domingo, 8 de novembro de 2015

Loucura ou hipocrisia

Existe a realidade real,
E a realidade inventada.
Mas o desfecho é igual,
E não é como conto de fada.

Existem máscaras.
Uma para cada ocasião.
Existe um motivo para viver assim?
É uma interna escravidão!

Interna.
Mas causada pela parte externa.
Eterna.
Seja materna ou paterna.

Então se liberte.
Isso sem titubear.
Para que caminhar,
Se você pode voar?

Mesmo sem ar, continuar.
Num bater de asas, decolar.
Ser quem você é, pra variar.
Sem com a opinião alheia, se importar.

O ideal é o meio termo.
É ser um louco consciente.
É agir com a razão,
Mas viver de forma ardente.

Mas aí está o problema.
Está o ópio da humanidade.
As pessoas simplesmente não conseguem,
Mostrar quem são de verdade.

Ou partem para o moralismo,
Ou para a loucura desenfreada.
Arranquem essas máscaras!
A verdade é sua alçada.

Qual é o seu medo?
É deixar de "parecer?
Passe a ser.
Antes que passe a não se reconhecer.

Por isso existem dois caminhos.
E é sua escolha, qual trilhar.
Loucura ou hipocrisia:
Em qual você vai se acabar?

sábado, 7 de novembro de 2015

Chamem o Doutor!


Utopia de ouro,
Amarrada por cintas de couro.
Pensamento emaranhado,
Buscando entender meu estado.

Conquistas passam a vir.
As vitórias, passam a acontecer.
Penso que então, vou poder sorrir.
Mas há muito mais para se entender.

A magnitude é complicada.
E a plenitude, a utopia.
Quando a companheira, é a madrugada,
E a labuta, é durante o dia.

Muita água já rolou.
E muita coisa já foi provada.
O que é que falta então,
Para ter a minha alma lavada?

Aí deito, e fecho os olhos.
Mas dessa vez, não posso entender.
Por favor chamem o Doutor!
Preciso voltar a ver.

Chamem o Doutor!
Estou sonhando demais!
Chamem o Doutor!
Ele trará minha paz!

Chamem o Doutor!
Isso é uma emergência!
Chamem o Doutor!
Quando é alma, tem urgência!

Me imagino ali, sentado,
Naquela poltrona de couro.
Tentando entender meu estado,
E fugindo do matadouro.

Dando muita risada,
Vendo uma hora passar.
As vezes nem tinha piada,
Era rir para não chorar.

E depois de tanta orientação,
E tanta lágrima derramada,
Chegou a hora, então,
De voar, sem sua alçada.

Pois paguei a conta do analista.
Mas hoje, sei quem eu sou.
Sou simplesmente um artista,
Um artista que se suicidou.

Terá para sempre minha gratidão,
Que virá acompanhada de respeito.
Eu caí, e você segurou minha mão.
Nunca vou esquecer este feito.

Hoje, fica só a saudade,
De um tempo que nunca voltará.
E como o único requisito é a verdade,
No sonho, ainda terá o ratatá.

Chamem o Doutor!
Estou sonhando demais!
Chamem o Doutor!
Ele trará minha paz!

Chamem o Doutor!
Isso é uma emergência!
Chamem o Doutor!
Quando é alma, tem urgência!

Chamem o Doutor!
Sei que ele pode me ouvir!
Chamem o Doutor!
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segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Soldado descartável


Todo dia, era rotina,
Assar os dedos no chinelo,
Procurando por emprego,
E só encontrando o farelo.

Que já é o costume,
Em toda a ocasião.
Sempre sobram as migalhas,
Daquele mesmo velho pão.

E depois de tanto não,
A esperança esmoeceu.
Depois de tanta humilhação,
Sua identidade morreu.

Não queria mais aquilo,
Não se reconhecia.
Ele olhava para o espelho,
E da própria cara ria.

Casado com Luara,
É pai de um pivete,
Que tem a sua cara,
De idade apenas sete.

Já está desesperado.
Para ele, é um tormento.
Ele está desempregado,
E deixando faltar alimento.

Muita fome já passou,
Já está acostumado.
Mas não o seu filho.
Este merece mais cuidado.

