada,
Irresistivelmente detestada.

Morre uma crença, um valor.
Vem um vazio, uma busca por paixão.
Junto vem a tal conhecida dor,
E minha companheira solidão.

Um paradoxo sem explicação.
O "ser só", ser minha companhia.
Minha escudeira, companheira solidão,
Me acompanhe dia após dia.

Não é uma opção fazer de ti um pesar,
Então quero que se sinta acolhida!
Vou apenar lhe saudar:
Seja bem vinda a minha vida.

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

O soldado desistente



O soldado se preparou para a batalha.
Pôs na trouxa um reservatório.
Para conservar as lágrimas de um canalha,
Que adorava dificultar o simplório.

Foi disposto a sangrar.
Foi disposto a sofrer.
Mas não queria se enganar,
Nem pro passado retroceder.

A desistência nunca foi uma opção,
Pois a guerra é travessa.
Mas ele aprendeu uma lição:
Um soldado não luta sem cabeça.

Ele foi decapitado,
Sem direito à defesa.
Aprendeu que através do pecado,
Se chega até a pureza.

Sem condições de continuar,
Ele levanta bandeira branca.
E com seriedade singular,
O próprio coração tranca.

Fecharam-se os portões.
A gelada escuridão tomou conta.
Hoje sua própria assombração,
É sua maior afronta.

Por ter andado desprotegido.
Por manter a espada embainhada.
Por manter seu amor escondido,
E sua fé enjaulada,
Ele manda dizer que desiste.

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Ei garota

Ei garota da mochila roxa.
Eu acho que estou apaixonado.
Também acho que fiquei com cara de trouxa,
Escrevendo seu nome no box embaçado.

Logo eu, que não queria amar.
Logo eu, que não queria sofrer.
Logo eu, que jurei não me entregar,
Logo eu, que precisava amadurecer...

Ei garota,
Aliança no dedo, quem diria,
Que um dia ia amar.
Você sorria, ria de alegria e dizia:
Eu não pedi para você se aproximar.

Ei garota,
O tempo passou, e a história complicou.
Nossos valores inverteram.
O Conto de Fadas, um Terror se tornou.
Mas os sentimentos não morreram.

Floresceram.
Cresceram.
Se expuseram.
E nos dominaram.

Ei garota,
Eu voltei!
Foi realmente muito foda.
Diz pra sua mãe que eu cheguei,
E pede para ela comprar uma soda.

Ei garota,
Você lembra?

O cheiro ruim do meu cigarro,
A sujeira no seu crocs,
Do meu pra sempre, o seu sarro,
No meu quarto, um filme na fox.

Conversar com a lua,
Pichação na rua,
Você toda nua,
Nosso corpo flutua.

Plaza sul,
Céu azul,
Outback,
Garçon Jack.

Ou era Poul?
Brian?
Foda-se.

Ei garota,
Nossa trilha se dividiu.
Cada um foi para um lado.
O meu canto está sombrio,
Mas não posso ficar parado.

Porque se nessa trilha eu parar,
Realmente nunca vou saber,
Se no final nosso caminho vai se cruzar,
Ou se assim vai permanecer.

Ei garota!
Aqui estão os versos simples que você pediu.
Sem aquela linguagem figurada e rebuscada.
Eis aqui o relato de um poeta que sucumbiu,
Mais uma vez a vontade de sua amada.

Ei garota!
Vem me acompanhar.
Vamos ouvir os antigos discos.
Vem me apoiar,
Pois sem você meus versos são só rabiscos.

Ei garota!
Não quer saber por onde ando?
Porque não me responde?
Ficarei perdido até quando?
Não tenho mais você para dizer para onde.

Ei garota.
Desculpe garota.
Você já não é mais garota.
Eu te amo mulher.

Qual foi o ponto que te perdi?