Na parede, Jesus crucificado;
Na cama, mais um de 'olhos embaçados',
Buscando apagar os próprios pecados.
Pássaros voam,
Mas não ouço som algum;
Gritos ecoam,
Mas aqui, isso é comum.
Meio ano...
Mas que belo plano!
Declaro-me insano,
Deixando a sobriedade por baixo do pano.
Ouço a palestra;
Ouço pela fresta;
Expondo o consciente,
E escondendo o inconsciente.
Penso no que falo;
Não falo tudo que penso;
Vou no embalo,
Do meu coração, sempre tenso.
"Frio e calculista";
Disse meu padrasto.
Diagnóstico de um merda machista,
Que na época, pra mim, deu pro gasto.
Hoje, sem padrasto,
E também sem gasto,
Não me basto,
E me basta pasto.
Em mente, dou risada;
A lembrança da descendência...
A saudade da saideira...
A saudade da dependência...
Em volta, a mesma saudade...
O mesmo medo...
Mas vindo de quem viveu de verdade,
E que sabe que é sempre cedo...
Vamos acordar,
Para morrer;
Vamos nos recuperar,
Para depois ceder.
Ceder, cedo ou tarde;
Aceitar se perder,
E sem alarde,
Voltar a escrever:
Droga, faz-me sentir bem;
Álcool, leva-me além;
Comprimidos, de 0 a 100;
E já não consigo ficar sem.
Me chamam de "culpado";
Me chamam de "chapado";
Dizem que "não tenho jeito";
Que sou o "caos perfeito"...
Mas o vidro não é quebrado,
Se não houver impacto.
Batido ou jogado,
Só quebra, como um pacto:
Um alguém aqui,
Um alguém alí,
Um alguém no além,
E intenções longe do bem.
Hoje, cá estou, indo para uma clínica;
Uma cara triste e cínica...
Pois não posso fugir de mim...
Apenas aceitar que ainda não é o fim.
Aceitar;
Me tratar;
Mudar;
E não me matar.
Pois hoje, tenho quem amar...
E sou amado.
O batalhão "eu" que tenho que desafiar,
Será com alguém ao meu lado.
Limpeza; oração; esporte;
E com clareza, fuga do caixão e morte...
Morte em vida;
Morte em morte;
Encontrar uma saída,
Pra ver o morrer como sorte.
Não sei se nasci assim;
Se existe um prescrito fim;
Sei que, não importando onde piso,
Tentarei levar o tal sorriso.
Se minha vida vale a dela,
Fugirei de toda e qualquer viela.
Se seremos nós, do fim ao princípio,
Matarei o suicídio.
Por isso, aceito a grade;
Aceito o que vier;
Até o sentimento que me invade,
Até que, em mim, não mais couber.
Por isso, aceito o pássaro mudo;
Por isso, aceito tudo;
Por isso, aceito me trancar;
Por isso, aceito não me matar.
Por isso, vou me internar;
Por isso, vou prender o ar;
Por isso, vou olhar, sem admirar,
Tudo que posso transformar.
Abdicar do viver de forma bulímica;
Por isso e porque te amo.
Por isso, estou indo pra clínica,
Por mais meio ano.
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