Então saiu na madrugada,
Em seus princípios, a ruptura.
Sempre correto e íntegro,
Mas hoje, a segurança é na cintura.

Daquele seu vizinho,
Comprou o passaporte.
Para tentar a sorte.
Para encontrar a morte.

Uma da manhã, em Moema.
Tudo certo e esquematizado.
Ele entra, tira tudo do cofre,
E sai sem ser notado.

A porta é arrombada.
E não sai nem um ruído.
Tudo tranquilo até agora,
Ninguém vai sair ferido.

Mas algo deu errado.
Um alarme, começa a soar.
Pela escada desce um gordo suado,
E sem pensar, Fael começou a atirar.

Logo atrás, desceu a madame.
Gritando e apavorada.
Dois estrondos a acalmaram.
Caiu dura e estatelada.

Fria e calculadamente,
Encheu sua sacola de futuro.
Seus princípios, ali ficaram,
Mas agora não ficará no escuro.

Pela manhã, toca o telefone.
E Luara foi atender.
Ficou muda e desligou.
Seus pais tinham acabado de falecer.

Na cama, ela se sentou,
E começou a chorar.
Fael então acordou,
E começou a perguntar.

Luara, indignada,
Ao seu marido, contou:
"Um marginal, sem coração,
Minha família, matou.

Dois tiros em minha mãe,
E em meu pai, foram três.
Apenas para roubar o cofre!
E olha eu, com vocês!

Não ligo para dinheiro!
E todos deveriam ser assim.
Ainda bem que tenho você, Fael,
Simples como eu, e fim."

Então, Fael se levantou,
Sem uma palavra, dizer.
Naquela manhã, seu futuro chamou.
Mas ele não podia responder.

terça-feira, 13 de outubro de 2015

Sou eu

Liberto das amarras casuais,
Dos medos, e afrontas tão normais,
Tudo que vejo hoje é um belo cais,
Cuja luz, reluz com os corais.

O cansaço consome as energias,
Então, um cigarro eu acendo.
Olho para frente, e vejo vários dias.
Acalmo-me, e ao futuro me rendo.

As costas estão doloridas.
E as pernas estão tremendo.
Mas aprendi que as feridas,
Sempre se curam com o tempo.

Porque sim, sou o que dizem.
Se não fosse, porque diriam?
E já que sou, frisem...
Gosto que me enraízem.

Se sou? Sim sou.
Por favor, continuem a dizer.
Foi assim que um homem se formou,
E assim vai permanecer.

É até o limite.
Até o osso colapsar.
Então não me irrite,
Só me deixe triunfar.

Pois chegou o meu momento.
E é melhor eu aproveitar.
Já não há mais tormento.
É quase hora de comemorar.

Pois um dia, ao relento,
Vou poder ter o que falar.
Dizer que houve um momento,
Que eu quis com tudo terminar.

Mas para manter o meu sustento,
E para não desanimar,
Encontrei o jeito perfeito,
De dar à volta, e ganhar.

Hoje quase sem ar,
Tenho forças para continuar.
De onde, não dá nem para imaginar.
Só me resta aproveitar.

Porque sim, sou o que dizem.
Se não fosse, porque diriam?
E já que sou, frisem...
Gosto que me enraízem.

Se sou? Sim sou.
Por favor, continuem a dizer.
Foi assim que um homem se formou,
E assim vai permanecer.

Posso até dar risada.
Mas que situação terrível...
Quem diria, que essa parada,

Ia me servir de combustível.

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Pai

Ontem a noite, eu dormi,
Mas não tive pesadelo.
Isso é raro acontecer,
Então levantei ligeiro.

Era como se você estivesse aqui.
Como se pudesse me amparar.
Como se você fosse existir.
Começar a se honrar.

Mas não.
Como sempre, era ilusão.
Para então,
Sentir a grande decepção.

Onde está você agora?
Onde esteve você quando precisei?
Você dirá que vem na hora,
Mas depois dirá: "me atrasei".

Tenho um script em mente.
Já está até formalizado.
Você não vem, e mente.
Chega. Isso me deixou irritado.

É hora de falar.
Pois para algo deve servir.
Nem que seja para vomitar,
Esse dom que insiste em existir.

