Na esquina escura,
Com a névoa me anonimando,
Me desfaço de meus sonhos.
Ouço ela me chamando.
Não recuso o chamado.
Sempre digo que fui tentado.
Tudo por mais um trocado.
Mais um amor implorado.
Valores vendidos.
Crenças atropeladas.
Um teatro divino.
Uma vida bem traçada.
Não é amor.
É prostituição.
Se há vício em sentir dor,
Que comece a recuperação.
Se não há reciprocidade,
Nem sequer, uma vontade,
Se é eterno estado de calamidade,
É, comigo mesmo, muita maldade.
Mas insisto no pecado.
"Otário", seguro a placa.
Já estou quase sem dedos,
Por esmurrar ponta de faca.
Há um glamour no sofrer.
É poético.
Mas quando é como morrer,
Faz orar o mais cético.
Se há ódio no pensar,
É falso o brilho no olhar.
Se há medo no falar,
Não tem porque continuar.
Como fazer para não te amar?
Como esquecer e perdoar?
Se eu sei, que no tardar,
Não vou mais conseguir te encontrar?
Eu era só um corpo a venda.
Mas você me desvendou.
Você comprou minha alma,
E nunca mais me pagou.