terça-feira, 7 de junho de 2022

Giz

Abri meus braços para a sobriedade,
Recebi um abraço doído e gelado.
Congelaram-se meu presente e passado,
Revelaram-se meus demônios, como são de verdade.

Caíram as cortinas dos meus olhos.
A névoa se dissipou.
Vi atrás de mim todas as estátuas de sal,
Criarem vida e dizerem: "porque nos deixou?"

A dor pelas coisas que deixei de fazer,
São tão grandes como as de que fiz.
Morrer aos poucos, para me entreter,
Formaram um enorme rastro de chão de giz.

Giz cinza.
Apenas essa cor predominou.
Agora é preciso ter cuidado onde se pisa,
Pois meu arsenal de cores quase acabou.

Me restaram as cores primárias.
Por isso, há esperança.
Posso criar uma nova paleta,
Como a que eu tinha quando criança.

O cinza não será abandonado.
Apenas temporariamente deixado de lado.

M. Cintra
Agosto/2019

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