As palavras encaixam como vento.
Não preciso nem me esforçar.
Apenas sento e fico vendo,
O meu cérebro funcionar.

Impulsionado por emoção,
Minhas mãos, começam a tremer.
Pois finalmente chegou a ocasião,
Que o mundo vai me conhecer.

Quando disse seu nome,
Você não apareceu.
Recebí sim seu e-mail,
Valeu, mas já fudeu.

Quando disse o seu nome,
Você não apareceu.
Já nem lembro seu nome,
Pra mim você morreu.

Você sabia que sonho com você?
Sabia que a maioria é pesadelo?
Sabia que sinto falta de você?
E que pra mim, isso é um desespero?

Não pela falta, 
Apenas por sentir.
Não há merecimento.
Por isso algo está por vir.

Isso não é uma revolta.
Não, não estou revoltado.
É só que tudo tem volta,
Eu só não ia ficar calado.

Porque eles tem que te conhecer.
Tem que ao menos questionar.
O Grande Homem vai ver,
Que eu não preciso dele pra brilhar.

Se é pra jogar na cara,
Então vamos brincar:
Natasha ou Askov?
Só não vale vomitar.

Não se sinta intimidado.
Essa não é minha intenção.
Hoje me sinto honrado,
De emergir da escuridão.

Hoje eu sigo meu caminho.
Não preciso me decepcionar.
Mesmo no buso lotado e sozinho,
Meu coração está a se remendar.

Quando disse seu nome,
Você não apareceu.
Recebí sim seu e-mail,
Valeu, mas já fudeu.

Quando disse o seu nome,
Você não apareceu.
Já nem lembro seu nome,
Pra mim você morreu.

sábado, 29 de agosto de 2015

Sangue nos olhos

Sem neurose,
Eu vou começar a falar.
Já se entrose,
E comece a me escutar.

É muito pra dizer,
Tanto pra desabafar,
Que a forma que encontrei,
Foi simplesmente vomitar.

Um líquido amargo e viscoso,
E de se admirar.
Sem ar, ele é famoso,
Por sempre aliviar.

Um cara como eu,
É difícil derrubar.
É preciso muito mais,
Pra me abalar.

Pra me fazer desistir,
E me fazer renunciar,
Do que tenho a usufruir,
Do que ainda tenho a conquistar.

Pois sei do meu potencial.
E ele não é pequenininho.
Só com metade da letra,
Eu estraçalho seu mundinho.

Que gira em torno de você,
Somente de você.
Nada mais te importa?
Ainda vai se esconder?

Já não há mais ódio em mim.
Mas também não há amor.
As coisas funcionam assim,
E esse é o preço da dor.

Já levei muita porrada,
E a visão ficou embaçada.
Gerou o sangue nos olhos,
Que hoje guia a caminhada.

E assim me sinto agradecido,
Por cada olho ferido,
Que me torna muito mais,
Do que só um moleque fodido.

E eu ainda vou provar,
Que é real minha Utopia.
E que é possível sim amar,
Sem qualquer tipo de ironia.

Sem nenhuma intenção,
E sem interesse nenhum.
Sempre em prontidão,
Para fugir do comum.

Perguntas tenho várias.
Mas nenhuma tem resposta.
Já que a sua covardia,
Sempre te mantém de costas.

Mas devo lhe agradecer.
Sim, você ouviu direito.
Eu tiro a estaca do meu peito,
Para enfím sobreviver.

Obrigado pela ausência,
Me forçou a caminhar.
A sua falta de assistência,
Fez eu me acostumar,

A ter calos em meus pés.
É calejar de tanto andar.
Valeu pela covardia,
Já sei o que não vou virar!

Já levei muita porrada,
E a visão ficou embaçada.
Gerou o sangue nos olhos,
Que hoje guia a caminhada.

E assim me sinto agradecido,
Por cada olho ferido,
Que me torna muito mais,
Do que só um moleque fodido.

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Epilepsia

-
Finalmente nos encontramos.
Aqui, face a face.
A temida parte de mim,
Que sempre se mantinha em disfarce.

Alí, escondida.
Camuflada.
Perdida.
Descontrolada.

Ainda sinto vergonha,
Dos inúmeros olhos esbugalhados.
Parece quando a gente sonha,
E acorda apavorado.

