segunda-feira, 26 de outubro de 2015
Soldado descartável
Todo dia, era rotina,
Assar os dedos no chinelo,
Procurando por emprego,
E só encontrando o farelo.
Que já é o costume,
Em toda a ocasião.
Sempre sobram as migalhas,
Daquele mesmo velho pão.
E depois de tanto não,
A esperança esmoeceu.
Depois de tanta humilhação,
Sua identidade morreu.
Não queria mais aquilo,
Não se reconhecia.
Ele olhava para o espelho,
E da própria cara ria.
Casado com Luara,
É pai de um pivete,
Que tem a sua cara,
De idade apenas sete.
Já está desesperado.
Para ele, é um tormento.
Ele está desempregado,
E deixando faltar alimento.
Muita fome já passou,
Já está acostumado.
Mas não o seu filho.
Este merece mais cuidado.
Então saiu na madrugada,
Em seus princípios, a ruptura.
Sempre correto e íntegro,
Mas hoje, a segurança é na cintura.
Daquele seu vizinho,
Comprou o passaporte.
Para tentar a sorte.
Para encontrar a morte.
Uma da manhã, em Moema.
Tudo certo e esquematizado.
Ele entra, tira tudo do cofre,
E sai sem ser notado.
A porta é arrombada.
E não sai nem um ruído.
Tudo tranquilo até agora,
Ninguém vai sair ferido.
Mas algo deu errado.
Um alarme, começa a soar.
Pela escada desce um gordo suado,
E sem pensar, Fael começou a atirar.
Logo atrás, desceu a madame.
Gritando e apavorada.
Dois estrondos a acalmaram.
Caiu dura e estatelada.
Fria e calculadamente,
Encheu sua sacola de futuro.
Seus princípios, ali ficaram,
Mas agora não ficará no escuro.
Pela manhã, toca o telefone.
E Luara foi atender.
Ficou muda e desligou.
Seus pais tinham acabado de falecer.
Na cama, ela se sentou,
E começou a chorar.
Fael então acordou,
E começou a perguntar.
Luara, indignada,
Ao seu marido, contou:
"Um marginal, sem coração,
Minha família, matou.
Dois tiros em minha mãe,
E em meu pai, foram três.
Apenas para roubar o cofre!
E olha eu, com vocês!
Não ligo para dinheiro!
E todos deveriam ser assim.
Ainda bem que tenho você, Fael,
Simples como eu, e fim."
Então, Fael se levantou,
Sem uma palavra, dizer.
Naquela manhã, seu futuro chamou.
Mas ele não podia responder.
terça-feira, 13 de outubro de 2015
Sou eu
Liberto das amarras casuais,
Dos medos, e afrontas tão normais,
Tudo que vejo hoje é um belo cais,
Cuja luz, reluz com os corais.
O cansaço consome as energias,
Então, um cigarro eu acendo.
Olho para frente, e vejo vários dias.
Acalmo-me, e ao futuro me rendo.
As costas estão doloridas.
E as pernas estão tremendo.
Mas aprendi que as feridas,
Sempre se curam com o tempo.
Porque sim, sou o que dizem.
Se não fosse, porque diriam?
E já que sou, frisem...
Gosto que me enraízem.
Se sou? Sim sou.
Por favor, continuem a dizer.
Foi assim que um homem se formou,
E assim vai permanecer.
É até o limite.
Até o osso colapsar.
Então não me irrite,
Só me deixe triunfar.
Pois chegou o meu momento.
E é melhor eu aproveitar.
Já não há mais tormento.
É quase hora de comemorar.
Pois um dia, ao relento,
Vou poder ter o que falar.
Dizer que houve um momento,
Que eu quis com tudo terminar.
Mas para manter o meu sustento,
E para não desanimar,
Encontrei o jeito perfeito,
De dar à volta, e ganhar.
Hoje quase sem ar,
Tenho forças para continuar.
De onde, não dá nem para imaginar.
Só me resta aproveitar.
Porque sim, sou o que dizem.
Se não fosse, porque diriam?
E já que sou, frisem...
Gosto que me enraízem.
Se sou? Sim sou.
Por favor, continuem a dizer.
Foi assim que um homem se formou,
E assim vai permanecer.
Posso até dar risada.
Mas que situação terrível...
Quem diria, que essa parada,
Ia me servir de combustível.
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