Suado, e sem entender.
O que é que tinha acabado de acontecer.
Porque é que eu era o centro da atenção,
Sendo que dessa vez nem planejei a situação?

Confuso,
Com pensamentos emaranhados.
Sob o uso,
Dos espíritos renegados.

Seria um carma,
Se fosse essa minha crença.
Mas é só a janela da alma,
Que as vezes berra por inocência.

Seria sim só um carma.
Mas não sou religioso.
É só a janela da alma,
Expulsando o calaminoso.

Misticismo envolvido.
E eu cismo que faz sentido.
O Pajé, era escolhido,
Pelo seu cérebro ferido.

Ou a penitência por sentir,
Também é uma opção.
As vezes é se esbaforir,
De tanta diferente emoção.

De qualquer forma, aceitei.
Até já me acostumei.
O pote enche, e eu já sei:
Logo menos, transbordarei.

E desta forma, é só uma,
Uma única pessoa,
Que me conhece por completo,
Que conhece a minha garoa.

Que sabe o que é o medo,
O medo de mim mesmo.
O medo de ter medo,
E assim, demonstrá-lo.

Por isso, seria um carma,
Se fosse essa minha crença.
Mas é só a janela da minha alma,
Que as vezes berra por inocência.

Seria sim só um carma.
Mas não sou religioso.
É só a janela da alma,
Expulsando o calaminoso.

Hoje te confronto,
E sou eu quem desafia.
Só aceito e pronto:
Me beneficio da Epilepsia.


domingo, 9 de agosto de 2015

Buraco

Sem exemplo.
Sem orientação.
Sem ninguém pra imitar,
Só para pedir perdão.

E não, não havia opção.
Era sempre uma rotina.
É impressionante,
Como o álcool te domina.

Como você se enrola.
Que dó.
Voltará para lá.
Pro pó.

Nojenta a indiferença.
Mas sei que sua alma lamenta.
Pois presa a sete chaves,
Ela grita em tormenta.

Por não conseguir ser pai.
Por não representar o papel.
Agora coloca o rabo entre as pernas, vai,
E venha contar o seu encantado cordel.

Só nunca venha pedir perdão.
Pois eu não te odeio mais.
Sinto um vazio no coração,
Um buraco que nada satisfaz.

Só por favor não venha pedir perdão.
Pois não, eu não te odeio mais.
Sinto um vazio no coração,
Um buraco que nada satisfaz.

Calor paterno, faz falta.
Eterno no interno do interno,
Que no inferno arde o materno.
E assina agora o caderno.

Passa fome?
Passa sede?
Mas, presa o nome?
Dorme na rede?

Anda dentro do carro importado?
Prefere o biscoito amanteigado?
Mas pra pensão, está endividado?
Na minha visão, é o eterno coitado.

Falta faz.
Capataz.
Jamais.
Será mais.

Jamais. E mais,
Só nunca venha pedir perdão.
Pois eu não te odeio mais.
Sinto um vazio no coração,
Um buraco que nada satisfaz.

Só por favor não venha pedir perdão.
Pois não, eu não te odeio mais.
Sinto um vazio no coração,
Um buraco que nada satisfaz.

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Ia...

Ficava sempre no Ia.

Imagina só a agonia.
Dependente de poesia.
Escrever, que ironia,
Me tirou da apatia.

Houve até um dia,
Em que o povo apenas ria.
Se divertia enquanto via,
A destruição da interna sacristia.

E eu só assistia,
Enquanto meu presente sucumbia.
Enquanto eu simplesmente desistia.
Enquanto eu não ia.

E foi preciso acrobacia,
Utilizar minha grafia,
Para ter de volta a alegria,
Que eu já tive um dia.

Hoje a minha alergia,
É somente ter fobia.
Da época em que eu não vivia,
E apenas sobrevivia.

E na completa apatia,
Sei que me contentaria,
E feliz eu ficaria,
Com qualquer aposentadoria,

E em toda noite fria,
Vinha a comum taquicardia,
Acompanhada da arritmia,
No compasso da agonia

Mas hoje, sem anestesia,
Foi feita a cirurgia.
Acabou a putaria,
É suar, sem cortesia.

E no ritmo da dor,
Lento e dançante
Que me acompanhe o amor,
Nesta dança alucinante.

terça-feira, 14 de julho de 2015

15 de fevereiro


Hoje abri os olhos,
E era 15 de fevereiro.
Como sempre, fui lavar o rosto,
E me olhar no espelho.

Era quase uma rotina,
Ver meu reflexo todo dia.
Era pra ver o tempo passar,
Pra amenizar a agonia.

Eu nada via além de branco.
Era branco pra todo lado.
Era tanto branco,
Que eu ficava enjoado.

Então rodei a maçaneta,
Em busca da minha utopia.
Saí, e consegui a faceta,
De se destacar, inundado em ironia.

Imerso em minha própria mente,
Vivo meus sonhos, descontroladamente.
Sempre ouço a voz eloquente,
Que sempre mente, incessantemente.

Saindo do quarto, eu caminho.
Converso com rostos conhecidos no corredor.
Mas eles nunca me respondem,
Devem sempre estar de mau humor.

Chegando na cozinha,
Tomo minha medicação.
O bom e velho comprimido
De composição, alienação.

Eu tento sorrir.
Mas prendo as lágrimas em vão.
Eu tento sorrir,
Mas choro com minha decisão.

Então, vou vai para o jardim.
Lá, é meu refúgio.
Lá, não existe fim.
É meu interno subterfúgio.

Antes de chegar,
Eu colho algumas flores.
Minha amada vou encontrar,
E aliviarei minhas dores.

Ao vê-la, não tive dúvidas.
Decidimos viajar.
Aproveitar cada segundo,
Sentir a brisa do mar.

Entramos em meu iate,
E fomos até Fernando de Noronha.
Fomos até uma praia de nudismo,
Ela não ficou com vergonha.

Viajamos de helicóptero,
E depois de submarino.
E ainda demos esmola
Para vários meninos.

Subimos na Torre de Pisa,
Para assistir o por do sol.
Eu estava sem camisa,
Pois ela a usava de lençol.

Para terminar nosso encontro,
Fomos para um pomar.
Para então chegarmos ao ponto,
De deitar, e se amar.

Então deitei ao lado dela.
Embaixo de uma macieira.
E comecei a contar pra ela,
Que todo o resto, era besteira.

Mas olha quem vem lá.
São os monstros de avental.
Com a seringa na mão,
Querendo me fazer mal.

Precisava correr.
Não queria morrer.
Não de novo.
Não diante do povo.

Mandei minha amada correr.
E lhe entreguei as flores.
Mas ela quis simplesmente desaparecer,
Ela não consegue segurar as flores.

Porque ela nunca segura as flores?
Porque não consigo abraçá-la?
Porque nunca sinto seus odores?
Porque ela não fala?!

Ela foi embora.
Os monstros de avental me seguraram.
Olhei, e imaginei a aurora.
Senti a picada, e meus ombros desabaram.

Me restava consciência.
Um pouquinho, mas restava.
Que decadência.
Só nela eu pensava.

"Cinco doses de Dormonid",
Foi a última coisa que ouvi,
Da boca do monstro de avental,
Que me colocou para dormir.

A saudade toma conta.
Dói cada vez mais.
Viver, tem sido uma afronta.
Não quero viver mais.

Porque ela nunca segura as flores?
Porque não consigo abraçá-la?
Porque nunca sinto seus odores?
Porque ela não fala?!

Já é anoitecer.
E o quarto ainda está branco.
Não vejo a hora de amanhecer,
Para ir no jardim e sentar no banco.

Essa hora, costumo ouvir gritos.
Dizem que é uma tal de lobotomia.
Mas não tenho medo não...
Regina vai me tirar daqui, um dia.

As pessoas aqui são estranhas.
Todos vestem a mesma roupa.
Sinto tanta falta de Regina...
Não aguento mais tomar sopa.

Insistente, espero acordado.
Pois já é quase hora do galo cantar.
E com Regina, tenho um combinado:
Dia 15 de fevereiro, ela vem me visitar.

De noite, a janela tem grades.
E aquela seringa, me deixa esquisito.
Eu não amo, e nem sinto dor.
Ela traz a ausência de conflito.

Então, o galo canta no poleiro.
Correndo, olho para o calendário.
Vejo que é de novo 15 de fevereiro,
Tem sido assim a tempo pra caralho.

Já estou aqui a 10 anos,
E é sempre 15 de fevereiro.
Desde que capotei o carro,
É 15 de fevereiro.

Porque ela só me olha?
Porque o brilho dela escureceu?
Regina,  meu amor,
Ainda não acredito que você morreu.

Era 15 de fevereiro.
Estávamos indo viajar.
Eu não devia ter bebido.
Fiz Regina se machucar.

E agora, me resta esperar.
Já me arrumei inteiro.
Vou para o banco viajar,
Pois é 15 de fevereiro.

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Muita treta

Não agir como um covarde.
Assumir na terra, sua missão.
Com calma, e sem alarde,
Sem aceitar a atual condição.

Olhar em volta,
E não se sentir fazendo parte.
Como a pichação no bairro nobre,
Que nunca vai deixar de ser arte.

Viver, sem tremer.
Sem deixar a perna amolecer.
Sem ceder.
É fazer acontecer.

Criar raízes no chão.
E manter a tremedeira.
Mas que ela não te impeça, irmão,
De se aquecer na sua lareira.

Viver é muita treta.
É caminhar sobre espinhos.
É precisar de uma luneta,
Para enxergar os caminhos.

Viver é muita treta.
É um raio ultravioleta.
É o transformar da borboleta.
É o estrondo da escopeta.

A liberdade de escolha,
A autonomia.
Hoje é desprezada,
Pela maioria.

E a minoria,
Nunca é escutada.
Ilusão minha que um dia,
Será ajudada.

Quem está no madeirite,
Não tem muita opção.
Ou vira um Dentinho, um grafite,
Ou se contentará com o arroz e feijão.

Muita treta.
É a arte de viver.
Fica aí, capeta:
Meu sangue, você não vai beber,

terça-feira, 30 de junho de 2015

Cinco minutos no centro


Uma alma doente vaga.
Persistente.
Apenas segue em frente.
Inerente, sem nenhum medo aparente.

Sem ente querido.
Vagando sem sentido,
Depois de tudo que foi sentido,
Mas nunca ouvido.

Segue a vertente eloquente,
De ser um louco inconsciente.
Um tanto quanto inconsequente,
Já nem se sente indecente.

Descalço, com o pé cheio de bolha.
Vagando, com o olho trincado.
Janela da alma, imagem distorcida
É esse o reflexo do Diabo.

Conversando com a estátua na sé.
Que sina dolorosa, né não?
Ali, parado de pé,
Trocando uma ideia com Don João.

O homem fabricou o fel.
Que fumado, é melhor do que mel.
Te faz subir, e tocar o céu.
E depois, de Satã virar réu.

Zumbis, que perderam o essencial.
A boa e velha capacidade de escolher.
Seres que vêem como dia especial,
O dia em que vão morrer.

Ciente de que é o remanescente,
Mente, sempre cordialmente.
Para com a lata, finalmente,
Se firmar como indigente.

Cinco minutos no centro.
É só olhar ao redor.
Verá indiferença ao relento,
Verá sangue mesclado com suor.

Cinco minutos no centro.
Não precisa de muito mais.
Para perceber que está tudo errado.
Que estamos andando para trás.

quinta-feira, 25 de junho de 2015

Se entregue

Quando você olha pro horizonte,
E nada vê além de dor,
E quando nem sequer tem a ponte,
Para atravessar até o amor,

Fica difícil continuar.
Nesta trilha caminhar.
Sem o próprio brilho ofuscar,
E a neblina te cegar.

Mas a escuridão,
Nunca é eterna.
Pois nessa caverna interna,
O ceifeiro da morte hiberna,
Esperando a oportunidade
Para te puxar pela perna.

Então se interna.
No seu próprio pensamento.
Seja livre.
Voe a todo momento.

Crie asas.
Tente no céu aprender a voar.
Sobre as casas,
Sem no fel se esborrachar.

Quando doer,
Se entregue a dor.
Quando amar,
Se entregue ao amor.

Se sofrer,
Se entregue as lágrimas.
Se cair,
Se entregue as lástimas.

Viva a porcentagem completa.
Sem essa de 50%.
Viva como vive o poeta,
Que no momento, caminha contra o vento.

Arrisque.
Se ergue.
Ou não petisque,
E se entregue.

A escolha é simples.
Sem muita enrolação.
Ou cresce, e se entrega ao viver,
Ou morre na completa enganação.

Seja gostoso, seja doído,
Apenas viva.
Para que o gosto, deste fluído,
Não faça com que você só sobreviva.

terça-feira, 16 de junho de 2015

Resistência Sombria


O furacão já passou,
A ventania já parou.
O terremoto estagnou,
E o maremoto já secou.

Só sobraram cicatrizes,
Que doem e rasgam.
Por ela e suas meretrizes,
Que nem ao menos disfarçam.

E esse odor?
É o calor,
do fervor,
Do medo queimando o amor.

Mas e aí?
Vai parar?
Diante disso,
Você vai estagnar?

Vai deixar,
De lutar,
Vai deixar,
Se derrubar?

O medo é constante.
Com o dedo apontante.
Que faz com que o andante,
Tenha a fé distante.

Queira desistir.
Queira regredir,
Queira sucumbir,
E a babilônia, se atrair.

Mas eu sou a Resistência Sombria.
Pois é, irmão, quem diria.
Que um dia, toda essa sombra ia,
Me ajudar, a chegar na interna soberania.

A visão sempre de adapta.
A qualquer, qualquer situação.
Prova disso é todo o meu presente.
Enxergando, na completa escuridão.

O tato também é aumentado.
Para tatear, sem tontear.
Tocar o teto, do teu templo interno,
Para tua alma, tu lavar.

Os pensamentos, estão purificados.
Mesmo com o antes, cheio de talho.
Eu tô em paz, mesmo com o legado:
"Sozinho eu penso merda pra caralho".

Por isso digo, sou a resistência.
Resisto a todo o momento,
Mesmo com a alma pedindo clemência,
Crio raízes, e resisto ao vento.

Quando a dor vira aliada,
E a solidão, sua companheira,
Nesse mundo, não há mais nada,
Que te deixe na cegueira.

Que se inicie a minha Utopia.
Interna e verdadeira, irmão.
Pois 'quem tem pensamento forte já diria
Que o impossível é só questão de opinião'

segunda-feira, 1 de junho de 2015

Escalada


Quantas vezes tive a fé abalada.
Quantas vezes me perdi na solidão.
Quantas vezes minha voz foi calada,
Em prol de uma desconhecida multidão.

Quantas vezes, durante a madrugada,
Senti um calafrio escaldante.
E ajoelhei, de boca calada,
Implorando por mais uma chance.

Tudo se trata de dor.
E porque não chorar?
Lágrimas lavam o amor,
E inundam todo o pesar.

A luta é constante.
E o suor é a consequência.
Por isso grito: AVANTE!
Não há tempo para desistência.

Um aleijado caminhando.
A determinação é minha muleta.
Um cego enxergando.
Pois escrevendo, vejo de luneta.

O caminho é estreito.
E cheio de armadilha.
Cada vez que escapo,
Minha alma brilha.

Em mim mesmo, preciso ter fé,
Pois é dura a caminhada.
Mesmo que descalço, e a pé,
Preciso continuar a escalada.

domingo, 17 de maio de 2015

Desabafo de Vivi - Poesia pró-feminista

Isto é só um desabafo.
É só o cotidiano.
É sempre a mesma coisa,
Durante todo o ano.

Desde que nasci,
Me ensinam padrões.
Falam sempre: "Vivi,
Pare de usar estes blusões!"

"Não beije a boca de ninguém!
Vista agora sua batina!
Onde já se viu, meu bem,
Isso não é coisa de menina!"

"Não use batom vermelho!
Não ande só pela cidade!
É só não se olhar no espelho,
Que você esquece sua identidade."

Isto é só um desabafo,
Não pretendo mudar nada.
Ninguém nunca ouve,
E ainda fazem piada.

Me mandam lavar a louça.
Parar de bancar a louca.
Falam: Feminismo é o caralho,
E em meu peito, fazem um talho.

Pois não dá pra entender.
Mesmo emprego do namorado, acredite
Trabalhando o dobro, sem querer,
E não ganho nem metade do seu olerite.

Tentando entender o porque,
Escuto a brilhante explicação:
Você é mulher, aproveita!
Vai lá e dá pro seu patrão!

Me proíbem de ser eu.
Me restringem o espaço.
Querem tomar o que é meu,
E depois me dar um abraço.

Não posso usar saia,
Nem muito menos decote.
Pois se não será culpa minha,
Quando na rua derem o bote.

Vão dizer que procurei.
Que minhas roupa é culpada.
Colocarão como rei,
Quem me chamou de violada.

Vivi, faça isso.
Vivi, faça aquilo.
Vivi, não viva.

É essa a solução?
É minha única opção?
Viver sob repressão,
E aceitar essa condição?

Não, não é não.

Eu prefiro tentar e lutar.
Não vai rolar abafo.
E se nada der certo,
É porque foi só um desabafo.

sexta-feira, 13 de março de 2015

Guerreira Padroeira e a Chuva de Verão.


Seu sorriso está na minha mente,
Mesmo com sua dor recente.
Lembro do abraço puro e caloroso,
Que tornava tudo mais gostoso.

Ultrapassou muitos obstáculos,
E busca constante crescimento.
Para isso questiona os oráculos,
Atrás de conhecimento.

O que sinto por você não é explicado.
Não é algo normal.
Nossa ligação vem do passado,
Vem do cordão umbilical.

Mais complicada que amar,
É a nossa relação.
Que apesar do pesar,
Resiste à escuridão.

Elo que jamais será quebrado,
Mesmo que intencionalmente.
Pois nosso destino está selado:
Amar um ao outro incondicionalmente.

Estarei distante e vigilante.
Mas somente fisicamente.
Pois diante da distancia agonizante,
Meu coração estará presente constantemente.

E tenho certeza que o seu também está.
Pois não é uma opção.
Nunca foi,
E nunca será.

Guerreira Padroeira,
Peço perdão, pois te fiz chorar.
Mas mostrarei que toda essa poeira,
Ainda vai abaixar.


O céu está negro e o mundo inundado.
Mas não há porque se desesperar em vão.
Eu decido se deixo tudo alagado,
Ou se é apenas chuva de verão.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Prisão das emoções


A emoção implora por ajuda.
Nos olhos, aumenta a vermelhidão.
Silenciamento que a deixa muda,
E corrói a mais pura emoção.

Se a prisão perpétua for sentenciada,
O processo de crescimento parará.
Quanto mais tempo for silenciada,
Mais profundamente, te matará.

Ela lava a alma de pecador,
E enche de vida o inocente.
Traz a honra ao lutador,
Dá significado ao dolente.

A dor é inevitável.
Mas o sofrimento é opcional.
Prendê-la é inaceitável.
Morrer em vida é o resultado final.

Aprenda com a dor.
Prenda a respiração.
Aprenda a sentir o amor.
Prenda a obsessão.

Mas não prenda a lágrima.

sábado, 17 de janeiro de 2015

Desfibrilador na esperança


Bisturi sobre a mesa,
Médicos em prontidão,
Para abrir sua cabeça,
Sem dele, a permissão.

Está sedado e tonto,
E já é meio dia.
Está tudo pronto,
Para começar a lobotomia.

Fechou os olhos, aceitando seu destino.
Pensando em tudo que deixou de fazer.
Mas se lembrou que já não é um menino.
E que nada daquilo precisava acontecer.

Se livrou das amarras,
Com uma força sobrenatural.
Acompanhado de anjos disse:
Eu não sou um animal.

Os médicos abaixaram a cabeça.
A porta da minúscula sala se abriu.
E por mais difícil que pareça,
Ele finalmente sorriu.

Um sorriso de confiança.
Um sorriso de paz.
Por ter pagado sua fiança.
Por saber que é capaz.

Pensou na lobotomia.
Pensou em quanto perderia.
Pensou em quanto se arrependeria.
Pois apagaria, tudo o que já foi um dia.

A tortura, nunca mais o dominou.
Sua luz brilha como uma criança.
Pois o único choque que tomou,
Foi do desfibrilador na esperança.